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A música conecta

Alataj entrevista Daniel Watts

Por Alan Medeiros em Entrevistas 12.03.2018

Você pode até não estar muito familiarizado com o nome Daniel Watts, mas certamente já dançou ao som de suas produções na pista. Daniel é metade do conhecido duo Digitaria, sócio-fundador do label Clash Lion e agora concentra parte de suas fichas em seu projeto solo.

Desde que Watts e Daniela, sua parceira de vida e Digitaria, se mudaram para Barcelona, um dos epicentros da dance music na Europa, muita coisa mudou. O suporte do selo Hot Creations, um changing point na jornada da dupla, veio ainda quando moravam no Brasil. A mudança para o velho continente foi motivada pela busca de novas conquistas de uma história que já contava com highlights importantes, mas ainda tinha potencial para ir além.

Até aqui a decisão tem se mostrado super acertada. Além de manter uma ótima reputação no cenário brasileiro, Daniel e Daniela seguem conquistando novos mercados e agora possuem projetos solos – Daniela tem assinado como TERR e lançado por labels do calibre de Hotflush. Nesse bate-papo exclusivo, Daniel Watts fala sobre esse novo momento que foi iniciado com o EP Social Operators pela Clash Lion. Confira:

Alataj: Olá, Daniel! Tudo bem? Durante anos seus principais esforços na produção musical pertenceram ao Digitaria. O que exatamente levou você a começar um projeto solo?

Daniel Watts: No Digitaria éramos eu e Daniela tendo idéias 24 horas por dia. No final das contas tínhamos uma quantidade imensa de tracks não finalizadas, um monte de idéias boas não aproveitadas, etc. Além do que muitas vezes ela estava ouvindo e com vontade de produzir um tipo de música e eu algo completamente diferente. Foi natural para ela começar o Terr como um projeto solo e eu o Daniel Watts. Agora, além do Digitaria, tanto eu quanto ela podemos ter uma outra válvula de escape para nossas idéias.

Sua mudança para Barcelona me parece um ponto de virada importante na carreira. O que exatamente mudou e tem melhorado desde então?

Viemos para Barcelona mais ou menos na época que estávamos trabalhando com a Hot Creations com o Digitaria. Nesse momento a gente sentiu que nossa carreira no Brasil tinha chegado a um ápice. Estávamos tocando muito no Brasil, mas sentimos que precisávamos de novos desafios e horizontes. A melhor coisa de viver aqui é acompanhar in loco as coisas novas que estão acontecendo, as novidades, conhecer novas pessoas, trabalhar com elas, etc. Mas vamos sempre pro Brasil, de forma que também acompanhamos e trabalhamos no nosso país. No final, temos o melhor dos dois mundos.

Clash Lion, seu selo ao lado da Daniela Caldellas, começou com tudo e ao que tudo indica, terá um 2018 intenso. O que você pode nos adiantar sobre os próximos lançamentos e projetos paralelos da gravadora?

Estamos muito felizes com o Clash Lion e o momento que estamos passando. Foi uma grande alegria já começar o selo lançando o Maetrik, projeto paralelo do Maceo Plex. Logo depois lançamos o vinil do Shall Ocin e meu primeiro trabalho como Daniel Watts. Nossos próximos lançamentos estão ótimos também. O quarto vai ser um EP de uma das mais importantes artistas de techno da atualidade, e estamos muito felizes e orgulhosos de lançar essas tracks dela. Temos muita coisa boa pela frente, sempre nessa linha entre o techno e o electro. Recebemos muitas demos boas e tem sido ótima essa nova linha de troca de informações e energias com o mundo que tem sido o Clash Lion.

No que diz respeito a sua identidade musical enquanto Daniel Watts, isso já está definido ou ainda se apresenta em forma de construção? 

Acho que sempre vai estar aberto. Eu nunca me sentei com o equipamento e pensei “vou fazer um techno” ou “vou fazer house como tal selo”. Eu sempre começo com as idéias e vou deixando a música nascer. Meu primeiro EP é mais puxado pro techno, que é uma das minhas principais influências. Estou adorando essa cara mais pesada pro Daniel Watts, até mesmo porque não quero concorrer com o Digitaria, então ficam duas facetas muito distintas das minhas idéias – além do que, claro, no Digitaria divido toda a criação com a Daniela.

Social Operators, seu EP de estreia, apresenta uma certa atmosfera progressiva e duas das faixas são bastante rápidas. O que exatamente te inspirou na produção desse trabalho?

Minha idéia principal foi a busca por atmosferas inovadoras e criativas, sem formulas pré-definidas ou a procura por um estilo A ou B. A melhor coisa de ter um novo projeto é que não existem muitas espectativas das pessoas e então você pode fazer o que quiser. Eu tinha mais ou menos vinte músicas que poderiam entrar nesse EP e escolhi essas três porque achei que tinham uma atmosfera que me agradava, tudo um pouco nebuloso, tecnológico e claustrofóbico.

Atualmente, como você enxerga o cenário eletrônico brasileiro? Podemos acreditar que um dia alcançaremos o nível de países que são referências históricas para esse mercado?

Acho que o Brasil tem excelentes produtores e DJs. O problema, para mim, é a diferença de oportunidades. Na Europa uma pessoa pode viver para fazer música, o equipamento é absurdamente mais barato que no Brasil e há mais clubes que pagam. No Brasil, pra pessoa largar tudo e se dedicar à música eletrônica, ela tem que ser muito rica (o que não é meu caso) ou muito doida (o que é meu caso).

Mas eu acho que, mesmo com todos os percalços, o Brasil vai muito bem, com muita gente criativa e talentosa. Acho que a cena tem muito o que crescer ainda, tanto em termos de produção quanto de clubes e DJs. É claro que ainda estamos longe do ideal, mas se a gente comparar com 20 anos atrás quanto não tinha quase nada, já dá pra ver que estamos trilhando um caminho excelente.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Eu não sei responder essa pergunta porque sinceramente não vejo muita diferença entre uma coisa e outra, desde muito pequeno eu escuto música o dia inteiro e a partir da adolescência eu faço música ou estou fazendo algo relacionado a ela o dia inteiro. Eu não saberia dizer o que é a vida sem a música. Imagino que deva ser algo muito chato e muito triste. A música, para mim, dá a cor e o tom para qualquer momento da vida, é uma dimensão necessária para todos os momentos da realidade.

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