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A música conecta

Papo de Estúdio | Stanccione fala sobre a perfeita combinação da House Music e samples

Por Laura Marcon em Papo de Estúdio 10.03.2020

Um dos nomes mais comentados no universo da discotecagem e produção musical da House Music brasileira nos últimos tempos, o paulistano Caio Stanccione tem entregado uma sequência de faixas que percorrem as melhores pistas do país, tocadas pelos DJs mais respeitados do estilo. Sua mais nova obra é o EP Quintana assinado por ele para o projeto da Get Physical, o Cocada, que será lançado dia 20 de março deste ano.

Por aqui, Caio é o responsável pelo nosso novo episódio da série Papo de Estúdio falando sobre uma junção mais que perfeita e que ele entende muito bem: House Music e Samples. O artista dá ótimas dicas para quem deseja se aprofundar mais nesse assunto:

Caio Stanccione

First things first! O que é Sampling? O termo inglês Sampling é o ato de se utilizar um trecho de gravação como instrumento em uma composição. “Então quando se grava um instrumento, você o está sampleando?” Tecnicamente não, Sample traduzido para o português é amostragem, logo, entende-se que o ato de sampling (ou para nós, brasileiros, samplear) está ligado a utilização de pequenos trechos de gravação, podendo ser elementos rítmicos, harmônicos, um trecho de uma música inteira, um discurso, enfim, basicamente qualquer som gravado pode ser um sample.

O Sampling teve seu grande boom na década de oitenta com a explosão do hip-hop no Estados Unidos, porém antes disso, Pierre Shaeffer na década de quarenta já executava experiências com colagem de áudio. Ele utilizava cortadores de disco para gravar sons que ele julgava interessante como trens e máquinas em funcionamento. Essa forma inusitada de se fazer música veio a ficar conhecida como Música Concreta. Podemos dizer que o espaço entre Pierre e o Hip-Hop foi preenchido por artistas como Stockhausen, James Tenney, Kraftwerk, Pink Floyd e até mesmo Beatles.

Toda vez que entro em estúdio, a primeira coisa que eu faço não é ligar o computador e abrir minha DAW, eu ouço música. Separo alguns discos para ouvir, nunca os que uso pra tocar e sim os que tenho em coleção com meu irmão e meu pai. Rock, MPB, Jazz, Soul/Funk/RnB etc.

Porém, a forma que vou ouvir esses discos é diferente de somente entreter e aí vai a minha primeira dica: 

Ouça o que não foi feito para ser ouvido

Sempre que você for samplear alguma música, de prioridade para as partes menos óbvias da peça. Os elementos que te darão menos trabalho na hora de se reutilizar moram em “respiros” que eventualmente podem ter durante a música como uma virada de bateria, que é excelente para extrair pratos, caixas, tons, ou na introdução que dependendo do estilo, você consegue sacar instrumentos como sintetizadores, metais, pianos etc.

Após ter definido quais discos e quais partes serão sampleadas, o passo seguinte é gravar e com isso a próxima dica:

Elimine qualquer chance de interferência ou redução de qualidade durante o Sampling.

Um dos segredos para se ter uma boa qualidade no resultado final é ter o início muito bem executado. Por exemplo, para se ter uma excelente gravação de guitarra, você vai precisar de um bom cabeçote/caixa e microfone específico para isso (além do instrumentista, é claro) e na hora de samplear não é diferente. 

Aqui no estúdio, sampleio meus discos através dos meus Technics SL1200 MK2, porém eles são configurados de forma diferente da que eu uso pra tocar. Uso slipmat de cortiça ao invés de feltro, isso reduz a ressonância do tocadisco no vinil, tendo uma reprodução mais fiel do disco, além de também trocar as agulhas, agulhas para discotecar são as Shure M44-7 e para samplear eu uso uma Ortofon Nightclub MKII que tenho somente para isso.

Caso você queria samplear algo não tem um toca-disco ou mesmo o disco, a dica que eu dou é usar um software chamado Audio Hijack. Ele é um app que permite você gravar o áudio gerado pelos outros apps da sua máquina como, Google Chrome, Spotify, etc. É bem simples: Abra o app, de play na música e happy sampling!

Domine o seu sampler

Agora vem a hora divertida, por a mão na massa! Tão importante quanto gravar da melhor forma possível seu sample, é saber manuseá-lo. DAWs como Ableton Live e Logic Pro possuem samplers magníficos com uma infinidade de possibilidades para o manuseio como Pitch Envelope, Filter Envelope, Transpose, Pan,etc. 

Antes de você carregar seu sample com compressores e equalizadores, lembre-se que você já está trabalhando com um áudio finalizado, então foque em dar característica ao seu sample através de modulação do que simplesmente re-mixar ele dentro da sua música.

Um sampler que uso muito além do Simpler que é nativo do Ableton Live, é o CMI V da Arturia. Desde o início do ano eu passei trabalhar meus samples através de uma Akai MPC1000 e eu recomendo muito que se você puder ter uma, tenha!

Aceite o que o sample te entrega

Não perca horas e horas tentando consertar algo que não é para ser consertado. Se o sample não está soando bem dentro do seu arranjo e você não quer abrir mão dele, tente trabalhar com camadas. Você pode tentar colocar um elemento que tenha a mesma faixa dinâmica que o sample para suprir o que ele falta ou simplesmente troque por um outro, simples assim. E lembre-se: quanto menos tempo você gastar tentando arrumar o sample, mais tempo para focar no criativo você tem!

Cuidado ao samplear músicas inteiras

De forma alguma é errado samplear um trecho de uma música inteira, aliás, 95% das grandes músicas são sampleadas de outras grandes músicas e é justamente isso que as fizeram ter sucesso. O problema é que na hora de você veicular isso, você precisará da autorização de quem criou/detém os direitos da obra. Isto por que normalmente é bem difícil conseguir a liberação do sample, ainda mais se você for um artista em início de carreira. 

Então a dica que dou ao samplear trechos de música inteiros é: seja o menos óbvio possível. Troque o tom, recorte o samples em pedaços menores ainda e reorganize tudo novamente, aplique efeitos que de profundidade, etc.

Espero que com essas dicas você consiga fazer excelente colagens! Happy Sampling! 🙂 

A música conecta.

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