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A música conecta

“O futuro é vintage!” O novo EP de DaDa Attack

Por Eduard Marquardt em Lançamentos 31.03.2016

Poucas semanas atrás recebemos mais um dos trabalhos de DaDa Attack: o EP Vintage Future, lançado pela Pauchy Cat Records e composto por quatro faixas, Timewashing, Pale Blue Dot, Excess Express e a faixa título. Mas para entender a originalidade deste – e de todo trabalho de Saulo Pais, o DaDa Attack – vamos dar um passo atrás e revisitar de onde isso vem.

Dada. Dadaísmo. Todo mundo em algum momento já ouviu falar disso… Quem não lembra das famosas vanguardas artísticas?

Nesse contexto, por exemplo, o Grande Vidro é um dos trabalhos mais enigmáticos do século XX. Marcel Duchamp levou mais de 10 anos para terminá-lo: longe das telas brancas de tecido, a base desta obra, para quem não conhece, são duas lâminas de vidro, uma sobre a outra, separadas em duas partes: na de cima há uma figura abstrata, a Noiva, e na de baixo uma série de outras figuras, os Celibatários, elaboradas a partir de materiais estranhos ou pouco comuns àquela época na construção de obras de arte. Duchamp reunia objetos, retirava-os de suas funções ordinárias, de uso, e estrategicamente colocava-os em seus trabalhos. Por isso, na parte baixa do Grande Vidro se vê algumas figuras feitas de cabides, tecidos, além de uma engrenagem que lembra um moedor de café.

Uma das melhores histórias deste trabalho registra que durante o transporte do Grande Vidro para uma mostra de arte, o vidro se partiu: uma série de rachaduras ocuparam o objeto, e Duchamp, longe de se mostrar preocupado, disse que o trabalho finalmente estava pronto. “Ready!”, ele disse. As rachaduras eram o registro da interferência na obra de arte, quando este espaço sagrado passava a receber a intervenção do mundo e produzir sentidos novos, não dados de antemão.

Daí que seus trabalhos batizados com este nome – ready mades – documentassem a ideia de que para a arte ser considerada arte não eram necessários anos e mais anos de técnica apurada no manuseio dos pincéis, de modo que o artista de verdade fosse aquele que melhor copiasse a realidade, que pintasse a paisagem o mas fiel possível, que reproduzisse rostos tal qual uma foto. Ao contrário, o objeto artístico deveria partir de uma ideia, muitas vezes pouco clara, mas que pudesse despertar outras ideias, sem que uma única e verdadeira fosse necessária. Daí se pode entender por que Duchamp mandou um mictório a uma exposição artística, apenas assinando-o, ou que tenha desenhado bigodes em uma imagem da Monalisa reproduzida num daqueles antigos calendários de propaganda comercial para se levar na carteira, seguida de um anagrama, L.H.O.O.Q., cuja pronúncia seria “Elle a chaud au cul” – e a tradução, em português, “Ela tem fogo no rabo” (!).

Resumindo, essa aparente falta de sentido nos trabalhos artísticos das vanguardas do início do século XX, principalmente os dadaístas, dentre os quais Duchamp foi uma das principais cabeças, prepararam o terreno para que hoje, um século depois, possamos ver essas e outras coisas sem tanto estranhamento. Nossa ótica já está adaptada à falta de padronização das coisas, e muitas vezes o normal simplesmente nos enche de tédio. Por isso o dadaísmo era um ataque à tendência ordinária das coisas.

E este é o panorama necessário para desvendar o trabalho de DaDa Attack, um dos pioneiros da discotecagem digital no Brasil e difusor do circuit bending, termo cunhado por Reed Ghazala no fim dos anos 1960 para a criação de curto-circuitos criativos, junto com audio hacking, ou seja: desconstruir e dar novo significado a objetos e instrumentos.

Mas Saulo não é DJ: é arquiteto, foi estagiário de TV, diretor de arte de peças publicitárias, curta metragens, engenheiro de áudio e produtor musical na Supersônica, junto com Antonio Pinto, que é o compositor/produtor de várias das melhores trilhas para cinema já feitas no Brasil. E, agora, Saulo fabrica robôs para crianças e adultos espertos no Dadalab, um projeto cujo ideal é “um modelo educativo baseado na consciência e espontaneidade de cada indivíduo, valorizando a autenticidade e inventividade” – assim lemos no site do projeto, que destaca a ideia de que pela curiosidade surge o verdadeiro saber. “Porque amamos tecnologia, mas o nosso compromisso é sempre conciliá-la com cérebros e corações, criando algo único e original.”

Perguntamos pro DaDa, ou Saulo, sobre a particularidade do EP recém lançado pela Paunchy Cat. Ele nos disse o seguinte:

“O EP foi feito de maneira bastante orgânica. Os elementos foram se encaixando e tomando forma naturalmente. O processo foi baseado em subverter alguns equipamentos, tentando criar o cenário ideal para que erros interessantes acontecessem de maneira bem livre, modelando os timbres e tentando contar uma história com cada música”.

Mais interessante ainda é que neste trabalho, diferente dos anteriores (cabe aqui lembrar, por exemplo, dos famosos remixes para o Gui Boratto, “Clearly Imply” ou “Notations”), DaDa não usa nenhum sample ou soft synth. Todos os sons foram sintetizados fora do computador, tanto com sintetizadores e drum machines, como com experimentos eletrônicos, instrumentos modificados e microfones caseiros.

E o resultado você confere na íntegra no Soundcloud da Paunchy Cat:

Enfim, música inusitada para gente curiosa.

Quer conhecer mais do trabalho do DaDa Attack? Confira o mix exclusivo para a TROOP, que além das tracks do novo EP, traz a faixa “Move On”, produzida colaborativamente.

“Foi um prazer produzir com Pedro Zopelar, Érica Alves e Rodrigo Coelho em poucas horas e muita correria da equipe do The Beats Show para fazer acontecer. Montamos a música cada um em seu espaço e depois apresentamos juntos ao vivo no Mirante 9 de Julho, em uma bela tarde de sol. Foi ótima a experiência”.

Dada ainda nos passou sua agenda de eventos:

Dia 27 de maio apresento em parceria com o Fernando Timba a performance audiovisual ILUSIONISMO. A apresentação vai fazer parte do festival CINERAMA que vai acontecer no Sesc Campinas, de 24 a 29 de maio.

Durante os sábados de maio e junho estarei com uma residência artística MULTICELULAR no Sesc Sorocaba. Vou montar uma instalação que mistura interatividade, novas tecnologia e traquitanas sonoras. Teremos encontros a cada sábado, neles falarei um pouco do processo e conceito e explico técnicas com exemplos prática.

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