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A música conecta

Alataj entrevista James Zabiela

Por Alan Medeiros em Entrevistas 06.12.2018

Os inúmeros avanços da tecnologia no campo musical impactaram diretamente a profissão do DJ. Inegavelmente, a prática da discotecagem tornou-se mais simples e com a criação do SYNC, parte do encanto se perdeu. Entretanto, há algo que máquina nenhuma conseguirá substituir: o feeling de pista. Execução, performance e memória são habilidades atribuídas e executadas com perfeição por uma máquina, mas criatividade é algo exclusivo do homem.

O britânico James Zabiela é um dos poucos a utilizar os avanços da tecnologia em primeiro nível para evolução do perfil de um DJ no formato old school. Segundo muitos dos seus colegas de profissão, Zabiela toca com CDJs como se elas fossem uma extensão das turntables, onde ele aprendeu a tocar. Sua reputação frente ao cenário internacional pode ser considerada histórica e muito disso se deve a forma como James se relaciona com a música quando está no dance floor – íntina, verdadeira, intensa…

Após um hiato nos lançamentos, James Zabiela lançou esse ano uma compilação para a tradicional série Balance Mix. A seleção do DJ e produtor britânico conta com faixas de nomes como Kornel Kovacs, Sad City, Talaboman, Architectural, Avalon Emerson, Lake People, Truncate e o brasileiro Davis. Esse fim de semana, Zabiela retorna ao Brasil para uma única gig, na Me Gusta, que celebra 8 anos e ainda recebe Andres Henneberg e DJ Marky. Antes do encontro com a pista carioca, nós convidamos JZ para um bate-papo exclusivo. Confira abaixo:

Alataj: Olá, James! Tudo bem com você? Historicamente o Reino Unido possui uma das escolas mais tradicionais da dance music. Ter crescido e se desenvolvido nessa região foi algo primordial para a evolução da sua carreira?

James Zabiela: Absolutamente. A minha infância foi enraizada na clássica cultura rave dos anos 90, desde o seu início. Meu pai viveu e respirou música eletrônica durante esse período e, naturalmente, tornou-se parte da minha vida, contra a minha vontade. Após anos de rebelião ouvindo música indie, cedi ao ritmo repetitivo. Na época, era mais fácil fazer meu “estágio escolar” na loja de discos onde meu pai trabalhava. Esse foi o verdadeiro turning point. Tornou-se um estilo de vida para mim.

Percebo que poucos DJs usam as CDJs de uma maneira criativa e profunda como você faz. O que você pode nos contar a respeito dessa relação intrínseca que mantém com o seu instrumento de trabalho?

Eu acho que tendo a ficar muito obcecado com as coisas. Tenho que me forçar a não tocar com gadgets e brinquedos, porque se eu não sei cada aspecto de como eles funcionam por dentro e fora, eu não suporto. Isso é estranho? Eu também sou o tipo de jogador que tenta completar todo e qualquer desafio, se eu não tivesse conseguido todas as moedas de ouro no Super Mario World, isso me incomodaria. Também adoro me sentir em sintonia com qualquer ferramenta que eu esteja usando, seja CDJs, FX Units ou controladores da Super Nintendo.

Sendo assim, como uma espécie de performer, obviamente, isso me proporciona um nível de conforto quando toco na frente das pessoas e para alguém como eu, que é um pouco nervoso na vida real, é importante se sentir confiante em um palco. Nos primeiros dias, provavelmente havia uma parte competitiva de mim que “queria ser a melhor pessoa na CDJ” ou qualquer outra coisa do tipo [risos]. Então, acho que inicialmente meu ego também me levou a usá-las dessa maneira. Essa resposta parece mais pretensiosa do que eu pretendia, desculpa.

Em Fevereiro deste ano você lançou uma compilação para a conceituada série Balance. O que você pode nos contar a respeito do processo de seleção de faixas para este release?

Como mencionado acima, comecei a ouvir milhares de faixas e fiquei um pouco insano com o processo, pois estava sempre pensando que a faixa perfeita que estava faltando poderia estar na esquina. Eu tive que lembrar constantemente a mim mesmo que não podia ouvir todas as faixas criadas antes de começar a juntá-las ou então nunca começaria. Encontrar esse ponto de corte foi algo que achei extremamente desafiador. Eu queria desesperadamente fazer essa peça de uma forma em que todas as faixas  se complementavam musicalmente, transmitiam sentimentos e contavam uma história interessante que era verdadeira, mas acertar todos esses objetivos era mais fácil dizer do que fazer. Adoro caminhar sozinho no clima cinzento e sombrio do Reino Unido, com os meus fones de ouvido, ouvindo um ótimo LP nos meus trajetos. Minha intenção genuína era fazer um álbum para os outros curtirem da mesma maneira.

Ainda sobre lançamentos, em Julho você saiu com Vines pela Born Electric. A composição base deste EP possui uma atmosfera bastante original, enquanto os remixes são mais voltados ao dance floor. Pessoalmente e profissionalmente, o que esse lançamento representa pra você?

Vines foi produzido enquanto eu selecionava o mix Balance. Eu tinha algumas emoções ruins na vida real para lidar na época e então era uma maneira de canalizar essa energia. Os remixes foram selecionados com dois outros artistas que estavam no mix, ambos dos quais eu sou um grande fã. Claramente, como eu escolhi suas faixas entre milhares literais que eu tinha ouvido para a compilação. Então, significou muito que ambos concordaram em fazê-lo.

É um tanto quanto difícil – e arriscado – definir seu estilo musical na discotecagem. Dito isso, é possível dizer que sua pesquisa musical é muito mais direcionada a músicas com potencial de pista do que propriamente um gênero ou outro?

As pessoas querem sair para dançar, então sim, eu diria que sim. Sou muito aberto quando se trata de compra de discos, mas quando seleciono as músicas para cada apresentação, tento fazer uma pesquisa para cada festa em particular.

O que exatamente motiva o James Zabiela a viajar o mundo todo tocando música para as pessoas?

É a sede por grandes gigs. Se eu preparar um set que todo mundo gosta, que reflete o que eu sou musicalmente e eu fizer isso bem, para mim, é o melhor. É a sede por aquelas gigs onde todos os elementos são perfeitos. Quando tem uma gig que não foi muito boa, anseio pela próxima para me redimir e quando eu tenho uma boa, só quero mais. É realmente um vício, onde estou constantemente na busca pela gig perfeita e uma parte não muito saudável da minha autoestima  muitas vezes parece ser baseada em quão boa uma gig é.

Quais são suas melhores lembranças sobre o Brasil? Qual o sentimento que paira sob você quando seu agente confirma um novo booking por aqui?

Na verdade, pedi ao meu agente ajuda para encontrar uma gig no Brasil desta vez, pois não é um lugar que vou com muita frequência. Quando ele achou, fiquei super feliz! Tive uma variedade de gigs no Brasil, o primeiro há muitos anos foi em um desfile de moda que era um pouco estranho, mas a última vez que eu toquei foi em um terraço em São Paulo e foi muito bom.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Propósito. Música é quase tudo na minha vida, acho que algumas pessoas podem achar isso triste. Se eu estiver tocando, escutando ou aprendendo como fazer, é o meu sangue vital. Bom, isso e podcasts (o novo jogo do Homem Aranha no PS4 também).

A música conecta.

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