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A música conecta

Alataj entrevista Afrika Bambaataa

Por Alan Medeiros em Entrevistas 11.02.2019

A palavra lenda tem sido usado de forma massiva e até mesmo exagerada dentro do cenário da dance music nos últimos anos. Isso por quê a imprensa, de um modo geral, atribuiu tal adjetivo para uma série de artistas que estão bem longe desse posto e acabam banalizando uma expressão que deveria ser direcionada a nomes como o de Lance Taylor, ou melhor: Afrika Bambaataa.

Nascido e criado no Bronx em Nova Iorque, Afrika Bambaata é um cantor, compositor, DJ e produtor musical conhecido como líder da banda Zulu Nation. Com uma obra reconhecidamente disruptiva e a frente de seu tempo no século passado, Bambaataa é tido como um dos fundadores do movimento hip hop e responsável por criar as bases para o surgimento do miami bass, freestyle e até mesmo do funk carioca.

Alguns de seus principais sucessos incluem Looking for the Perfect Beat, Afrika Shox, World Destruction e o super clássico Planet Rock, um dos grandes hinos da história do hip hop. Vale lembrar que Afrika Bambaata é uma das atrações do after do D.RRETE, bloco de carnaval do D-EDGE que terá uma programação especial para as festas que acontecerão dentro do club (mais informações aqui). Aproveitamos sua nova passagem pelo Brasil para um bate-papo exclusivo com o artista:

Alataj: Olá! Tudo bem? Obrigado por nos receber. É um grande privilégio ter sido parte do movimento que fundou o que hoje chamamos de hip hop. Na época onde tudo começou, você tinha noção do tamanho que aquilo tomaria? Em algum momento você pensou que não daria certo?

Afrika Bambaataa: Sabíamos que iria se espalhar quando começamos a mostrar a cultura e a mensagem universal de Zulu Nation, além claro da boa música oriunda do hip hop. País para país, estado para estado, cidade para cidade, bairro para bairro. Todos os elogios à força suprema.

Antes do hip hop agregar DJs, MCs, grafiteiros, b.boys e b.girls como parte de uma única tribo, como esses artistas conviviam na periferia de Nova Iorque? Havia uma espécie de rivalidade ou tudo sempre foi muito saudável?

A maioria destes artistas se uniu em solidariedade, assim começou a primeira geração do hip hop que tornou-se uma cultura de gratidão ao Zulu Nation.

Você cresceu no Bronx, um dos bairros mais efervescentes da cultura nova-iorquina. Qual foi exatamente a influência que este lugar teve sob você e seus primeiros anos mexendo com arte?

Foram os mais anciões que eu conheci lá que ensinaram o caminho para que os mais jovens estivessem no caminho certo, mesmo quando há momentos de tristeza. Eles são como grandes líderes e professores que nos ensinaram a lutar contra o racismo e o ódio.

Planet Rock é um dos maiores hinos da história da Dance Music global. Qual o primeiro sentimento que vem a sua cabeça quando ela começa a tocar hoje em dia?

É surpreendente o poder e a força que essa faixa possui, com centenas de edits e remixes que tocam o coração de seres humanos e extraterrestres nesta terra e além do universo.

Ter a oportunidade de trabalhar com James Brown certamente foi uma das grandes conquistas de sua vida. O que você tirou de melhor no aspecto humano dessa relação com o mestre do soul?

A maior conquista de James foi ensinar as pessoas a pensarem e não serem zombies em assuntos relacionados ao trabalho escravo, paz, amor e diversão.

Aqui no Brasil, muitos atribuem o seu legado como principal referência para criação do funk carioca. O que você sabe sobre o estilo e a cultura de periferia do Brasil?

Eu conheço muito sobre o Funk carioca e adoro esta música que mantém as pessoas dançando não somente no Brasil, mas no mundo todo. Há sempre espaço para falar sobre política e ações relacionadas a problemas mundiais neste estilo – isso é um poder muito grande que o artista tem. Tenho respeito e honra por todos os irmãos e irmãs de todas as favelas do Brasil. Podemos fazer uma mudança em nossas vidas se cada um ensinar, ajudar e alimentar o outro.

Em Março você vem ao Brasil para tocar no Carnaval de um dos nossos clubs mais importantes de House e Techno. O que você espera encontrar na pista?

Espero que as pessoas deixem suas preocupações em casa e saiam para desfrutar da vida com liberdade. Espero que elas dançam e curtam a música.

Sei que falar de clássicos é bastante subjetivo, mas na sua opinião, quais são os três maiores hits da história do hip hop?

É difícil escolher um grande clássico, mas Rappers Delight do Sugarhill, os breaks de Kurtis Blow, a mensagem de Grandmaster Flash, Furious Five e, claro, Planet Rock, são obras que nos fazem viajar no espaço para outros momentos de nossa vida. Tenho que agradecer a todos os artistas do mundo que se dedicaram a cultura hip hop ou qualquer outra música que faz as pessoas se sentirem bem em todo o mundo.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música representa o presente da força suprema a quem podemos chamar de muitos nomes. Ela pode te jogar para cima ou para baixo. Use-a para algo positivo, não para segregar através de coisas horríveis como ódio ou racismo. Tenha cuidado com as frequências de som que você usa, porque você nunca sabe o que as entidades podem estar fazendo ao seu entorno. Por fim, deixe a música curar todos a sua volta.

A música conecta.

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