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A música conecta

Alataj entrevista Bruna Calegari [Subtropikal]

Por Alan Medeiros em Entrevistas 02.11.2018

O Brasil carece de iniciativas que posicionem a criatividade como destaque junto ao público. A grande maioria dos nossos eventos são pautados em um entretenimento superficial e nem mesmo a produção de conteúdo é vista como prioridade por boa parte dos clubs, festivais e produtoras – embora esse cenário seja um pouco diferente dentro da música eletrônica.

Ao somar criatividade e cultura urbana, Bruna Calegari e João Anzolin deram vida ao Subtropikal, festival que nasceu em 2016 em Curitiba e agora, após 3 edições na capital paranaense chega a Florianópolis para criar novas conexões e debater ideias através dos 3 pilares do evento: curta, explore e reflita. A primeira edição em terras catarinenses tem como foco uma ocupação criativa no centro da cidade e o objetivo principal do evento, assim como em sua edição principal em Curitiba, é deixar um legado para comunidade e seus habitantes. Uma programação muito bem pensada está confirmada entre os dias 2 e 4 de novembro com festas, debates e workshops.

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O Alataj será representado por este que vos fala em um painel que tem como tema a diversidade na noite. Kisy Momoli, Allen Rosa e Arthur Erpen aka Kosmo contribuem com os seus respectivos pontos de vista para o assunto. No Domingo, Sounds in da City apresenta a festa de encerramento do evento com Selvagem e outras atrações. A nosso convite, Bruna Calegari falou mais sobre o projeto que envolve esta primeira edição em Santa Catarina:

Alataj: Oi, Bruna! Tudo bem? Após três anos de Subtropikal em Curitiba, quais são os principais ensinamentos que a organização traz para essa primeira edição em Floripa?

Bruna Calegari: Tudo ótimo, querido. Eu e todo o time do Subtropikal estamos super animados pela estreia em Floripa. Criar uma nova base de público, expositores, criativos e palestrantes em outra cidade é muito interessante, abre toda uma nova visão sobre um local que é “familiar mas não conhecido”. Este é geralmente o grande ensinamento: não achar que você conhece um local pelo fato de frequentar no verão; ou porque visita desde criança. Só se conhece de verdade um espaço urbano, abrindo-se pra ele de verdade.

Apesar de serem capitais próximas, Curitiba e Florianópolis possuem algumas diferenças bastante significativas, a começar pelo fato da capital catarinense ser uma ilha. Na essência, quais foram os principais desafios de adaptação do conceito Subtropikal nesse primeiro evento fora de sua cidade base?

É verdade! O fato de ser uma ilha contou bastante, porque tivemos que pesquisar muito sobre o deslocamento dos moradores antes de decidir pelo local do evento. Estávamos inclinados a fazer algo no continente, mas todo mundo nos dizia “impossível alguém sair da ilha pra ir num evento no meio do feriado”! Aí resolvemos fincar os dois pés no Centro Histórico: longe o suficiente da Florianópolis turística, bem no coração da cidade. Afinal, temos essa característica de transbordar o que existe na cidade, sendo ou não feriado ou verão.

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Criatividade parece ser a espinha dorsal do Subtropikal, certo? Na sua opinião, quais caminhos devemos seguir para termos uma sociedade mais criativa?

O que eu cito na primeira resposta é muito importante: não se pode dizer que você conhece um local apenas porque frequenta há muitos anos. Muitas vezes não conhecemos nem a cidade onde nascemos direito. Ao longo dos anos, com o Subtropikal, venho aprendendo que a criatividade nasce de dois fatores: a necessidade e a curiosidade. A criatividade no sentido de inovação nasce da necessidade de algo diferente, novo, mais barato, melhor etc. Já a criatividade aplicada vem de atividades autorais, de talentos natos e se alimenta do pulso da cidade, do meio onde vive. Pode-se viver anos num bairro e nunca perceber sua vocação natural para o turismo, por exemplo. Alguém com um olhar mais treinado vai chegar e enxergar todo o potencial existente. Isso é um exemplo de criatividade aplicada.

Curta, explore e reflita podem ser considerados os lemas do Subtropikal. Como cada um desses pontos será introduzido em Santa Catarina?

O explore convida criativos locais a exporem seus produtos, assim as pessoas podem “explorar” a criatividade existente na cidade: temos nessa frente o bazar de design autoral e a feira gráfica, em Floripa apresentada e curada pela incrível Camila Petersen, da Parque Gráfico – feira de arte impressa. Já no Reflita vamos explorar assuntos em profundidade como inovação social, arte urbana na Ilha, diversidade na noite e neo-nomadismo. Adoro essa parte! Pra curtir teremos duas festas: no sábado e no domingo, sempre a partir das 16h. Domingo tem início a comemoração de 8 anos da Sounds in da City com a dupla Selvagem.

De sua criação até aqui, como o Subtropikal se relaciona com a música eletrônica? O que o público pode esperar desse encerramento em parceria com o Sounds in da City em Floripa?

Eu e o meu sócio trabalhamos com música eletrônica há mais de uma década já. Ter nascido em meio a este universo sempre guiou a curadoria do evento para estilos e artistas mais “pra frente” tanto musical quanto visualmente, como Teto Preto ou BaianaSystem. Nosso link com a música eletrônica também sempre transcende nos workshops: em Curitiba tivemos um do Esa Williams e outro do Larecio (L_cio), em 2016 tivemos um open tracks do Henrique HNQO, antes do lançamento do álbum The Old Door, além de um remix contest lançado pela AIMEC. Buscamos chamar pessoas que têm proximidade com este universo, a Fer e a Pri da Alliance já foram cocriadoras e até o curso de coolhunting é dado por uma clubber de carteirinha, a Andrea Greca! A gente só aumentou o espectro, buscou ir mais fundo e levou a pista pra sala de aula [risos].

Quais são os principais desafios do Subtropikal para se manter no cenário como uma marca atrativa para o público e ao mesmo tempo saudável financeiramente?

A equação entre a qualidade das ações de patrocinadores e a entrega cultural que esperamos dar ao público e à cidade é bem complexa. A cada edição aprendemos algo novo e tentamos inovar. Mas temos um objetivo a longo prazo, portanto o investimento no momento é infinitamente maior do que o lucro. Acredito que o festival possa ser saudável financeiramente em alguns anos, quando tivermos mais público, mais gente que entende a proposta, acredita na curadoria e se envolve com a ideia. Estamos arriscando, mas o projeto tem o tamanho dos nossos sonhos.

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Para finalizar. Você acredita que a criatividade pode transformar o mundo? Como?

Com toda certeza. É o que dizem: quando uma mente se abre, é impossível voltar ao que era. A criatividade é uma força existente em todo mundo, independente da área em que trabalha. Um contador pode ser extremamente criativo e se destacar por inovar na sua área, por criar planilhas infalíveis e resolver problemas impossíveis. Todos somos criativos. Todos podemos fazer mais, com menos, se enxergarmos a possibilidade da interdisciplinaridade entre áreas de atuação. Afinal, nossa capacidade de reinventar tudo que já existe é infinita. Imagine um DJ, quantas possibilidades ele tem de fazer uma apresentação diferente? Um produtor musical pode inventar um novo estilo, um técnico visual pode criar um show totalmente novo… pensar dentro da caixa não é mais uma opção pra quem quer viver os novos tempos.

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