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A música conecta

Deborah de Luca: decks, desejo e destreza

Por Redação Alataj em Entrevistas 24.11.2017

Por Chico Cornejo

Toda cidade seria sortuda de ter alguém como Deborah de Luca para ser sua embaixadora, já que ela congrega praticamente todos os trunfos que fazem de sua terra natal um lugar único, comportamental e musicalmente, e os carrega com um orgulho quase ufanista. Contudo, este arraigado senso de sua identidade não se limita apenas a uma apreciação superficial e passiva de suas raízes, ele se expressa em uma elaborada presença artística dotada da autenticidade que a levou a ser conhecida pelos mais fervorosos seguidores do Techno mundial.

A imagem pode conter: 1 pessoa, no palco, tocando um instrumento musical e noite

Sempre exibindo a vitalidade e exuberância que normalmente é associada a seus conterrâneos, ela constrói poderosas e belas jornadas em seus sets, cativantes pela potência que geram e envolventes pela ambiência que criam. É com este prospecto que suas apresentações na Ressonancia e no Belvedere Club esse final de semana é envolta em tantas expectativas, na qual veremos esta expoente da pujante cena napolitana dividir as cabines com veteranos germânicos do naipe de Matthias Tanzmann e Âme (em São Paulo), mostrando a todos que vigor não implica virilidade e fulgor tem tudo a ver com feminilidade.

1 – Certamente muita coisa mudou no cenário do Techno desde que começou a tocar. Através de sua carreira, quais foram as transformações mais significativas que experimentou até aqui?

Sem dúvida o que operou a mudança mais significativa foram as redes sociais, na minha opinião. O mundo mudou completamente e o advento dessas plataformas piorou as coisas, inclusive a música. Quando comecei, havia apenas o MySpace e ainda não era algo tão disseminado. Agora o Facebook torna tudo acessível a todos de forma imediata, o que faz com que as coisas sejam substituídas com maior velocidade e o tempo de vida de um gênero musical é abreviado. Então, se formos notar, tudo já mudou desde que comecei e continua mudando constantemente.

2 – Se contemplarmos a contribuição italiana para a música eletrônica como um todo, ela não pode ser subestimada. Você se sente parte de uma tradição maior da música de seu país, de uma herança por assim dizer?

Sou italiana e isso é um fato bem sabido mas, além disso, sou napolitana mais especificamente e minha cidade nos últimos 20 anos foi o berço de muitos músicos de Techno que hoje são reconhecidos pelo mundo todo. Tenho muito orgulho de de fazer parte desse grupo e também procuro percorrer o globo com minha música, dando minha contribuição.

3 – Já que falamos de Nápoles de modo mais específico, você diria que há aspectos peculiares a serem percebidos nos grooves oriundos daquela região ou mesmo na sua música que remeta a essa identidade regional?

Estou tão intimamente ligada à minha cidade que por vezes insiro alguns elementos da tradição musical napolitana na minha música, devidamente rearranjados e reestruturados por mim. E, embora em meu país alguns elementos não sejam bem vistos e julgados pouco sofisticados para o mundo do Techno (na Itália, nosso dialeto é sinônimo de atraso), sempre fui franca e aguerrida: apenas dou de ombros e mostro com orgulho e prazer de onde venho por onde quer que toque. Ver as pessoas dançando e pulando essa minha musicalidade me fez entender que na vida devemos sempre e somente seguir o que sentimos, não nos importando para opiniões alheias.

4 – Por um tempo você tocou o selo Sola_mente. Há algum plano de relançá-lo ou mesmo criar uma outra plataforma no futuro próximo?

Inaugurei meu selo com a simples finalidade de me dar liberdade para lançar minhas músicas sem ter de esperar que outras pessoas decidam algo por mim. Seja na vida ou no trabalho, adoro ter controle sobre tudo que faço e, por enquanto, quero cultivar essa plataforma. É o meu primeiro projeto deste tipo e tenho imenso apreço por ele… então quem sabe. Nenhuma porta está fechada, todas as possibilidades estão aí!

5 – Agora falando sobre o equilíbrio entre o estúdio e a cabine, qual seu método para manter ambos os universos criativos num ritmo produtivo sem conflito?

Pessoalmente, prefiro entrar em estúdio quando consigo deixar minha cabeça livre para que as ideias frescas possam fluir. Não preciso me forçar, mas também consigo trabalhar facilmente nas minhas faixas quando estou em vôos longos, como este que vai me levar da Itália ao Brasil. Doze horas em uma aeronave é um período tão longo que me permite, sem distrações como a televisão, as redes sociais e outras porcarias, me dedicar integralmente às minhas produções. Inclusive, meu pai nasceu em um desses voos de longa distância. Eu mesma me encontro num desses geralmente umas duas vezes por mês.

6 – E quanto a esta sua apresentação na Ressonância, considerando que é sua primeira vez, quais suas expectativas?

Estou extremamente feliz por poder tocar com o Matthias Tanzmann, com quem já dividi cabines antes. Mas, acima de tudo, é um privilégio poder fazer o mesmo com o Âme pela primeira vez, já que é um dos meus projetos favoritos de todos os tempos.

7 – Para finalizar, gostaria de compartilhar algumas palavras de sabedoria ou conselhos colhidos no decorrer de sua carreira com as mulheres que estão entrando agora na arena em que se destacou?

O amor pela música deve vir acima de tudo, até mesmo da busca pelo sucesso. Como o amor de um irmão ou filho, deve nascer de dentro e permanecer aí abrigado mesmo depois de épocas turbulentas. Isso sempre fará de você um bom artista, mesmo que seu público no início seja apenas alguns amigos mais próximos ou ninguém…

A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo, céu e atividades ao ar livre

A música conecta as pessoas! 

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