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A música conecta

Alataj entrevista Anthony Parasole

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Por Alan Medeiros em Entrevistas 15.03.2018

O que há de melhor na cena techno internacional atualmente diz muito sobre o trabalho de Anthony Parasole. Nascido e criado no Brooklyn, Parasole se tornou um expert em tudo o que a há de melhor nas cena musical de Nova Iorque. Chicago e Detroit, posteriormente, também exerceram papel importante em sua formação artística e atualmente Berlim é a base para seus trabalhos – muito por conta de sua residência em um dos clubs mais importantes do mundo.

No Brooklyn, Anthony não absorveu apenas experiências musicais conectadas a música eletrônica – 0 hip hop também foi parte essencial em seu desenvolvimento e durante toda década de 90. Parasole comprou discos dos mais variados, aumentando assim seu vasto background musical. Essa vivência frente ao movimento hip hop e tudo que Anthony Parasole vivenciou nas ruas reflete em seu trabalho até hoje, não apenas na música, mas essencialmente na forma como ele se posiciona em todos os sentidos.

Após organizar uma série de eventos em NY na década passada, Anthony deu o start necessário para que sua música saísse em direção a outros grandes polos. Com os lançamentos de seus rótulos, The Corner e Deconstruct, Parasole conquistou considerável destaque na Hardwax, conceituada loja de discos de Berlim. Em 2013, passou a fazer parte do time de artistas da Ostgut Ton e logo após isso se tornou residente no Berghain, club que tem servido como casa para suas maiores experimentações. No começo de Março, Parasole esteve no Brasil para fechar o UFO no segundo dia de Dekmantel. Antes do festival, nós conversamos com ele, por isso não estranhe algumas perguntas fora de tempo. Confira abaixo:

Perguntas por Chico Cornejo

Alataj: Vamos começar com a sua última aventura sul-americana. O Dekmantel Festival ofereceu uma experiência intensa da pista brasileira, mesmo que em circunstâncias muito especiais. Tendo isso em mente, quais foram suas impressões do público, sua energia e recepção, e quais são suas expectativas desta vez?

Com certeza. Eu tenho viajado pela América do Sul e agora volto para São Paulo pela terceira vez. Essas pistas parecem ser muito jovens, orgânicas e sedentas por música nova, a melhor maneira que posso descrever, especialmente São Paulo, a energia é tão intensa e nós alimentamos isso um do outro. Tem sido uma grande experiência e também se tornou rapidamente um dos meus lugares preferidos para tocar.

Certamente você deve reconhecer algum privilégio de ser criado, tanto como cidadão e como DJ, em uma atmosfera tão rica musicalmente e diversificada culturalmente como a que NY oferece. Isso ainda o atinge como algo mágico quando você ouve faixas ou sets que dialogam diretamente com o que você faz de cantos distantes do mundo, como Brasil, Tailândia, África do Sul, Japão, Colômbia e muitos outros?

Para mim, independentemente de onde venho, é simplesmente incrível pensar que minha música sai do meu pequeno estúdio no Brooklyn em NY e toca DJs e entusiastas da música ao redor do globo, é surreal.

Falando sobre Nova York: muito é dito sobre as mudanças profundas que a cidade passou durante as duas últimas décadas, ao ponto de se tornar quase um tropo em suas entrevistas. Ser alguém tão intrinsecamente associado com o que essa metrópole representa musical e culturalmente é um tanto esperado e até lisonjeiro, eu acredito. No entanto, você já sentiu isso como um fardo? Você já percebeu que as pessoas tentavam estereotipá-lo, fazendo suposições sobre seu som ou mesmo criando expectativas injustas em relação ao seu trabalho?

Bem, acho que esta é uma resposta complicada. Provavelmente no início da minha carreira, eu diria que eu estava sendo estereotipado, mas com o passar do tempo e meus selos desenvolvidos, especialmente The Corner, e como a minha voz artística tornou-se mais pronunciada, acredito que eu aguente sozinho como próprio artista que é nascido, criado e mora no Brooklyn, não apenas “oh, aqui está um artista de NYC” se é que isso faz algum sentido.

Em relação à própria cidade, está muito diferente de quando você começou a sair e a colecionar discos? Além de avaliá-la em termos de “melhor ou pior”, você acha que houve um desenvolvimento durante esses anos? Quando você vê um jovem na pista em um dos seus sets, você vê a inocência de antigamente ou uma nova geração em construção? Você se vê transformando-se em alguém como Fred, Levon e Ed foram para você?

Cada cidade desenvolve, transforma e cresce, e com esses ciclos, muitas coisas mudam e muitas coisas permanecem iguais. NYC Brooklyn, em particular, viu um grande crescimento na cultura da dance music por produtores, DJs, muitas festas grandes, muitos novos clubs e muitas novas lojas de disco. Acho que os anos 90 voltaram, quando NYC estava prosperando na cena clubber, é um momento muito emocionante.

Esse senso de comunidade me faz pensar em como um ponto focal como uma loja de discos é essencial para isso. Eu tenho boas lembranças de passar a maior parte do meu dia em uma, enriquecendo meu gosto e conhecimento mais do que a internet poderia, infelizmente elas são mais escassas agora na América do Sul. Você vê esses lugares tão fundamentais quanto os clubes para uma cultura musical próspera?

Eu acho que lojas de discos, produtores e DJs locais são a base e a espinha dorsal para uma cena bem sucedida, isso serve para qualquer lugar da terra, porque sem o núcleo não é sustentável.

E sobre as turnês? Você sente que isso causa prejuízos no seu tempo no estúdio? Você tem um cronograma ou uma “fórmula” que você segue para manter isso equilibrado?

Sim, encontrar tempo para o estúdio e permanecer criativo é extremamente difícil, mas estou sempre puxando inspiração de muitas áreas, escrevendo músicas ou trabalhando no meu DJing. Nunca quero perder issoo.

Falamos sobre o lar físico por um tempo e agora vamos para os musicais: sua residência no Berghain parece estar florescendo e seu label está indo bem. Você vê isso como um novo período em sua carreira, mais estável talvez?

Eu não sei se estável é a palavra certa, porque eu nunca gosto de ser complacente, então eu gosto de permanecer com fome como se eu ainda fosse um DJ local. Mas sim, minha residência no Berghain é a chave para o desenvolvimento do meu trabalho, você aprende a trabalhar um espaço, construir um relacionamento com o público do núcleo, amantes da música, experimentar e crescer como DJ para criar novas experiências para a multidão que está lá semana após semana.

E como foi encontrar um lar longe de casa no Dekmantel? Seja o seu álbum de estreia, apresentações nos festivais em todo o mundo… Como aconteceu?

Eu adoro trabalhar com a crew Dekmantel, eles apoiaram 110% minha música e DJing, me colocaram em ótimas situações para alcançar sucesso. Tem sido uma ótima experiência e me sinto verdadeiramente abençoado por fazer parte do que eles estão fazendo.

Como estamos falando sobre o seu ambiente, o lado da produção vem à tona. Gostaria de perguntar como a conexão entre estúdio e cabine funciona em sua criatividade. Você testa faixas não finalizadas e tenta incorporar a dinâmica de alguns de seus sets em suas técnicas em algum tipo de “loop de feedback criativo”?

Testo músicas na estrada e busco frequências, se não funcionar, eu volto e faço algumas mudanças, mas vou escrever uma ou duas notas no meu iPhone para não esquecer. Mas geralmente testar na estrada ajuda bastante.

Última para encerrar: novidades sobre seus labels e projetos. Alguma coisa que você possa compartilhar conosco para que possamos acompanhar?

Estou sempre fazendo músicas novas, então esperem coisas novas de mim em breve – há 2 novos lançamentos da The Corner saindo nesta primavera. Obrigado pela entrevista!

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