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A música conecta

Alataj Invites | Vem ver o que Jóhn Gomez aprontou por aqui. Só tem coisa boa!

Por Alan Medeiros em Entrevistas 22.02.2018

Nascido em Madrid, Jóhn Gomez criou raízes musicais em diferentes partes do mundo, incluindo no Brasil. Atualmente com residência em Londres, ele desfruta de uma reputação que encheria qualquer DJ do mundo de orgulho: se reconhecido como um exímio pesquisador musical, daqueles capazes de desenterrar coisas bizarramente incríveis.

Seu acervo musical é tão profundo, que fica difícil apontar uma especialidade. Um de seus trabalhos mais notórios, a compilação Outro Tempo, da Music From Memory, vasculhou uma infinidade de eletro brasileiro obscuro e esotérico dos anos 70 e 90. Seu garimpo incansável por novos-velhos sons o rendeu a liderança no programa da NTS assinado pela Rush Hour e caras do calibre de Antal e Hunee o veneram como um talento de rara felicidade atrás dos decks.

A nosso convite, Jóhn Gomez preparou uma playlist exclusiva, acompanhada de respostas pontuais que envolvem fases importantes de sua intensa caminhada na música. Vale lembrar que ele toca semana que vem no Dekmantel Festival São Paulo. Se liga aí:

Alataj: Olá, John! Tudo bem? É um prazer falar com você. É nítido com a música brasileira é uma grande referência pra você. Como exatamente isso começou? Quem são seus artistas brasileiros preferidos?

Jóhn: Sou fã da música brasileira desde que eu era adolescente, quando descobri artistas como Airto, Milton Nascimento e Flora Purim, através das colaborações deles no LP do George Duke, Brazilian Love Affair. Esse disco foi realmente importante para mim, pois abriu um novo mundo e, de certa forma, tive um uma relação de amor com a música e a cultura brasileira desde então. É difícil escolher os preferidos à medida que os gostos se desenvolvem constantemente, artistas clássicos como João Donato, Azymuth e Luiz Eça, mais recente, pessoas como Pedro Santos, Leci Brandão, ou Marlui Miranda. Sempre há muita música incrível no Brasil.

Seu trabalho com o radio show da Rush Hour na NTS certamente abriu muito sua pesquisa musical sob diferentes frentes. O que você tem tirado de melhor desse trabalho e como ele ajudou a formar sua personalidade enquanto DJ?

Rush Hour como selo e loja é construído na imagen de Antal, com amplos interesses musicais que variam do techno de Detroit ao Makossa dos Camarões. Conheço Antal há um bom tempo e compartilhamos esses interesses, então foi ótimo canalizá-los no show. Ao apresentar o show, sempre tento focar minha seleção em lançamentos por labels próximos à Rush Hour e equilibro isso com a personalidade musical do convidado. Então, de certa forma, isso me fez permanecer versátil.

A compilação Outro Tempo certamente é um dos highlights de sua carreira. Conta pra gente como foi desenvolver esse trabalho:

Foi muito trabalho árduo, mas também foi fascinante e gratificante, já que conheci e me tornei amigo de um incrível grupo de músicos. Tudo começou com uma ideia simples: reunir algumas músicas incríveis de um período no Brasil que eu senti que foram amplamente ignoradas, pelo menos fora do Brasil. Me interessei nesse som em particular depois de encontrar o LP Brasileira de Maria Rita Stumpf. Soava realmente único para mim, como Folk Avant-Garde com uma sensação eletrônica. Comecei a pesquisar mais músicas desse período para ver se havia mais como essa e fiquei encantado ao descobrir que havia outros álbuns com texturas semelhantes que ressoavam sons contemporâneos eletrônicos e ambientais. A ideia cresceu à medida que as conexões entre músicos e cenas musicais começaram a se tornar aparentes e senti que o projeto cresceu em importância, assim eu esperava que reunindo-as com uma curadoria cuidadosa ajudaria a dar a esses músicos o reconhecimento que eles mereciam.

Madri e Londres: como cada uma dessas cidades influenciou a forma como você enxerga e trabalha com a dance music?

As duas cidades têm características, histórias e, claro, personalidades musicais diferentes. Por mais que eu ame minha cidade natal Madri, sempre fui atraído pelo cosmopolitismo de Londres. Mais do que qualquer outra cidade que eu conheço, Londres prospera em um espírito de experimentação intercultural: a essência da sua música é o encontro de tradições musicais distantes com a intensidade da vida urbana. Londres é um lugar difícil para morar: requer muita energia, empreendedorismo e constante adaptação. Se você ficar parado em Londres, a cidade te engole e você se torna irrelevante. Essa necessidade de movimento se transforma em energia criativa e uma constante renovação das oportunidades musicais. Madri, em contrapartida, é muito mais descontraída. É um lugar muito mais confortável para morar e eu sinto que às vezes as pessoas focam em cenas e se mantêm com elas, mesmo por um longo tempo depois de terem deixado de ser relevantes em outros lugares. Não há a mesma necessidade de se reinventar constantemente e por isso acho que os colecionadores prosperam lá. Se eu tivesse que nomear minha maior influência musical de Madrié que aprendi muito com os colecionadores espanhóis, seja de soul, jazz, música experimental, etc.

Sobre suas expectativas para o Dekmantel São Paulo: tocar no palco Gop Tun proporciona pra você uma liberdade de construção ainda maior?

Para mim, é realmente uma honra estar neste palco, já que a maioria dos artistas que vão tocar (com exceção de Palms Trax e Floating Points) são brasileiros. É muito especial para mim ter o meu trabalho reconhecido pelos brasileiros e estar incluído junto com amigos como Selvagem, Carrot Green, Maria Rita e Os Mulheres Negras. Além disso, é um sonho tocar antes de um dos meus grupos favoritos de todos os tempos, Azymuth! Sobre como isso influenciará minha seleção, espero ser mais influenciado pelos arredores, tempo e pessoas do que o próprio palco. Dito isso, espero tocar duas horas de música que mostre um pouco do nosso som de Londres para São Paulo.

Qual direcionamento você teve para escolhe as faixas dessa playlist?

Eu não uso Spotify, por isso fui condicionado pela música que eu pude encontrar. É difícil encontrar alguns dos menores e mais obscuros discos que eu tanto gosto, a menos que tenham sido reeditados recentemente ou incluídos em uma compilação, então procurei muitos lançamentos mais recentes por labels ou artistas que eu gosto, passando do jazz e ambient para mais dubby e sons eletrônicos, mas mantendo-se soulful por ser uma playlist para ouvir em casa, eu não quis que a música fosse pesada demais para os ouvintes.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Foi minha companheira mais longa. Como um familiar próximo, algo que eu espero que permaneça na minha vida de forma significativa por um longo período de tempo.

A música conecta as pessoas! 

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