Skip to content
A música conecta

Papo de Estúdio | Audição é o instrumento de trabalho do músico

Por Andrea Soares  | CRFa – 2 -11424

Sou fonoaudióloga e apreciadora de música eletrônica e fui convidada para falar um pouquinho sobre saúde auditiva. Não apenas no trabalho, mas em momentos de lazer tenho contato com músicos e DJs. Circulando pelas festas em São Paulo percebi que poucos profissionais fazem uso de protetores auditivos. Mas é mesmo importante o uso constante? Sim! Levando em consideração que parte dos leitores do portal produzem música eletrônica, ou são DJs, a audição torna-se um instrumento de trabalho importantíssimo.

Segundo dados da NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health), o ouvido humano suporta até 85 decibéis por um período máximo de 8 horas. A partir daí o ouvido começa a ser lesado de forma irreversível. O grande problema dos produtores e DJs é a frequente exposição a sons elevados. Não só muitas horas de exposição por festa, mas diversos eventos na mesma semana. Não há descanso para o ouvido. Não importa o tempo de exposição ao som. O que importa é a intensidade do som durante este período.

A música é uma experiência agradável sendo difícil associá-la a um risco. Queixas como presença de zumbido, aquele apito chato no ouvido ou na cabeça, sensação de ouvido tampado, desconforto a sons e redução na acuidade auditiva são comuns entre esses profissionais. A exposição a níveis de pressão sonora (NPS) elevados é uma das principais causas de perda auditiva.

A música eletrônica é uma forma de arte complexa, exige um alto conhecimento técnico e audição perfeita, principalmente para aqueles que trabalham em estúdios criando e mixando músicas. É fundamental que o artista esteja se sentindo confiante em relação a sua audição, dependemos dela para se ter segurança se um som, uma mix estão soando bem ou não. Nesse processo é necessária uma audição apurada. Os produtores musicais e DJs devem cuidar da audição da mesma forma que muitos cantores cuidam de sua voz.

Fazer música é pra ser divertido, um prazer! Então algo está errado se durante o período no estúdio, ou após uma noite tocando, um zumbido constante acompanha. Perceber zumbido é um sinal de alerta que seus ouvidos estão sofrendo por conta do excesso de pressão sonora. Para aqueles que têm a audição como instrumento de trabalho o cuidado deve ser diário.  Seguem algumas dicas de como cuidar do seus ouvidos:

  • Uso regular de protetores auditivos com filtro são os mais recomendados para os DJs e outros profissionais da música. Atualmente esses protetores apresentam alta qualidade sonora. Podemos escolher entre diversos tipos de protetor e diferentes atenuações.
Crédito: Alpine Hearing Protection
  • O modelo mais adequado é o personalizado, feito com molde no formato da orelha do paciente. Além de trazer maior conforto, o que ajudará aumentar o tempo de uso, veda melhor o ruído externo e todo som entrará apenas pelo filtro sendo reduzido sem distorções.
Créditos: Sensaphonics
  • Existem opções mais econômicas que conseguem manter a qualidade e definição das opções mais caras. A diferença é o encaixe feito com molde universal, tamanho padrão para todas as orelhas. 
Créditos: Earpeace
  • A atenuação varia de acordo com a marca, mas normalmente temos atenuação de 9dB,15dB e 25dB. A escolha do filtro deve acontecer de acordo com a necessidade de cada profissional. Para DJs recomendo o uso de filtro flat com atenuação de 15dB. A proteção depende da correta colocação dos earplugs, assim como da frequência de utilização. Uma dica é entrar no evento com os protetores encaixados, assim não percebe a atenuação apenas na hora de tocar.

 

  • O acompanhamento fonoaudiológico ajudará o músico a receber a orientação de qual é o protetor mais adequado para ele, qual a melhor atenuação para determinado contexto e acima de tudo para tentar resolver os problemas com que o músico se depara. Este acompanhamento irá minimizar as desistências de uso, visto que a maior parte dos músicos desiste por falha de adaptação.

 

  • Os monitores in-ear podem ser moldados de acordo com cada paciente, de forma que o encaixe seja mais confortável e vede o som externo, reduzindo assim o nível de pressão sonora dentro do ouvido.  Mas atenção, o volume deve ser ajustado para não prejudicar a audição. O ideal é sempre buscar a melhor relação custo/benefício sem deixar a proteção de lado.

 

  • Quem gosta de música escuta também no dia a dia. O uso de fones de ouvido deve sempre respeitar a intensidade recomendada. Prefira sempre os fones com redutor de ruído de forma que você não aumente o volume para competir com o ruído externo.

 

  • A exposição ao ruído afeta prioritariamente a audição nas frequências entre 4 e 6KHz.

 

  • A presença de zumbido afeta cerca de 70% de DJs. Os sintomas auditivos podem desencadear dificuldades adicionais na percepção da frequência, da intensidade, da duração, do timbre assim como diminuição do alcance auditivo. Uma dica muito importante: evite colocar o retorno da cabine no volume máximo desnecessariamente durante suas apresentações.

 

  • A função auditiva dos músicos deve ser avaliada regularmente. O ouvido humano detecta sons de 20Hz a 20KHz. A audiometria convencional avalia até 8KHz. O recomendado é realizar audiometria de alta frequência de forma a monitorar a audição desse profissional de forma mais abrangente e assim identificar alterações numa fase inicial. Nunca faça uma avaliação audiológica logo após exposição a sons intensos.

 

Para finalizar este conteúdo ressalto que durante o processo de produção musical não se faz necessário o uso de protetores auditivos. A recomendação é não colocar o volume dos monitores no máximo, mas sim manter em um volume confortável que seja suficiente para ouvir os elementos de sua música.

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024