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A música conecta

Alataj entrevista Alexiz BcX

Por Alan Medeiros em Entrevistas 20.08.2018

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Alexiz BcX é um artista com aquela personalidade que impressiona logo no primeiro contato. A música, fio condutor de tudo o que acontece em sua vida, o acompanha desde muito jovem. Durante a adolescência, Alexiz fez parte de grupos de rock e MPB, até que suas preferências se transformaram e no techno ele encontrou uma linguagem apropriada para explorar seus sentimentos relacionados a música.

Muito além do estilo criado em Detroit, BcX também bebe de referências que passam pelo downtempo, deep house e minimal. Esse caldeirão de influências foi o que impressionou os jurados e embaixadores do programa BURN Residency, que durante toda a temporada do ano passado se declararam impressionado com as habilidades do DJ e produtor carioca.

Hoje, no posto de embaixador do programa em solo nacional, Alexiz vive um momento de evolução na carreira e segue em busca de novas conquistas após a intensa transformação que mudou pra sempre sua vida no ano passado. No próximo sábado, ele é um dos artistas escalados para comandar o primeiro BURN Residency Showcase no Brasil e antes dessa noite especial, o encontramos para um bate-papo exclusivo. Confira:

Alataj: Olá, Alexiz! Tudo bem? Ano passado você foi o primeiro brasileiro a participar do BURN Residency. De uma forma geral, como foi a experiência? Quais foram os principais aprendizados que você obteve com o programa?

Alexiz BcX: A BURN Residency me deu como maior triunfo a oportunidade de ser quem eu sou de verdade. Lembro que nos primeiros dias de competição eu não sabia direito muitas coisas básicas que todos os outros competidores lá já sabiam há tempos, como gravadoras, notícias sobre lançamentos, websites bons para pesquisa e download etc. Lembro que eu ficava tão perdido nas conversas que por alguns momentos eu falava que conhecia alguma coisa ou outra para não passar de desinformado [risos].

Quanto mais o tempo ia passando, mais eu ia aprendendo e colocando em prática esses aprendizados. Tive muito apoio do time da BURN do brasil e de DJs como BLANCAh, Lennox (Mumbaata), Vivi Seixas, Léo Janeiro entre outros. Com isso, acho que mostrei pra mim mesmo e pra todos jurados da competição que eu estava querendo aprender e que eu estava em desenvolvimento dentro da competição.

Na sua visão, quais sãs as principais diferenças entre a cena brasileira e o mercado eletrônico da música eletrônica no exterior?

No Brasil se a gente comparar com o exterior, especialmente europeus, certamente vamos ver diferenças pontuais como: clima, cultura e a política, que “favorecem” uma cena mais consolidada. Acho que no Brasil nós não precisamos comparar sempre as coisas com os outros. Nós TEMOS a nossa cena! Se não não teríamos eu, o leitor e nem vocês do Alataj aqui neste momento – não é verdade? Nossa cena é rica, temos diferentes momentos, lançamos muitas tracks de qualidade todos os dias para o mundo e temos label parties executando um excelente trabalho em cidades chaves do país.

Para quais caminhos você tem direcionado sua pesquisa musical e seus trabalhos de estúdio recentemente? O que podemos esperar do Alexiz BcX para os próximos meses?

Pois bem, como todos sabem eu me identifico muito com a linha tribal, forest, minimal tech e por aí vai. Passei por uma temporada de 3 meses na França, de férias, e lá pude respirar ares diferentes, conhecer um pouco mais da cena e ainda pude ver eles sendo campeões do mundo. Toquei em Paris e em Saint Etienne e conheci alguns clubs – Concrete, REX, Grand Bleu, Machine Du Moulin Rouge e o que eu mais gostei, Garage, passava lá pelo menos umas duas vezes na semana.

Lembrando que durante o dia eu passava horas em um parque próximo a minha casa que se chama Buttes Chaumont, muita natureza, pássaros, crianças brincando e uma pequena cachoeira. Foi tão inspirador que eu comecei a gravar todos os sons captados ali e coloquei em algumas musicas. A coisa ficou tão completa e grande que eu acabei montando um EP que sairá em breve na Ecdysis Records. Temos também, junto da AIA Records, um release quentinho já já e um outro EP mais pra 2019 voltado pro minimal tech.

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Recentemente eu escrevi uma matéria especial para edição impressa da House Mag que falava sobre a presença de DJs negros no cenário nacional. Como você avalia esse tópico? Precisamos nos conscientizar mais a respeito disso?

Com certeza, pois eu sempre digo pros meus amigos que nós negros temos de ser bons duas vezes no que fizemos, algumas vezes até 3 [risos]. É lindo de ver outras pessoas que, assim como eu, negros e negras que não tiveram muitas riquezas na vida, me mandando mensagens depois de um set, ou quando eu estava na competição, numa viagem e dizendo coisas do tipo: “quero ser como você”, “você me inspira”, “ver você lá me faz me sentir representado(a)”.

Essas coisas me tocam fortemente e me dão mais e mais forças pra continuar e não desistir nunca. Acho que de uns tempos pra cá agente consegue sim ver mais negros compondo lineups, assim como as mulheres também que estão quebrando tudo – quem não parou pra assistir a Cashu tocando no Boiler Room?

A cena do Rio de Janeiro tem catapultado uma leva significativa de artistas interessantes para a cena nacional. De que forma a atmosfera artística da cidade contribuiu para sua avaliação enquanto músico?

Minha cidade é um verdadeiro mix de cultura, o que é maravilhoso. Só aqui no Rio que você vê um amigo seu na quinta numa roda de samba no Bar do Nanam, sexta na Fosfobox na maior technera e no sábado tá no Baile do Gaiola, isso é épico! Foi essa loucura da minha cidade que me fez ter ainda mais inspiração para produzir, pois temos um desafio grande de fazer o que o nosso coração manda nas produções e quando tocamos, o dever de entregar uma pista boa pro companheiro é indiscutível. Uncloak, Davi Väth, Manara, Ananda Nobre, Vkira e Art in motion são artistas que sabem fazer isso muito bem

Você é um dos artistas escalados para primeira edição do showcase do BURN Residency no Brasil. Qual é a expectativa? O que você está preparando para o público de Fortaleza?

Tenho muito a agradecer pelo time de BURN aqui do Brasil que acredita veementemente no meu trabalho, isso implica em uma série de bons frutos musicais, artísticos e uma criação de conteúdo imensa e muito rica.

Tocar em Fortaleza é lindo demais e desta vez vou ter a oportunidade de estar junto do meu amigo Morttagua (embaixador da BURN em 2018) e do grande duo Mumbaata, fora os participantes da inscrição BR de lá do Ceará. Vai ser um máximo poder mostrar um pouco das minhas produções e curtir uma noite por lá no Sunrise Beach Club. Este projeto com certeza vai rodar o Brasil inteiro…

Percebo que, aos poucos, a figura e o conceito por trás de um bom DJ tem se transformado. Na sua visão, o que diferencia um bom DJ atualmente?

Acho que um bom DJ é aquele que sabe se integrar com a situação em que ele está vivendo e/ou para que público ele está tocando.Estamos sempre expostos ao erro né? Acho que aquele que não arrisca, que fica no feijão com arroz e não experimenta na pista, acaba não mostrando muito e a galera sente isso.

Hoje em dia o DJ não é só mais o carinha ou a mocinha das cabines. Hoje, este trabalho se divide em 50% com as mídias, portanto um bom DJ é aquele que tem um life style legal também, que cria conteúdo relevante, que está ligado face to face com seu público. Bom DJ é aquele que toca e vai pra pista, fala com o público, troca WhatsApp, se mostra presente pras questões políticas e sociais e claro, que toca boas músicas.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Ahh pra mim a música é a base da minha estrutura como pessoa, afirmo isso com carimbo! Lembro que quando eu era jovem, (1999/2000) com meus 10 anos de idade, na época o axé era a febre, todos ouviam e eu não era diferente. Até que conheci o Yuri, um amigo cujo sua mãe Euridicie ouvia muito rock e lá com eles eu abri a minha mente ouvindo Linkin Park, Pearl Jam, Metalica, Nirvana e outras bandas.

Comecei a tocar violão por conta própria e logo depois montei uma banda de rock chamada Head Core (eu era vocalista-guitarrista). Assim fui crescendo sempre com a música me acompanhando junto. Depois entrei no projeto Chico Tadeu de segunda voz e guitarrista já em 2010 e comecei a ouvir uns negócios diferentes de música eletrônica. Sim, comecei no David Guetta, Hardwell e Afrojack, agradeço a eles por me iniciarem nesta família da música eletrônica que só cresce e que todos os dias mais e mais pessoas aderem, não só como uma música pra ouvir quando vai malhar, mas sim como estilo de vida. Viva a música, viva o techno e viva o amor entre as pessoas.

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