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A música conecta

My Brazilian Trip: Philogresz

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Por Luiza Souza em My Brazilian Trip 15.09.2015

O Brasil é um país de dimensões continentais e toda tour por aqui reserva histórias especiais para os artistas. Pensando nisso, inauguramos hoje a coluna My Brazilian Trip, que irá mostrar do ponto de vista dos próprios artistas as experiências vividas em solo brasileiro. Cultura, culinária, as noites nos clubs e tudo o que você sempre quis saber mas não tinha como perguntar.

O primeiro convidado a assinar essa série é o turco Philogresz, que esteve em turnê no Brasil do dia 26 de Agosto até o dia 1º de Setembro. Abaixo, você descobre como foi essa grande aventura, onde ele nos conta situações curiosas como sua surpresa ao achar Listerine e fio dental no banheiro de uma churrascaria até sua interpretação (meio equivocada) do termo “coxinha”. Confere aí!

1º dia – 26 de Agosto

Cheguei depois de 12 horas do voo direto e tranquilo vindo de Amsterdam.
Fui bem recebido pelo entusiasmado Adnan Sharif e nos encaminhamos diretamente para uma churrascaria na região da Avenida Angélica. Depois de uma overdose de carne, fiquei maravilhado com a presença de Listerine e fio dental nos banheiros. Olá Brasil, é meu primeiro dia na América do Sul e eu já estou me acostumando com tudo isso 🙂

2º dia – 27 de Agosto

Comecei o dia com um delicioso prato caseiro brasileiro como café-da-manhã: Tapioca. Fui ao mercado local de produtos orgânicos no Parque das Águas Brancas para pegar os vegetais mais frescos, precisamos manter uma rotina regulada de alimentação saudável. Isso é algo muito necessário depois da pesada mistura de carnes de ontem, sem mencionar a intensa noite de pesadelos por comer muito e muito tarde.

Logo depois, fui ao D-EDGE para ficar por dentro da história dessa incrível marca. Conversei com Marcelo Madueño no terraço do club sobre o “que fazer e não fazer” na cultura brasileira. Aparentemente a maioria dos brasileiros gosta de fazer contato visual, até quando você está tendo uma conversa rápida com alguém. Se não fizeres, podem te confundir com uma pessoa de má-fé.

Rapidamente planejamos os próximos dias da minha estadia em São Paulo e fomos ao Bossa, o restaurante do D-EDGE. Imediatamente me surpreendi! Almocei frutos do mar dessa vez, acompanhado de um vinho Argentino. No andar acima do restaurante há um impressionante estúdio que vai começar a funcionar em breve para várias jam sessions, a fim de alimentar a cena eletrônica local. Ispirador!

Então, de repente, surgiu a Patricia, uma pessoa muito viva que gerencia quase tudo entre o club, o restaurante e a loja de roupas. Ela apareceu perguntando se eu poderia experimentar alguns dos novos pratos do cardápio que o Chef do restaurante sugeriu e dar a minha opinião. Atentamente os provei e dei algumas dicas de culinária turca.

À tarde, fui ao meu grande amigo Henrique do Fractal Mood, para a tão esperada jam session. Conheci o Henrique em Amsterdam na primavera de 2013, numa ocasião muito especial na Trouw club. Ele foi a primeira pessoa a me falar sobre a cena brasileira e o D-EDGE. Tivemos uma conversa detalhada sobre a cena de música eletrônica no Brasil (Curitiba, Florianópolis…) e sobre o que ele estava planejando com seus eventos multi-disciplinares e o projeto artístico Carlos Capslock. Encerramos a noite ouvindo tracks, algumas tradicionais e, é claro, algumas a serem lançadas. Tudo isso regado à Cachaça, bebida destilada feita de cana de açúcar. Você a conhece!

3º dia – 28 de Agosto

Comecei o terceiro dia no mais energizado estado de espírito, bem descansado, sem jetlag e pronto pra arrasar. Encontrei o bom amigo e ótimo DJ que eu conheci anos atrás na Holanda. Ninguém menos que Renato Cohen. Ele havia me impressionado na época com seu com seu álbum na Sino, Sixteen Billion Drum Kicks. Recebi uma mensagem de Renato antes de nos encontrarmos em sua casa: “Ei cara, que horas nos encontramos? Preciso ajustar meu cronograma por causa da minha garota. Eu sou pai agora, sabia…” Aquilo me soou muito familiar – com um sorriso no rosto, respondi: “Eu também me tornei pai recentemente…”

Nos encontramos na casa dele e ouvimos um som em seu home studio. Ele guarda um monte de pérolas no seu HD.
Eu tentei motivá-lo a lançar o seu segundo álbum, e quem sabe? Talvez ele aceite minha sugestão. Depois nós falamos sobre a cena brasileira, a europeia, mudanças na carreira, altos e baixos… sobre a vida e suas lutas. Então chegou a hora de buscar a filha dele na pré-escola. No caminho, uma breve parada numa lanchonete local pra comprar os melhores hambúrgueres e a famosa coxinha, que consiste em carne de frango moída coberta com uma massa moldada em uma forma que lembra uma coxa de galinha, empanada e frita.

How can one would not pay a visit to @renatoc when in São Paulo , we go way back with this good soul!

Uma foto publicada por ilker (@philogresz) em

Nossa última parada neste dia com o Renato foi em um parque local com sua bela garota. Uma coisa chamou a minha atenção: havia um segurança neste parque público, assim como em todos os outros lugares comunitários e privados. “Isto é o Brasil”, disse Renato, “nós estamos acostumados com isso”. O que eu gosto na minha conexão com ele é que nós não tínhamos nenhuma agenda nem nada muito marcado, éramos apenas dois amigos se conectando em vários ambientes.

4º dia – 29 de Agosto

Dias chuvosos sempre despertaram criatividade em mim. Eu não sou alguém que anda por ai deprimido, a vida é muito curta para você se colocar num loop de tristeza, desde que você não canalize isso em um processo criativo mais tarde. Então meus sentimentos ruins não duram muito tempo.

Eu li muitas coisas sobre a arte e cultura de São Paulo e vi muitas fotos, então fui ao maravilhoso Parque Ibirapuera para visitar o Museu de Arte Moderna, a Oca, e o maravilhoso Auditório da cidade. A primeira parada foi no MAM, na exposição do “ingênuo” artista (para alguns críticos vulgares) Alberto da Veiga Guignard. O seu gradiente de cores me impressionou muito. Ele retratou a transição do solo com o céu do jeito mais sutil que eu já vi. De certa forma, ele interpretou e expressou puramente as paisagens brasileiras, com uma ótima utilização de tons pastéis.

A parte mais impressionante do meu tour estava para começar na OCA. Os diretores de arte dela fizeram a curadoria de uma exibição surpreendente chamada: Invento – As Revoluções que nos Inventaram. Os curadores explicam a exposição: “Enquanto eles incorporam invenções em seus trabalhos, artistas geralmente pensam em desfuncionalizá-las, distanciando-as de sua função original e oferecendo uma reencarnação do seu senso social. A verdade da arte não é a mesma que a da história. As maquinas servem – arte não está ao nosso serviço. Inventando as coisas, na verdade nós nos inventamos.”

Para mim houveram dois pontos marcantes: O primeiro é o que fala sobre a invenção do refrigerador e como nós tornamos ele na americanização de nosso dia a dia enquanto subconscientemente enchemos ele com venenos comerciais como latas de coca-cola. O segundo foi o show de LED. Nunca tinha visto nada como isso antes… A oscilação das lâmpadas revela corpos em movimento numa resolução bem baixa. A flutuação entre a segunda e a terceira dimensão… assista o filme. E se quiser ver mais fotos dê uma olhada no meu Instagram.

Um vídeo publicado por ilker (@philogresz) em

5º dia – 30 de Agosto

Então, descobri o salgado Coxinha serve de apelido para a polícia, porque eles pedem por comida de graça… Viu? Sigo aprendendo algo novo a cada dia. Algumas pessoas me chamam de “O Observador”. Hoje foi o dia do Red Bull Studio com produtores locais e estudantes. SSL 4000 G e infinitas possibilidades de equipamentos. Fizemos um tipo de jam session. Cheguei a um lugar impressionante e fiquei abismado com a arquitetura. Era um antigo centro de energia transformado em uma área de multiuso com estúdios, um restaurante e para completar, um incrível terraço com uma vista extraordinária da Praça da Bandeira.

Today, after a long time, I was again mixing on SSL 4K G

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Tive uma abordagem diferente no set up e, no lugar de máquinas, preferi sons de instrumentos como o baixo e a guitarra. Quase 10 horas de jam sessions seguidas por um improviso de vídeo ao vivo não eram suficientes, eu acabei fazendo outra sessão com o Fractal Mood no estúdio deles no bairro Madalena. Eu estava exausto, mas aí percebi que fazer música é a coisa mais gratificante em minha vida, então esqueço tudo e me deixo levar. Hora de dormir pois amanhã é o grande dia, vou tocar um extended-set de 3 horas na D-Edge.

6º dia – 31 de Agosto

O sol estava perfeito no dia da performance. Tirei um tempo para atualizar minha biblioteca de músicas e preparei/editei algumas das novas promos que ganhei das pessoas ou comprei. Na maior parte das vezes eu gosto de fazer minhas próprias edições para os shows. Separei as tracks e tranquei minha case…

Depois do café-da-manhã, fui convidado por um amigo para beber algo na Vila Madalena, no lado ocidental de SP. Se me perguntar, a área mais colorida da cidade. A cultura boêmia, seleção eclética de pessoas e culturas, bebidas, culinária local incrível e dançarinas de samba. Enquanto esperava por um amigo que estava atrasado (o que eu não me importei nem um pouco) eu espontaneamente me deixei levar pela incrível música, as vibrações e a embriaguez. Eu estava tipo “eu amo essa cidade”. Uma coisa que percebi: mulheres brasileiras são bastante sedutoras/flertando. Gosto dessa coragem…

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Pra completar, tive um maravilhoso jantar no Bossa com meu camarada, o incrível e otimista Marcelo da D-EDGE. Escolhi um cordeiro local acompanhado de batatas doces orgânicas e um vinho chileno. Dizem que o vinho brasileiro não é tão bem sucedido que nem o de seus vizinhos sul americanos, me corrijam se eu estiver errado.

Depois de um breve cochilo, me encaminhei até o club, fui entrevistado pra ocasião do 15º aniversário do D-EDGE e toquei o resto da noite com uma orgulhosa seleção musical. Espero que o público tenha curtido e sentido pelo menos um pouco do que eu estava tentando dizer…

7º dia – 1º de Setembro

O último sol antes de ir de volta pra casa em Amsterdam. Rapidamente visitei o bairro da Liberdade, que é uma cidade Japonesa no meio de São Paulo. Mas eu estava mais interessado nas casas coloridas nos fundos do bairro do que na cidade japonesa em si. (como da para ver nas fotos). São Paulo foi um dos lugares mais interessantes que eu já visitei e a conexão com as pessoas, ouvir suas histórias de vida e perspectivas foi verdadeiramente uma experiência indescritível.

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Te vejo do outro lado!

Deixe o amor reinar, Ilker.

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