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A música conecta

Alataj entrevista Agrabah

Por Alan Medeiros em Entrevistas 24.04.2019

Se há um mar de opções musicais para explorar, por que não fazê-lo? É nessa linha de pensamento que Ágatha Prado aka Agrabah comanda sua jornada na música. Disco, house, electro, techno e world music se fundem de maneira fascinante em seus DJ sets e produções, que flertam com diferentes movimentos musicais para formar sua identidade sonora.

Ágatha também já participou aqui com a gente colaborando para a coluna papo de estúdio. Confira!

É fato que alguns artistas simplesmente não se contentam em fazer mais do mesmo. Apaixonada por percussões tribais orgânicas e sintéticas, Ágatha é dona de uma pesquisa que vai além do lugar comum e em algumas situações se torna difícil até mesmo categorizar. Ao mesmo tempo, ela é capaz de manter uma atmosfera dançante e groovada em seus trabalhos, que apresentam características de diversos cantos do mundo.

Sua jornada na música conta com lançamentos em selos como Clipp.Art, Casa Caos, Trip To Deep, Gold Dome e Gatopardø, onde Agrabah também desempenha papel de residente. Sua segunda residência está na festa Voloop, que assim como a primeira, a ajudou a chegar em eventos do calibre de Adhana Festival, CIO, Sounds in da City e Love Foundation. Em busca de saber mais sobre esta promissora artista, convidamos Ágatha para uma entrevista, que nesta ocasião vem acompanhada de um Alaplay inédito. Confira:

Alataj: Olá, Ágatha! Tudo bem? É um prazer receber você novamente por aqui. Como residente dos núcleos Gatopardø e Voloop, quais foram os principais aprendizados que você obteve trabalhando de forma mais próxima com público e staff?

Agrabah: Gatopardø e a Voloop são manifestações de arte em todos os sentidos. Os núcleos independentes reúnem identidades pessoais e culturais diferenciadas e permitem ao público experienciar suas liberdades sem censura. Acredito que a maior experiência em contribuir com esses núcleos, é criar movimentos que provocam o “modos operandi” do tradicionalismo, seja pela música, pelo visual, ou pela mensagem de cada grupo. Vivemos em tempos em que se faz necessário provocar a crítica e abrir novos horizontes de pensamento, e procuramos cumprir esse propósito a cada evento realizado.

Percebo que parte de sua pesquisa musical é direcionada a chamada World Music. Na minha visão, esse termo ainda é usado de forma vaga e abrangente em algumas situações: pra você, o que ele representa e onde se encaixa exatamente?

World Music é a música popular global. Quando faço minha pesquisa imersiva dentro de um conteúdo histórico musical de um determinado país, encontro as particularidades rítmicas daquela região junto com uma parte da história daquele povo. Acredito que a palavra “World Music” celebra as manifestações sonoras populares características de cada região do mundo, e dentro desse agrupamento podem ou não serem segmentadas. Em minhas pesquisas o “World Music” abrange, por exemplo, desde o ponto cantado para Exú no candomblé, até o trabalho da cantora letoniana Mirdza Zivere, popular na década de 70.

Criar algo novo dentro da dance music é uma tarefa realmente desafiadora. O que esse desafio representa pra você? É possível dizer que ter uma abordagem autêntica está entre as suas prioridades?

A diferenciação entre tantos trabalhos musicais que são lançados todo dia, ao meu ver, é acreditar em sua bagagem cultural. Cada um tem sua própria bagagem poque cada um tem sua própria história. As nossas experiências de vida podem ser traduzidas através de músicas, e confiar no valor dessa tradução já é um começo para meu trabalho ser único. Junto com isso vem o estudo de contexto. Tenho prazer em pesquisar e trazer elementos que soam fora da curva, seja através da forma que eu produzo música, seja pela construção do meu set combinando algumas tracks que ao primeiro ouvido seriam incoerentes, porém surpreendem os sentidos abstratos.

É notável que os sons tribais orgânicos são a sua principal referência para o trabalho de estúdio e na pista. Há algum outro estilo ou movimento que também tem te inspirado de forma significativa?

A década de 70 e 80 constituíram movimentos musicais e artísticos que influenciam diretamente o meu trabalho, em especial o disco, italodisco, new wave e post-punk. Minha adolescência foi recheada de sons do The Damned, New Order, Sisters of Mercy, Erasure, Siouxsie and the Banshees,The B52’s , o que faz um paradoxo interessante com as minhas referências orgânicas. Acho essa mistura de sonoridades extremamente sintéticas com variações sonoras naturais de músicas atemporais compõem uma configuração abstrata interessante.

Você possui recente passagens por algumas pistas importantes da nossa cena, como Adhana Festival, Hot Legs, CIO, Sounds in da City, Gruta, Love Foundation e Trip To Deep. O que essas experiências trouxeram de mais valoroso para sua carreira?

Participar de eventos como esses me emocionam ao saber que meu trabalho, feito com tanto carinho e esforço diário, se tornou de certa forma relevante para contribuir para a história desse cenário. Eu trabalhava como pesquisadora acadêmica, dentro da área de Políticas Públicas até fazer a grande decisão da minha vida que foi optar pela música como carreira profissional. Então a cada apresentação eu tenho mais certeza da escolha que fiz, sendo gratificante demais participar desses movimentos que provocam grande transformação coletiva.

Cada DJ possui um perfil artístico diferente. Alguns se destacam por uma pesquisa contemporânea, outros pelos clássicos. Há também aqueles que discotecam 100% em vinil ou ainda os que buscam misturar diversos movimentos musicais em seus sets. Como tem sido sua busca em relação a construção desse perfil sonoro que é tão importante a longo prazo?

Eu pessoalmente acho importante a variação de referências na composição de um set ou na produção de uma track. É claro que dentro dessa variação deve haver algo que conecte essas escolhas. Explorar variações enriquece o resultado final de um trabalho, ao mesmo tempo que provoca a saída da zona de conforto de permanecer em um único gênero ou estilo sonoro. Eu gosto dessa brincadeira de misturar elementos paradoxos temporais ou estruturais de forma que se complementem. Por exemplo, misturar um som de sintetizador ácido com percussões tribais, ou misturar um disco produzido na Índia na década de 70 com tech house.

Você é uma artista que já assinou mixes e podcasts para alguns canais bem interessantes. De uma forma geral, você curte esse processo de pesquisa e gravação em casa ou fora do ambiente de pista?

O espaço que reservo no meu dia-dia para pesquisa, produções e gravações é minha parte favorita do dia. As gravações em meu estúdio envolvem muito da minha atmosfera do momento, bem como as elucidações que envolvem as produções das minhas tracks. O ambiente da minha casa, com minhas plantas, meus cachorros e meu namorado transmite o amor e a harmonia que eu levo para as composições.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Para mim a música é a principal válvula de expressão de todos os meus sentimentos e pensamentos profundos e internos. É através dela que eu critico, protesto, celebro, comunico e agradeço todos os momentos que rodeiam minha vida.

A música conecta.

Que tal mais uma leitura antes de você ir? Clique a aqui e curta nosso bate-papo com Tahira!

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