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A música conecta

BaianaSystem: o underground que você não (ou)viu

Por Georgia Kirilov em Notícias 21.06.2017

“Você já passou por mim e nem olhou pra mim / Acha que eu não chamo atenção / Engano seu, coração” são as primeiras linhas do single Invisível – lançado em fevereiro desse ano – da banda/grupo/coletivo/movimento BaianaSystem. A ironia por trás desta crítica social também está na realidade de como a cena clubber brasileira passou batido por esse projeto que consegue, ao mesmo tempo, combinar e desafiar toda a multiplicidade de referências que compõe o que somos (e o que ouvimos). Sem mencionar que ele nasceu aqui mesmo, em terras brasilis. Por que temos mania de olhar sempre para o que vem de fora e nem olhamos para o que produzimos, hein?

O Baiana é composto por 4 cabeças pensantes a serviço da arte dançante – como eles mesmo se definem – e essas são: SekoBass (baixo), Russo Passapusso (vocalista), Roberto Barreto (fundador do grupo e guitarrista) e Filipe Cartaxo (responsável pela ID visual). Com dois discos, um EP e uma proposta que mudou o carnaval de Salvador para todo o sempre, agora o BaianaSystem vem para questionar a verdadeira essência da cena eletrônica e alternativa no Brasil.

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Todo estilo musical tem sua porcentagem de fãs elitistas que se julgam entendedores da história do gênero e medem o nível de compreensão de outros apreciadores baseados em nomes e conceitos. Como resumir um projeto que engloba a bass culture, a mandinga, o tempero baiano, música jamaicana, afoxé, dancehall, pagode, sambareggae, cumbia, dub, kuduro e muito mais? É com esse caleidoscópio de influências que o BaianaSystem promete te tirar da zona de conforto e te fazer questionar tudo que você já entendeu sobre música, seja ela o que você escuta no carnaval de rua ou num DJ set. A proposta do quarteto é tocar na verdadeira essência da miscigenação brasileira e convidar, por meio de um discurso político, o público a acordar enquanto mexem seus corpos. Especulação imobiliária, padrões da sociedade, crenças, raça, esperança: são os temas que Passapusso explora em suas rimas, que SekoBass evoca com seu baixo e que Barreto emana com sua guitarra. E não esqueçamos de uma das partes mais essenciais para tornar o BaianaSystem o fenômeno que vêm se tornando: Filipe Cartaxo. O grupo sempre entendeu que música é tão visual quando é sinestésica e desde o começo retomou símbolos como a carranca e o Cavalo do Cão que remetem a cultura brasileira e africana, parte indissociável do nosso DNA.

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Se na cena eletrônica temos uma divisão tão óbvia entre o mainstream e o underground, pode-se dizer que o BaianaSystem é o underground brasileiro por excelência. 2009 foi o ano que tudo começou. Com o trio elétrico Navio Pirata, que fugia do circuito de abadás e grandes nomes do axé e convidava os foliões da maior festa do Brasil para um momento mais profundo, além das músicas dançantes e felizes que careciam de sentido, de questionamento. Parece engraçado, e uma fórmula para erro, propor um questionamento político e social durante o carnaval. Porém, ano após ano, milhares de pessoas pararam e prestaram atenção na verdadeira força da natureza que é o BaianaSystem.

Agora eles fazem sua estreia em Curitiba, no festival de criatividade Subtropikal – que rola do dia 15 ao dia 22 de julho – em apresentação num dos lugares mais icônicos da capital paranaense: a Ópera do Arame. Questionar a bolha que divide as áreas criativas e cria elitismos culturais é a proposta do festival, que quando combinada à vontade do grupo de abalar as estruturas (da maneira mais literal possível) da sociedade, gera, de fato, um casamento perfeito. A festa acontece no dia 22 de julho – o encerramento do festival – e marca o fechamento de um ciclo que traz a palavra das ruas para a rua e empodera o meio urbano como ponto de partida para observações intrínsecas do que é ser humano e coexistir e se expressar. Se você acredita que a música que escuta é uma forma de empoderamento cultural, precisa sair da sua bolha do house/techno e dar uma atenção a estes caras.

A música conecta as pessoas! 

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