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A música conecta

Alataj entrevista Johnny Da Cruz

Por Alan Medeiros em Entrevistas 20.05.2019

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Após construir uma carreira com participação notória no desenvolvimento da cena eletrônica underground de São Paulo, Johnny da Cruz experimentou novos ares ao se mudar para Berlim no ano passado. A escolha não é fruto do acaso, já que nos últimos anos o brasileiro se acostumou a tocar pelo país em tours internacionais sempre muito bem orquestradas.

Em terras tupiniquins, Johnny construiu importantes conexões, marcou era com a Voyage, ajudou a fundar a EKO e durante 7 anos teve uma residência de sucesso na tradicional noite Freak Chic do D-EDGE. Em meio a isso tudo, aprimorou suas habilidades como produtor musical e conquistou releases por selos como URSL e Rural Records.

Aproveitamos sua passagem pelo Brasil no último fim de semana para conduzir uma nova entrevista. Vale lembrar que na próxima terça, Johnny toca em Amsterdam na conceituada Red Light Radio, celebrando o lançamento do EP Suspicious no Klunkerkranich em Berlim. Confira o resultado do bate-papo:

Alataj: Olá, Johnny! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. A lista de cidades que você já atuou, dentro e fora do Brasil, é bastante extensa. De uma forma geral, como você busca se conectar com as cidades em que toca?

Johnny da Cruz: Acredito que no Brasil isso está totalmente relacionado primeiramente a Voyage, meu primeiro projeto, que na época trouxe muitas novidades para a cena e vários promoters de várias cidades do país entravam em contato querendo levar a energia da festa para seus clubs. Foi uma época bem mágica para mim e para o meu sócio Gustavo Miranda, e permitiu abrir portas em vários locais bacanas que até hoje me convidam para tocar. Prova disso é que na última quinta (16) teve um revival da Voyage no Orfeu após anos que o projeto esteve parado, foi muito legal só de ver a reação das pessoas quando anunciamos o revival.

Outro motivo inegável foi ficar como DJ residente do D-EDGE por sete anos, na fase de ouro do club. Fora do país, minhas duas primeiras tours na Europa foram bem pequenas, mas me ajudaram a conhecer muita gente que vive a música eletrônica intensamente como eu, e cada vez que eu ia, abria uma porta nova. No final das contas, em 2017 cheguei a tocar quase 20 gigs na Europa, a maioria na Alemanha, o que me motivou a mudar para Berlim no ano passado.

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O que essa transição em definitivo para Berlim trouxe de mais positivo para sua carreira até aqui?

No ano passado várias coisas passaram na minha cabeça que me levaram a tomar essa decisão. Estou morando em Berlim há apenas um ano, mas se for dizer tudo de positivo que já aconteceu poderia ficar falando aqui por horas. Diria que as principais foram me aprofundar mais dentro da cena mais incrível do planeta, conhecer muita gente boa no que fazem e que valorizam o meu trabalho. Outra coisa importante para mim é que em 2017 eu lancei meu primeiro EP pelo selo URSL e quando me mudei em 2018, a família URSL me abraçou e tem me levado para tocar em showcases incríveis ultimamente. Hoje de manhã mesmo me confirmaram no line up do Garbicz, o festival que eu mais tinha vontade de tocar na Europa.

Outra coisa foi que estando em Berlim ficou mais fácil de conhecer e me aproximar de vários produtores que admiro, e hoje eles estão lançando no na EKORD, me ajudando ao máximo a fazer o projeto dar certo. Em janeiro foi o duo Soukie & Windish com um EP de 3 faixas e que pela primeira vez colocou a gravadora no top 100 do beatport. Sexta passada, foi a vez do Niko Schwind remixar o single do Mumbaata, que também já entrou no top 100 do beatport. E em julho sai um EP que estou ansioso para trazer para o público, um single do Dave DK com um remix absolutamente insano do Lake People.

Por fim, meu acesso a selos bacanas como produtor também aumentou. Até minha mudança para Berlim eu tinha apenas um EP e um single lançado, enquanto apenas nesse mês de maio lancei um EP novo, um single e também um remix. Então tem muita coisa acontecendo em tão pouco tempo que eu fico até meio perdido as vezes.

Você teve uma residência de 7 anos no D-EDGE que certamente contribuiu muito para o seu amadurecimento enquanto DJ. Dito isso, quais são suas principais lembranças tocando na cabine deste notório club brasileiro?

Tenho boas lembranças do D-EDGE, com certeza me desenvolvi muito no club. Minha gig mais marcante por lá foi uma noite em 2012 com Ame, Dixon, Neighbourd e Pareto no line. Entreguei a pista pro Dixon e foi memorável. Mas essa foi uma fase que passou.

Ao se desvincular do D-EDGE você ajudou a criar a EKO, que mais tarde também deu origem a EKORD. Quais foram os principais desafios que você teve que superar nesse novo momento da sua carreira?

Foi um pouco difícil. Apesar de eu ter começado minha carreira fazendo uma festa independente, já faziam 7 anos que eu não precisava me preocupar com todos os detalhes que a produção de um evento envolve. E além disso, o nível de profissionalismo da cena depois desse tempo todo era muito maior do que na época da Voyage. Precisei me atualizar e também tomar riscos grandes para investir em festas muito custosas, mas tive muita sorte de encontrar pessoas que apoiaram o projeto. Foram várias, mas faço questão de agradecer especialmente ao pessoal do Nos Trilhos e também ao Fractal Mood pela força nessa fase de recomeço. No fim das contas, quando eu decidi me mudar para Berlim, eu e meu sócio na EKO/EKORD optamos por dividir o projeto, ele ficou com a festa e eu com a gravadora.

Ainda sobre a EKORD. Passado, presente e futuro: o que você pode comentar sobre a realidade do label neste momento?

Meu foco está totalmente no selo. Os artistas em Berlim me abraçaram de uma forma que nem nos meus melhores sonhos eu esperava. Artistas que estão acostumados a lançar em selos grandes como Permanent Vacations, Feines Tier, Still Vor Talent, Pampa, Kompakt, entre vários outros, estão acreditando no projeto da EKORD e estão lançando músicas no selo e isso me deixa muito animado e otimista com o futuro da gravadora. Acredito que isso é como uma bola de neve, a medida que esses caras topam lançar, fica mais fácil de convencer outros grandes nomes a lançarem, e por ai vai. Teve artista que inicialmente recusou, e depois que ficou sabendo que o Dave DK lançaria, acabou topando também. Isso ajuda muito no crescimento do selo, e o interesse pelos clubs para realizar showcases da EKORD está cada vez maior. Podem aguardar um segundo semestre e, principalmente, um 2020 recheado de showcases do selo pela Europa, e quem sabe, no Brasil.

Viver em Berlim representa estar frequentemente em contato com uma das principais escolas da dance music no planeta. De que forma o background musical alemão tem influenciado você enquanto DJ e produtor?

Um dos caras da cena brasileira que eu mais admiro, o DJ Magal, certa vez disse que “nunca foi e nunca será DJ de um único estilo”. E eu super me enquadro nisso. Desde os primórdios da minha carreira, a proposta da Voyage era fazer uma evolução que ia desde o downtempo/nujazz 90 BPMs no início da noite, passar pelo nu-funk, e cair noite adentro com o deep e o house. Berlim é uma cidade que te permite tocar tudo isso e mais um pouco. Inclusive, é inegável que meu som tem ficado um pouco mais pesado devido a influência do Techno em Berlim.

As opções de clubs e festas são tantas, nos mais variados estilos, que isso permitiu que eu resgatasse essa essência que eu sempre tive de misturar coisas diferentes dentro de um set. Tenho tentado amplificar essa minha visão de que tudo dentro do universo da música eletrônica se conecta, através da EKORD. Se você ouvir nossos releases, verá que não seguimos uma linha uniforme, e isso é intencional.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Hmm… Acho que para entender isso basta você ver o brilho no meu olhar quando falo sobre música e meus projetos.

A música conecta.

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