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A música conecta

A boa música, o conhecimento do público e o preparo da indústria

Por Alan Medeiros em Notícias 28.04.2016

Já se passaram mais de 5 anos do boom inicial da música eletrônica no Brasil. O crescimento do público foi a oportunidade para festivais, clubes, promoters e coletivos florescerem além dos tradicionais centros consumidores. A economia em crescimento transmitia a sensação de conforto e otimismo na qual praticamente todos os negócios davam certo. Quando a crise chegou essa falsa realidade foi desaparecendo conforme o poder de consumo estagnou, o dólar subiu e os lucros minguaram. Quando o sonho acaba, o que resta é trabalhar mais e melhor.

Para tornar a cena local mais forte se torna necessário analisar e criticar o papel dos artistas, da indústria e do público no nosso recente passado.

Arte | O eletrônico virou sensação e nasceram mais artistas do que o circuito oficial poderia assimilar. Aqueles que já tinham a sua tribo se protegeram sob a chancela de suas plataformas, os demais se organizaram em coletivos e festas para mostrar o seu trabalho, fomentando a criação de um novo público.

Qual é o problema? O “anti-marketing underground” ou apenas a ausência de promoção permitiram que parte do mercado fosse dominado por muita música de baixa qualidade, especialmente aquela que soube ser bem promovida. É fato que diversos artistas não apresentaram novas propostas musicais e outros se colocaram abaixo do nome de seus contratantes.

O que falta então? Em diferentes níveis: sair mais do estúdio, pesquisar mais sonoridades, aumentar a rede de contatos, fortalecer o selo ou coletivo nacional e, finalmente, admitir que utilizar o marketing de forma inteligente pode ter um grande impacto na carreira. Em todos os níveis: dinheiro. Artista brasileiro que busca ser valorizado quando o dólar está alto quer crescer na desvantagem do outro e não na sua própria capacidade. Um artista é bom independente da crise ou variações cambiais, e sabe usar as ferramentas do mercado ao seu favor.

Indústria | O lado empresarial foi o mais problemático ao meu ver. Para que educar o público quando qualquer line-up gringo enchia a casa? A promoção foi substituída pela capacidade do artista em vender tickets. A crise chegou, os “ticket-sellers” gringos estão mais caros e da noite para o dia se tornou conveniente valorizar o produto nacional.

De um lado o artista local sempre dependeu financeiramente dos contratantes e comercialmente das agências para poder investir em sua carreira. Do outro lado existe comunicação falha dos produtores de eventos e promoters que lutam por públicos justapostos sem saber como vender os artistas, replicando informações prontas porque também não são devidamente treinados e remunerados.

Duas vias de interpretação são claras: ou os organizadores (clubes, produtoras, festivais, etc) são gerencialmente incapazes, ou tem Kiko não dividindo a sua bola.

Enquanto não houver aumento do cachê artístico ou melhoria gerencial da indústria o crescimento orgânico da cena vai caminhar a passos curtos. Precisamos de uma maior diversidade de produtores, gêneros, de empreendedores que gostem de arriscar mais e que saibam afinar o pensamento crítico do nosso público.

Público | De década em década formamos mais uma geração de adeptos a um estilo de vida pouco compreendido pelo resto da sociedade. A prole mais recente da música eletrônica nasceu rodeada de modismos famigerados pela mídia do EDM. Culturalmente despreocupados com a busca pela auto-suficiência do conhecimento, nossos “padawans” são imaturos e despretensiosos e precisam que alguém esteja disposto a ensiná-los como diferenciar entretenimento de arte.

Existe uma estreita relação de co-dependência entre todos os organismos desse ecossistema. Artistas, indústria e o público precisam se doar um pouco mais para que esse relacionamento seja sustentável no longo prazo. Mão a obra.

A música conecta as pessoas! 

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