Estática. Nicolas Jaar abre seu novo álbum, Sirens, com esse som. Desconexão. Um sentimento bem contemporâneo de certa forma, com comunidades tão imensas é fácil se sentir desconectado, principalmente na época em que vivemos. O engenheiro de mixagem – como Jaar se define – traz um esperado álbum – 5 anos para sermos exatos – que reflete a cacofonia política e pessoal que regem sua mente e a maneira como ele cria música. Sirens traz um som complicado de se traduzir para a pista, mas que é capaz de criar momentos de música suspensos no tempo e no espaço, sem conhecimento de fronteiras geográficas criados pelo homem moderno. Tal experiência acaba sendo mais valiosa do que um eletrônico que é fácil de se entender, se relacionar e dançar. Jaar traz uma complexidade que é recebida com um sorriso nos ouvidos dos ouvintes atentos, movimentos fluidos do corpo que sabe explorar a música e uma explosão de ideias na mente aberta.
O álbum, lançado pela label Other People – criada por Jaar – é composto por um som experimental e exótico, que tem a multiplicidade cultural como base e assim sendo traz elementos ritualísticos, orientais, latinos; sendo lento e sexy, ao mesmo tempo que explosivo e misterioso. A transição entre as tracks, por vezes acontece de maneira leve e instintiva e por vezes, surpreende o ouvinte com uma erupção de sons. Vale ressaltar que Nico é responsável pela grande maioria dos vocais no álbum e também toca piano, trazendo realmente muito de si para o seu som que combina com perfeição o inorgânico e o orgânico, criando um híbrido que somente ele domina.
É surpreendente o caleidoscópio de referências que o chileno traz para seu som sem perder sua essência. Fazendo uso de ritmos ritualísticos, vocais em inglês e espanhol, garage e indie rock, e sons característicos orientais, Nicolar Jaar cria uma sinfonia que valoriza a singularidade de cada cultura em um mundo de globalização. Ironicamente, é graças a esse mesmo movimento que Sirens se torna possível, afinal não era tão simples ter acesso a tantas referências internacionais antes da globalização. Em certos momentos, a diferença gritante das referências sonoras acabam que causam a sensação de desconexão, o que gera um certo desconforto musical, até que você lembra que desconexão era de certa forma o que o artista queria que você sentisse. O eletrônico dele não é somente experimental, é político.
Em entrevista para a Pitchfork sobre o novo álbum, Jaar menciona seu relacionamento complicado com seu pai, que é um artista visual Chileno e criador da imagem de capa de Sirens (uma cena de uma animação que ele havia criado anos atrás e foi exibida em um telão em NY em 1987, chamada “A Logo For America”), e também o efeito da sua origem chilena na música. Sirens é sobre quem Jaar realmente é, e sobre o ato político que é criar música, como ele narra na mesma entrevista: “Eu sinto uma afinidade com o aspecto político da dance music – talvez possa se tornar, ainda mais, um lugar de protesto.” O produtor, que é formado em Literatura Comparativa por uma das melhores faculdades do mundo, Brown, sabe traduzir memórias, sensações e opiniões em sons e encanta tanto o corpo que dança na pista, como aquele que se encosta no sofá.
O trabalho da percussão também é essencial para Sirens, trazendo o eletrônico para o Jazz, o rock e as diversas outras referências sonoras das que Nicolas faz uso. As batidas ritmadas, combinadas com o uso de sintetizadores e constante distorção de sons, mantém o fio que conecta todas as tracks dentro de um só projeto, que é sem dúvidas eletrônico, mesmo divergindo no caminho. Será sem dúvidas interessante ver o que o chileno traz para o live de Sirens no Dekmantel em São Paulo, se ele adaptará as tracks mais para a pista ou se o público vai ter que explorar uma definição de “festa” totalmente diferente.
Por fim, é válido dizer que a pesquisa sonora e pessoal dos últimos 5 anos, trouxeram uma recompensa musical de ponta para nossos ouvidos que vive além da definição de tempo e espaço que conhecemos. Jaar não explora somente a maneira como ele faz som, mas também a maneira como seus ouvintes reagem. E Sirens é sem dúvidas um mapa compreensivo, inacabado – porque nunca se conhece-se por completo – e interativo da mente de um gênio. A música conecta as pessoas!