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A música conecta

Alataj entrevista Luciano Garrido

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A cena eletrônica do Uruguai não possui um grande número de DJs e produtores reconhecidos mundialmente, mas isso não significa que não há artistas fazendo um bom trabalho por lá. Entre eles esbarramos com Luciano Garrido, um personagem que desde seus 15 anos produz música eletrônica e nunca deixou de acreditar no seu potencial artístico. Atualmente ele se destaca principalmente como um dos idealizadores do La Terraza, uma festa gigantesca que já chegou a receber mais de 5000 pessoas em seu país e um número de DJs internacionais renomados que até então não era comum pisarem em terras uruguaias. 

Garrido já esteve no ano passado durante uma gig no Amazon Club, em Chapecó, e agora retorna ao país para estrear no Clube Inbox, em Curitiba, nesta sexta-feira (06). Em sua primeira entrevista a um portal brasileiro de música eletrônica, trocamos uma ideia muito bacana sobre alguns dos principais highlights de sua carreira e o artista mostrou bastante lucidez sobre seu papel na cena eletrônica. Abaixo você confere o resultado desse bate-papo exclusivo.

Alataj: Olá, Luciano! Tudo bem? Primeiramente obrigado por conversar com a gente. Há pouca informação sobre sua carreira disponível na web, então que tal você nos contar um pouco mais sobre você? Quando seu amor pela música eletrônica começou?

Luciano Garrido: Meu envolvimento com a música eletrônica começou quando eu tinha 10 ou 11 anos. Meu pai costumava viajar de tempos em tempos e trazia muita música europeia com ele. Foi quando conheci Deep Dish, que despertou minha admiração por esse gênero. Aos 15 anos, comecei a produzir música e, quando completei 18, a gravadora dinamarquesa entrou em contato comigo dizendo que estavam muito interessados em minhas músicas.

Foi a melhor notícia que poderia receber, eles lançavam artistas como Trentemøller, Sian, Guy Gerber, Maetrik (Maceo Plex) e eu tinha certeza que era uma oportunidade única na vida. Infelizmente, pouco antes do lançamento da minha primeira faixa em vinil, a gravadora faliu. Na mesma época, a gravadora francesa Time Has Changed entrou em contato comigo para lançar minhas músicas e isso definitivamente me deu um empurrão para escolher o caminho da música.

Aos 19 me mudei para Barcelona a fim de mergulhar no mundo da música. Dois anos depois comecei a produzir minha própria festa, Moonstar. Tive a honra de dividir os decks com artistas que admirava muito, como Damian Lazarus, Pier Bucci, Shaun Reeves, etc. 

Passei 5 anos adquirindo o máximo de conhecimento possível sobre discotecagem e produção de eventos. Após isso, decidi voltar ao Uruguai e criar meu ciclo de festas chamado La Terraza. Começou com um evento para 300 pessoas e hoje atrai aproximadamente 5000 pessoas. Abriu portas para grandes oportunidades e tive a chance de tocar com Loco Dice, Joseph Capriati, Andrea Oliva, Seth Troxler, Boris Brejcha, Fisher, Hot Since 82, Nic Fanciulli, Green Velvet, Kolombo e muito mais.

Hoje seu estilo transita entre o techno e o tech house, certo? Quais caminhos te trouxeram até estes estilos? O que foi fundamental para moldar sua identidade atual?

Sou bastante versátil quando se trata de discotecagem. Sempre tento adaptar meu som ao público, sem deixar minha identidade de lado. Graças a Deus, tive a oportunidade de fazer warm ups para grandes artistas com estilos completamente diferentes. Há uma grande diferença entre tocar antes de Boris Brejcha e antes de Barem. Amo música em todas as suas formas e me sinto confortável tocando do microhouse ao techno. Acredito que o mais importante seja conquistar a atenção do público e fazê-lo viajar por meio de estilos e sensações.

Aqui no Brasil a música eletrônica underground tem ganho um espaço cada vez maior. Essa evolução também está acontecendo no Uruguai, seu país de origem? O que você pode nos contar a respeito do atual momento?

A cena tem evoluído muito mais rápido no Brasil do que no Uruguai. Há seis anos as festas aqui eram organizadas para não mais do que 300 pessoas. No entanto, está ficando maior ano após ano. Esse crescimento deve vir com outras melhorias, como a infra-estrutura e a própria organização. Felizmente, estamos chegando lá! Os festivais são enormes e os artistas mais reconhecidos estão vindo aos poucos. Mas ainda precisamos aprender muito com nossos países vizinhos.

Você é idealizador do La Terraza, certo? Vimos que o evento tem uma proposta bastante singular, é colorido, divertido… Como surgiu a ideia de dar vida a essa festa em Montevidéu?

Sim, está certo. Sou feliz por dizer que sou um dos criadores. Esse festival tem um espírito próprio e uma energia única. Antes de surgir, as festas no Uruguai eram apenas underground e muito sombrias. As pessoas tinham até medo delas. Na Europa, me apaixonei por festas à luz do dia e, quando voltei, senti a forte necessidade de fazê-las aqui. Em outras palavras, o que eu queria fazer era exatamente o oposto do que estava acontecendo. Dar às pessoas a oportunidade de aproveitar o sol, decoração atrativa, performances, jogos e um novo tipo de marketing. 

Depois de meses de trabalho árduo, finalmente fizemos acontecer e foi uma verdadeira explosão! Em menos de seis meses passamos de 300 para 2000 pessoas, e hoje o La Terraza ainda está crescendo. De fato, estamos recebendo pedidos de clubes da Argentina, Chile e Brasil para realizar o festival por lá.

Após um certo hiato, você voltou a lançar algumas produções autorais. Quais são seus planos exatamente? Apostar no trabalho de estúdio ou continuar forte nas cabines como DJ?

A verdade é que comecei como produtor e sempre será minha grande paixão. Mas a vida me fez crescer profissionalmente como DJ, mais do que como produtor. Faz dois anos desde que voltei a produzir intensamente. Alguns meses atrás, Hot Since 82 tocou uma das minhas faixas em sua apresentação no Cercle e foi ótimo.

Gravadoras estão em contato comigo para lançar minhas músicas e estou tentando selecionar bem em qual lançar. Atualmente estou trabalhando em um novo EP com Matthew Lima, remixado por Zlantichi e  Loop Deville. Esse EP é focado em deep house com um groove constante e penetrante. Minhas últimas produções variam entre house e breaks. Meus DJ sets estão fortemente influenciados por esses dois estilos.

Ano passado você fez sua estreia no Brasil, tocando no Amazon, em Chapecó, e agora está retornando ao país para uma gig no novo Clube Inbox, em Curitiba. Qual sua relação com o nosso país? Musicalmente você tem acompanhado algo daqui?

Ano passado tive uma incrível estreia na Amazon. Foi uma festa incrível e a energia que recebi dos brasileiros foi inacreditável. Estou animado para voltar e ansioso para aprender. No Uruguai temos muito respeito pela cena brasileira. Há clubes icônicos, como Warung e D-EDGE, e novos que são impressionantes, como AME Club. Também há DJs e produtores realmente talentosos como Gui Boratto, Renato Cohen e artistas emergentes como Fran Bortolossi, ZAC e Albuquerque. Sem dúvidas, é um dos países mais fortes quando se trata de música eletrônica na América do Sul.

Por fim, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

A música trouxe as maiores satisfações que senti em toda a minha vida. Eu amo o que faço, não mudaria isso por nada no mundo, sou muito sortudo, sou capaz de sentir essa paixão e ainda lucrar com isso.

A música conecta.

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