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A música conecta

Alaplay 400 | Alataj entrevista Fouk

Por Alan Medeiros em Entrevistas 11.09.2019

Em julho de 2013 o Alataj acabava de completar um ano de vida. Esse período foi um momento chave em nossa trajetória, já que iniciávamos um processo de mudança de posicionamento. De site, para uma plataforma de conteúdo. Nessa transição, poucas coisas foram mais importantes que o nosso Alaplay Podcast, que hoje chega a sua edição 400.

Criado como uma plataforma para dar espaço a novos artistas da região do litoral de Santa Catarina, logo o Alaplay se tornou um podcast de importância nacional para então, aos poucos, começar a absorver importantes nomes internacionais também. Mais de 6 anos já se passaram e desde então tivemos a honra de receber artistas como Hito, Sidney Charles, Mihai Popoviciu, Portable, Brian Cid, Monkey Safari, Marco Resmann, Chicola e Guy J, além claro de praticamente todos os principais DJs do Brasil.

Nosso podcast de número 400 é, claro, muito especial. Queríamos um artista capaz de representar a importância que uma marca como essa possui, mas que também trouxesse o frescor de um movimento. Isso tudo sem deixar de lado classe e criatividade, duas características que tanto admiramos na música. Dito isso, não há como negar que os holandeses do Fouk cumprem absolutamente todos os requisitos com sobras.

Daniel Leseman e Hans Peeman já haviam aparecido por aqui no começo do ano passado, com destaque na coluna Who. Agora eles retornam com uma entrevista exclusiva e mix celebrativo a marca de 400 podcasts lançados pelo Alaplay. O atual momento da dupla é merecidíssimo e com uma rápida análise no trabalho da dupla, fica fácil entender por quê labels como Room With A View, Razor-N-Tape, Heist e Toy Tonics tem apostado no trabalho deles até aqui.

+++ Já leu nossa entrevista exclusiva com Detroit Swindle? Ficou bem especial!

Em pouco mais de uma hora de mix, Daniel e Hans apostam em uma abordagem mais sútil da house music, permeando caminhos que ficam entre o deep house, house e disco, sempre com aquela assinatura clássica do Fouk. O bate-papo é igualmente especial e marcado por tópicos como gravadoras, processo criativo do duo, conexão entre os membros e muito mais. Confira abaixo:

Alataj: Olá, rapazes! Tudo bem? É um grande prazer falar com vocês. Podemos dizer que Fouk é parte de um importante movimento de renovação da house music nos últimos anos. Como vocês enxergam essas recentes transformações?

Fouk: O prazer é nosso também. Estamos bem! Viajamos para lugares incríveis esse ano e ambos viramos pais. Você diria que há pouco tempo para sermos criativos, mas pelo contrário, produzimos muitas músicas novas nos últimos meses. Muita inspiração! Estamos honrados por vocês nos considerarem parte do movimento.

Primeiro, é muito legal que agora as pessoas estejam com a alma na house music, dançante e orgânica, inspirada em muitas músicas de outros tempos. As pessoas estão realmente conhecendo música, o que é uma coisa boa para nós. É impossível não se mover com o fluxo, mas é importante permanecer verdadeiro.

Fouk: Vocês dois possuem uma história muito interessante frente a cena da dance music global mesmo antes da formação do projeto. Em quais aspectos a experiência de ambos foi importante ao longo dessa caminhada como Fouk?

Daniel: sim, Fouk começou no fim de 2013, mas nós tocamos e produzimos música alguns anos antes disso. Começamos tocando trance, quando tínhamos 15/16 anos, por volta de 1999. No auge da trance music holandesa. Ao longo dos anos desenvolvemos um gosto por estilos mais profundos da trance e mais tarde house music. Levou algum tempo para atingirmos o ponto em que estamos agora com o som do Fouk, mas acho que é um grande benefício ter passado por todos esses estágios da música.

Hans: Quando você trabalha com música há mais tempo, entende melhor o contexto das referências do passado (que estão sempre presentes na música). Acho que tendo isso em mente, podemos escolher melhor o caminho para a nossa música.

Impossível não citarmos as excelentes gravadoras que já receberam releases de vocês. Quais características vocês consideram essenciais na escolha de um label para trabalhar? Há algum selo que tem criado uma relação mais intensa com Fouk recentemente?

Daniel: Acho que é importante para nós termos uma conexão com a gravadora em nível pessoal. Ser transparente e poder discutir as decisões sobre nossas faixas e lançamentos abertamente. Pensar junto quais faixas seriam melhores e quando lançar um EP. Claro que network e alcance de uma gravadora também é importante, além do acompanhamento que eles fazem. Após nosso EP First Things First em nossa gravadora Outplay e principalmente o lançamento Kill Frenzy na Heist, muitos selos nos convidaram para lançar. Estamos muito felizes por trabalhar até agora com gravadoras como Room With A View, Razor-n-tape e House of Disco.

Hans: Com a gravadora de Detroit Swindle, Heist, temos a relação mais próxima. Somos muito gratos pelo quanto o time da Heist têm nos apoiado ao longo dos anos e como cada vez mais eles nos empurram a novos níveis de qualidade musical. É como se você fosse parte da família, o que é algo muito importante na cena.

Sempre fui muito curioso a respeito do processo criativo de duplas e trios na música eletrônica. No caso de vocês, como isso exatamente acontece entre a produção e discotecagem?

Daniel: Para produção, não temos uma ideia fixa de como trabalhar, apesar por conhecermos os pontos fortes um do outro, seguimos na mesma direção em toda produção. Principalmente se o tempo é essencial. Geralmente um de nós trabalha em um ideia ou trecho e juntos ajustamos e trabalhamos o arranjo. Também começamos muitos projetos no estúdio juntos, por exemplo, tocando um sample que encontramos. Fora desses projetos, trabalhamos para completar as faixas.
O mix final é finalizado praticamente durante o processo de produção. Afino a mix da música para prepará-la para a masterização.

Com a discotecagem temos o hábito de tocar dois discos cada um e depois trocar, mas se em algum momento algum de nós tiver a ideia de tocar várias faixas seguidas, apenas deixamos. É melhor quando tudo acontece naturalmente. No começo do Fouk, ainda tínhamos que nos acostumar a tocar juntos. Com o tempo, nos sentimos mais confortáveis, então virou diversão nos surpreendermos com algumas faixas, assim fazendo um DJ set variado.

Hans: Começamos muitos projetos juntos no estúdio nos últimos dois anos. Talvez por falta de tempo entre as turnês, queremos fazer com que nosso tempo valha a pena, assim como ficar juntos no estúdio o máximo possível de tempo possível, apesar de que recentemente também criamos novas ideias individualmente, o que nos renovou novamente. Acho que a lição é mudar periodicamente para que você não fique preso em círculos familiares.

Vocês se conhecem desde a infância, então presumo que cada um conhece muito bem os pontos fortes e fracos do outro. Vocês se lembram quando foi a última vez que se surpreenderam com alguma coisa entre si?

Daniel: Uau, essa é uma pergunta muito difícil, porém muito boa também! Em casa brincam que é como se fosse um segundo casamento [risos]. Sim, somos tão envolvidos na personalidade um do outro que é difícil identificar a última vez que fomos genuinamente surpreendidos.

Hans: Bom, talvez não seja uma surpresa por si só, mas a forma como lidamos com o tempo livre (cada vez diminuindo mais), que temos durante a semana para trabalhos criativos/estúdio, desde que nos tornamos pais está muito boa, devo dizer. E como a filha de Daniel é meio ano mais velha que meu filho, tem sido um bom teste de como conciliar com nosso trabalho [risos]. O aumento do foco e novos objetivos de vida aparentemente nos tornaram muito melhores no gerenciamento do tempo.

Vocês já passaram por algumas das pistas mais expressivas ao redor do globo, de Berlim a Miami, Nova Iorque a Paris. Há alguma noite ou ocasião que possa ser considerada um ponto de virada nesta jornada?

Nos parece mais um passeio tranquilo, não há um ponto de virada muito definido em nossa carreira. É claro que o lançamento Kill Frenzy na Heist foi nossa grande introdução à cena. Também participamos do Glastonbury Festival, conseguimos nosso visto para os EUA e fizemos várias turnês por lá. Outra coisa que vem à mente é que nossa turnê pela Austrália nos fez perceber que muitas pessoas do outro lado do mundo conhecem nossa música. Tivemos algumas gigs memoráveis por lá. Então não foi bem um ponto de virada, mas muitos momentos memoráveis.

O que exatamente vocês selecionaram para este mix que celebra o número 400 da nossa série Alaplay?

Reunimos algumas coisas bem legais de alguns discos que compramos, do house jazzístico suave a faixas inspiradas em disco/afro. Diferentes vibes essencialmente. Uma faixa do novo álbum de Thatmanmonkz, que é incrível. Temos um novo lançamento que vai sair na nova sublabel da Outplay: 24 Carrot. A gravadora é para “outras” faixas; aquelas que não se encaixam em um EP na Outplay. Seja edições, faixas soltas ou apenas coisas estranhas. 24 Carrot #1 consiste em uma faixa de Junktion e duas faixas de Fouk. Incluímos a faixa de Junktion no mix. Finalizamos o mix com o remix de Austin Ato para Children of the Sun de Golden Dawn Arkestra. Essa ficou presa na nossa cabeça por dias.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em suas vidas?

Daniel: acho que está conectada com praticamente tudo na minha vida. Toco desde os meus 10 anos e tem sido uma parte importante durante toda a minha infância, ouvindo a coleção de músicas clássicas dos meus pais em vinil ou cassete e ouvindo minha mãe cantar músicas no rádio. Desde que comprei meus primeiros toca-discos, tudo se resume à compra de discos e à vontade de aprender e fazer música.

Desde aquela época, eu sabia que queria trabalhar com música em tempo integral algum dia. Sou muito feliz e abençoado por ter alcançado esse objetivo. Trabalhar com música e sons nunca é chato. O melhor é que sempre há músicas novas ou velhas para descobrir e se inspirar. E isso influenciará sua produção também. Você nunca sabe realmente como sua música vai evoluir.

Hans: Não acho que eu consigo viver sem. A música sempre esteve presente na minha casa, minha mãe é a maior fã de música da nossa família. Acho que peguei isso dela. Tenho um gosto amplo, cresci ouvindo Pearl Jam, Green Day, depois Wu Tang Clan e tudo isso antes de me estabelecer no trance (sim, em todos os lugares). Eu e Daniel começamos a descobrir como produzir a trance music que ouvíamos e isso realmente permaneceu com a gente.

Passamos muitas horas escondidos no sótão das casas dos nossos pais, mexendo com batidas e sintetizadores. Durante meus estudos comecei a gostar do disco old school e deep house, que faz parte de mim desde então. Engraçado, dez anos atrás eu nunca pensei que seria um artista em turnê. Foi uma jornada muito gratificante para mim e aprendi muito sobre mim também.

A música conecta.

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