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A música conecta

Alataj entrevista Carlo

Por Laura Marcon em Entrevistas 04.03.2020

Vivemos um momento estrondoso no mercado da música eletrônica que vem se superando ano a ano, com cada vez mais artistas, labels e, é claro, mais produções e inovações dentro do ramo. E se você conhecesse alguém que decidiu desacelerar e criar um selo que lançasse suas faixas apenas em um dia de cada ano bissexto, ou seja, de quatro em quatro anos?

Essa é a ideia de Carlo, DJ e produtor espanhol radicado em Berlim que deposita boa parte do sua energia musical à capital alemã, participando ativamente do cenário através de suas residências em label parties locais. Além do Bisiesto, nome que dá ao seu novo projeto, Carlo não deixa de acompanhar o ritmo contemporâneo do mercado e tem lançado por boas gravadoras como Classic Music Company, Madhouse e PIV. Nós tivemos a oportunidade de bater um papo exclusivo com o artista sobre mercado, Berlim e é claro, esse novo e inusitado projeto. Acompanhe!

+++ Confira o conteúdo especial que fizemos sobre a PIV

Alataj: Olá Carlo, tudo bem? obrigada por falar com a gente. Este é seu primeiro contato com um veículo de mídia brasileiro, certo? então não podemos deixar de perguntar como foi seu primeiro contato com música eletrônica e quando decidiu fazer dela sua profissão?

Carlo: Olá, obrigado por me receber. De fato, este é meu primeiro contato com uma plataforma de mídia brasileira. Eu sempre me interessei por música desde criança, toquei violão na escola e meu pai tinha muitos discos com os quais andava mexendo desde os primeiros anos. Como todo jovem, eu tinha uma pequena banda com amigos e isso lentamente se transformou em uma busca por produzir minha própria música, onde eu pudesse ter o controle sobre tudo. Foi assim que comecei a descobrir a música eletrônica em sua grande maioria.

Eu realmente não posso afirmar com precisão quando decidi fazer isso como minha profissão, como sempre fiz pelo amor, viver disso é um grande presente que eu aprecio todos os dias.

Vimos através da sua bio que você é baseado na Espanha mas hoje vive em Berlim. O motivo da mudança diz respeito à música e carreira? Você acredita que Berlim mudou sua forma de enxergar a música e a maneira com que você a cria?

Estou vindo de Málaga, uma cidade marítima no sul da Espanha. Adorei crescer por lá, mas infelizmente não tem uma grande oferta em música eletrônica, por isso decidi me mudar para cá. Um dia eu quero voltar e tentar promover a cena e apoiar novos talentos por lá.

Nos últimos nove anos morando em Berlim, a cidade mudou totalmente a maneira como interajo com a música. O fato de ter todo final de semana uma grande variedade de atos internacionais e locais na cidade dá a você a chance de ver o que está acontecendo em nossa cena. Também a multidão e os clubes da cidade fazem com que os artistas se apresentem no seu melhor nível.

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Você faz parte de label parties importantes na capital alemã. Conte pra gente como esses projetos nasceram e qual o impacto deles na sua carreira.

Eu toco regularmente no Watergate onde tenho minha própria festa a cada dois meses e que está completando seu terceiro aniversário no club. Nós sempre seguimos o mesmo line up com Tuskish e Black Loops. A intenção desse projeto é alcançar os bons e velhos tempos, quando apenas os residentes tocavam nos clubes e também não viajavam tanto e por tempos tão extensos. Eu acho que essa é uma ótima opção para as pessoas que vão as nossas festas porque sabem quais pessoas estarão lá e que música esperar.

Por outro lado, sou residente do Koffäin, uma das principais festas do IPSE Club Berlim. Esta festa foi fundada por turcos, nascidos inicialmente em um pequeno café no coração de Kreuzberg. Todo dia 1º de maio realizávamos festas na rua e muitas pessoas vinham. Depois de alguns anos, começamos a dar festas na IPSE. Eu preciso dizer que o começo foi difícil, mas depois de alguns anos temos uma reputação muito sólida na cena House em Berlim e muitas das pessoas que tocaram para nós já se sentem em família. Nomes como Folamour, Dan Shake, Demuja, Harrison Bdp, Matthieu Faubourg tocam para nós todos os verões e adoramos.

Ser residente nessas festas é ótimo porque toda vez que estou enfrentando o mesmo lugar com as mesmas pessoas preciso me reinventar e ser fiel ao nosso som. Acho isso muito desafiador e me faz procurar constantemente novas músicas. Quando estamos no verão, não há lugar melhor para estar senão a área ao ar livre da IPSE. Normalmente fecho a pista do lado de fora que vai das 12:00 ás vezes até às 06:00 da manhã. Adoro sets longos que passam das 3 horas de apresentação, você entra em uma conexão diferente com a multidão, eles confiam em você e não há limites entre você e eles. Realmente difícil de explicar, mas o sentimento é incrível.

Estamos curiosos para saber mais sobre seu novo selo, Bisiesto. Como você chegou até esse projeto e qual a sua fundamentação para trabalhar ele apenas uma vez a cada ano bissexto?

A ideia por trás do Bisiesto é fazer as pessoas pensarem no tempo e em como consumimos música hoje em dia. Acho que o mercado está saturado demais com repetições do mesmo produto e queria dedicar algum tempo para fazer algo original e fazer as pessoas pensarem por um segundo. Há alguns anos ouvi falar de um fanzine (revista) que foi lançado apenas no ano bissexto e desde então eu queria trazer esse conceito para a música e fazer um selo com ele. Eu sei que vai ser muito difícil se envolver com os fãs da gravadora, porque talvez eles não se lembrem de mim no próximo dia 29 de fevereiro, mas estou muito feliz por ter um conceito tão único.

Ainda sobre esse assunto, você acha que a indústria da música algum dia irá desacelerar o ritmo de produções e consumo como o que vemos hoje?

Acredito que estamos apenas começando a avançar ainda mais. Sejamos honestos aqui, a indústria da música está crescendo muito rapidamente e à medida que crescem precisam de recursos maiores, multidões maiores para manter todo o produto do consumo de música para manter o monstro vivo. É por isso que eu amo ver pessoas que permanecem fiéis a si mesmas e sempre mantêm um pé na cena underground.

Como produtor você já realizou bons lançamentos em gravadoras conceituadas. O que podemos esperar de você nos próximos meses?

Tive um ótimo final de ano com meus lançamentos na Classic Music Company, Madhouse e PIV. Nos próximos meses, tenho mais alguns no Purism, Slothboogie e um remix na Musique Cinetique. Também posso ter uma surpresa para o início do verão europeu com um novo projeto no qual estou trabalhando.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que é música para você?

Bom, ainda não posso dar uma resposta, pois ainda estou tentando descobrir. Espero poder responder algum dia.

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