Um ano após sua estreia, o produtor Le Calve volta à Paunchy Cat Records com um EP que une texturas nostálgicas a grooves modernos, com muita personalidade.
O projeto gráfico, os títulos, a timbragem –este EP em tudo mostra a habilidade de execução de uma ideia. São 23 minutos de penumbra, em três momentos: “Low Light”, “ThatRed Sky” e “WetFloor”.
Se a luz é o espaço da clareza, da objetividade, do vislumbre dos detalhes, o escuro é, a princípio, um espaço de perda, quando a visão fica opaca, neutra, inócua. Dispensável.
Só que o escuro aguça nossos outros sentidos. No escuro, a audição nos sugere imagens a partir daquilo que vimos em algum outro momento. É como se o som demandassepor imagens, mas imagens que não vemos.
Entre estes dois pontos, a luz e o escuro, fica a pouca luz. Em uma espécie de efeito dégradée, a pouca luz é a oportunidade de ver menos, com mais precisão. É quando ajustamos a luminária para o trabalho ou ócio noturno, por um desejo de concentração que a claridade do dia e seus sons de diversa natureza muitas vezes não permite. Low Light.
Do mesmo modo, o crepúsculo de um dia de sol e chuva, quando apenas um linha vermelha adorna o horizonte durante poucos minutos,num longo pad – That Red Sky.
É uma imagem que você ouve, não vê: do alto, ela sugere a vista pela janela do avião às dezoito horas. De baixo, no mesmo horário, é sentar-se na pedra, o sal na saliva, a umidade nos pulmões – nos pés: Wet Floor.
Essas três faixas revelam o mesmo produtor de “Sambaqui” (2014), mas vão além: as construções estão mais arrojadas, complexas, com grooves modernos e ao mesmo “mofos”,algo entre melancolia e sensualidade, mas com a singeleza elementar dos kicks e hihats moderados de antes – como naquele momento em que estamos a sós em frente à mesa de trabalho, sob pouca luz, e o volume baixo nos alto-falantes é o suficiente para ouvir tudo o que precisamos.
“Low Light” tem lançamento agendado para o dia 10 de outubro e estará disponível para download com exclusividade no Beatport.
Dia 17, Le Calve se apresenta no Resistance Room, na quarta edição festival Injeção Eletrônica, em Florianópolis, ao lado de Ney Faustini e Moka Silvy.
por Eduard Marquardt/TROOP