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A música conecta

Voltas do mercado. Uma reflexão sobre Tomorrowland e Circoloco no Brasil

Por Alan Medeiros em Notícias 25.11.2016

Essa semana, duas notícias mexeram bastante com os bastidores do mercado da música eletrônica no Brasil. Enquanto o Tomorrowland Brasil teve sua edição oficialmente cancelada em 2017, uma das principais marcas de techno do mundo volta ao Brasil. Sim, teremos Circoloco em Janeiro do ano que vem na cidade de São Paulo.

Calma, a gente promete que não vamos cair no clichê de falar sobre a queda da EDM e o avanço do techno em território nacional (global também, óbvio) nos últimos anos. Acontece que as confirmações da semana criaram alguns panoramas interessantes para análise. Primeiro, vale entender um pouco as dificuldades que o Tomorrowland enfrentou esse ano, durante seu segundo festival no Brasil. Os artistas de EDM seguem muito caros e já não levam tanto público como em outras eras. O forte apelo dos nacionais foi a aposta da organização para suprir a ausência de medalhões como Hardwell, mas não funcionou. A proposta megalomaníaca da Tomorrowland não combina com tal curadoria e a edição 2016 do festival belga em terras tupiniquins, não teve exatamente a essência que espera do evento, segundo muitos participantes.

Ainda refletindo sobre o cancelamento do evento para o ano que vem, é digno falar do motivo apontado como principal por Luiz Klotz. O momento no qual o Brasil está inserido é delicado, tanto para venda de ingressos, quanto para captação de patrocínio e contratação de artistas com alto valor de cachê. Por isso, a justificativa que a ID&T estaria trazendo festivais de porte menor para o país é plausível e faz total sentindo mercadologicamente. Ainda assim, no campo artístico será necessário uma estratégia cautelosa, para que os gringos escolhidos sejam pontuais, evitando que o posto de ticket sellers caia nas costas dos brasileiros Alok e Vintage Culture, que podem começar a ter sua estabilidade comercial abalada se explorados de forma desenfreada.

Outro olhar necessário para o Tomorrowland, é a perda do fator novidade. A edição belga já não é algo tão comentado em redes sociais como em anos anteriores e o festival por aqui já não é um sonho, passou a ser realidade. Não temos mais aquele desejo incontrolável de vivenciar a experiência Tomorrowland, muito por que festivais nativos do Brasil evoluíram e passaram a oferecer uma experiência completa, com atrações de ponta e preço inferior. É no fator novidade que entra a vinda do Circoloco ao Brasil. Em 2013, São Paulo e Santa Catarina receberam edições da marca baseada em Ibiza e consagrada no DC10, que atualmente sai em turnê livre pela Europa e alguns países fora do continente também. O momento do techno (principal estilo da festa) é outro, bastante distinto do que o país viva em 2013. De uma certa maneira o techno entrega ao público atualmente, algo semelhante ao que a EDM entregava a 5 anos atrás. Calma lá! Não estamos querendo comparar um estilo com o outro, muito menos colocar lado a lado a história presente em cada jornada. O fator válido para análise é que a pressão de pista e o culto presente ao DJ, marca registrada na EDM de 2012 por exemplo, é algo forte e em evidência no techno.

Ainda que não sejam exatamente marcas com a mesma proposta, o grande buzz após o anúncio do Dekmantel São Paulo certamente motivou os organizadores do Circoloco em terras paulistanas, que agora apostam na evidente perda de força de festivais big room, para criar uma experiência mais intimista e musical em parceria com marcas de expressão na Europa. Se você curte house ou techno, certamente já viu algum vídeo maneiro do Circoloco, assim como assistiu apresentações famosas do Tomorrowland no começo do seu hype há algum tempo. Apesar de parecerem distantes, as marcas estão próximas se analisarmos o que aconteceu essa semana por aqui. O que elas estão protagonizando no momento nada mais que é uma rotação mercadológica, que é símbolo de um momento em que o clubber brasileiro está vestindo preto, pesquisando mais a fundo suas preferências musicais e aderindo uma roupagem de som mais limpa e moderna, quando comparada as referências “eletro” que a EDM herdou.

O público de tais festivais pode ser amplamente diferente, mas os fatores que levaram o Brasil a ser palco do Tomorrownlad em 2015, são muito parecidos com os que motivam a vinda de Dekmantel e principalmente Circoloco no ano que vem. Mais uma vez seguimos a tendência que vem da Europa, aonde o techno já vem forte há algum tempo e em contrapartida a EDM apresentava sua linha decadente. Se esses eventos forem bem administrados por aqui, quem ganha é o público que se mostra mais sedento por uma experiência além da que os clubs podem proporcionar e agora pode estar em contato direto com as festas mais importantes do circuito europeu. A música conecta as pessoas!

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