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A música conecta

Alataj entrevista Mario Sergio de Albuquerque

Por Alan Medeiros em Entrevistas 20.03.2019

O Brasil, enquanto cenário de música eletrônica, possui uma aptidão histórica para clubs de grande porte. Basta uma rápida reflexão em torno do nosso passado e até mesmo de um histórico mais recente para entendermos que os chamado superclubs oferecem uma experiência muito procurada pela comunidade clubber nacional.

O grande ponto em torno dessa questão é o alto investimento e o formato de negócio arriscado que acompanham a concepção e construção dessas iniciativas. Para gerir um club de capacidade semelhante a 5 mil pessoas, é necessário altas doses de conhecimento, experiência e principalmente visão a respeito das tendências e confirmações que a cena eletrônica tende a oferecer.

No Brasil, pouquíssimos profissionais são tão preparados quanto Mario Sergio de Albuquerque para liderar um projeto neste formato. Co-fundador e diretor do Laroc e Ame, Mario é um profissional com uma longa bagagem junto a eventos de grande porte dentro do território nacional.

Empresário, na essência, ele enxerga oportunidades em cenários de grande potencial e nos últimos anos transformou o Laroc em uma marca símbolo da cena eletrônica brasileira. Às vésperas do festival de Carnaval apresentado por seus dois clubs, nós o convidamos para um bate-papo exclusivo. Confira o resultado abaixo:

Alataj: Olá, Mario! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Não demorou para que o Laroc se tornasse um dos grandes titãs da música eletrônica nacional. Hoje, pouco mais de 2 anos após a inauguração do club, qual é o balanço de todo trabalho que você faz até aqui?

Mario Sergio de Albuquerque: Obrigado pela oportunidade. O Laroc completou 3 anos de vida no último mês de outubro, ou seja, seguimos em nossa 4ª temporada já com 60 aberturas realizadas. O balanço sem dúvidas é positivo, principalmente pelo papel de protagonista na cena nacional, essa era uma das intenções desde a abertura. Tínhamos o objetivo de estar entre os três principais clubs do país em pouco tempo e acho que conseguimos. Algumas correções na rota durante o percurso até aqui foram necessárias, mas hoje temos um equilíbrio maior e entendemos melhor o nosso negócio, limites, forças e fraquezas.

O Laroc Club possui, assumidamente, uma linha de curadoria mais comercial, mas que já abriu espaço para artistas do chamado underground. Como você avalia os resultados e aprendizados obtidos com esse tipo de evento? O que exatamente foi decisivo para criação do Ame, marca 100% focada em vertentes conceituais?

Quando o Laroc surgiu, a ideia desde o início era de que fosse um club democrático, sem rótulos, podendo receber artistas de qualquer vertente da música eletrônica. Conseguimos isso em pouco tempo, com três anos de vida tivemos nomes de ambas as cenas, mainstream e underground, como Armin Van Buren, Alesso, Axwell, Hardwell, Nicky Romero, Galantis, Diplo, Dj Snake, etc., como também Solomun, Loco Dice, Luciano, Kölsch, Guy Gerber, Stephan Bodzin, Hernan Cattaneo e muitos outros.

Como mencionado na pergunta anterior, isso trouxe um histórico de performance que nos fez dar este salto para abrir outro club logo após 3 anos de sua abertura. Isso não fazia parte dos planos, aconteceu justamente por conta da maneira que iniciamos nossa operação dando espaço e trabalhando com todas as vertentes. O que ficou claro é que o Laroc possui uma área muito grande para noites mais conceituais, digo isso não só em capacidade, mas também pela maneira como ele foi projetado, afinal, não é nada intimista, pelo contrário, é big room total. Outro dado importante é que os percentuais de ocupação eram consideravelmente menores do que quando tínhamos noites mais comerciais. Isso tudo impulsionou a ideia de abrir o segundo club, com um custo menor de operação, metade da capacidade e com outra proposta audiovisual, sem palco e efeitos especiais, com uma cabine e backstage, ou seja, ingredientes mais propícios a curadoria musical.

Percebo que, mais do que importante, é necessário uma descentralização do circuito de clubs rumo ao interior, especialmente para termos uma maior circulação de bons artistas da nossa cena. Na sua visão, você enxerga isso acontecendo com eficiência nos próximos anos? Construir Laroc e Ame em Valinhos parte dessa premissa?

Sim, é uma das premissas, mas sem dúvidas a busca pelo ar livre, natureza e a desconexão com a loucura urbana de todo dia eram outros itens essenciais para o sucesso do club. Hoje em dia, ao chegar o final de semana, as pessoas fazem de tudo para sair de São Paulo, se desconectar, seja na praia ou no interior. Temos cases de sucesso no país como Sirena, Anzu, Warung e outros que estão ‘descentralizados’ das capitais, mas que acabam se tornando destinos, somados a atração de praia, etc. No nosso caso, temos a natureza e tudo que a beleza do local nos proporciona, mas não somos ‘turísticos’ a ponto das pessoas estarem na cidade e resolverem ir para balada como acontece em Camboriú, Maresias e outras cidades. Aqui as pessoas vem para o Laroc e só, então a dificuldade é grande nesse sentido também.

Sabemos da sua paixão por música eletrônica e do esforço para trazer grandes artistas para os dois clubs. Do primeiro evento até aqui, quais foram os principais artistas que você riscou da sua lista de desejos? Existe algum nome dos sonhos específico?

Para o Laroc, big names como Axwell, Armin e Solomun estavam nessa lista de desejos. Com o Ame já começamos bem com Joris Voorn (que era uma vontade pessoal), e agora tenho o Kölsch vindo nos próximos meses. Outros artistas que ainda gostaria muito de trazer são Eric Prydz, Tiësto, Steve Angello, Maceo Plex, Carl Cox… A lista vai longe.

Apesar de terem tamanhos diferentes, Laroc e Ame podem ser considerados clubs big room. Como fechar a conta trabalhando regularmente com eventos desse porte? Qual a política de vocês com a polêmica lista VIP?

Sim, ambos são clubs grandes, mesmo a Ame sendo 50% da capacidade do Laroc, temos a consciência que é um club big room. Não é sempre que se fecha a conta, por isso analisamos sobre o resultado do exercício/temporada. Fatalmente terão noites positivas e negativas, então temos que encontrar o equilíbrio anual, isso nos proporciona também a possibilidade de investir mais em algumas noites mesmo sabendo que não haverá retorno financeiro, mas sim um retorno de imagem e posicionamento como club que visa o longo prazo.

A lista VIP é algo que as pessoas deveriam ter vergonha em pedir. Da mesma maneira que criticam quando o lineup não agrada, deveríamos criticar o público na mesma moeda por pedir VIP. Desde o inicio focamos na venda de ingresso, sem ela, não há condições de trazer grandes nomes e talvez por isso nosso público esteja educado e entenda a necessidade da bilheteria. No primeiro ano foi necessário, mas para atrair os clientes a conhecerem o club no meio do nada. Agora, com a marca já consolidada, não trabalhamos nem 10% de cortesias, isso incluindo patrocinadores, sócios, etc. ‘Não me peça para lhe dar a única coisa que tenho para vender.’

Durante o Carnaval, vocês apresentaram a primeira edição do AmeLaroc Festival. Na sua análise, qual o resultado dessa iniciativa em termos de experiência?

O resultado foi muito positivo no aspecto de ter um novo produto lançado que com certeza irá crescer nos próximos anos. Esse é o sentimento após o carnaval. Não tivemos êxito na questão financeira, mas enxergamos isso como investimento em um produto que pode se repetir por muitos e muitos anos. As pessoas tem o interesse em conhecer o club, mas sempre esbarram na dificuldade logística, principalmente quem esta um pouco mais distante. O carnaval, para o amante da música eletrônica, acaba se tornando a oportunidade das pessoas se programarem com mais antecedência e fazer valer as despesas que vão além de ingresso, normalmente com hotel , transporte, etc. Isso não fica pesado quando se olha para três dias de festas, ao contrario de um dia normal. A expectativa é ter ainda mais gente de outros estados presentes no carnaval conosco. A dinâmica do festival foi muito boa, rolou bastante troca de experiências, o que é positivo e faz com que as pessoas busquem algo novo no quesito musical, desmistificando uma vertente ou outra e trazendo novos adeptos.

Quais são os principais projetos que Laroc e Ame receberam em 2019 e já podem ser comentados?

Teremos o retorno do Elrow no Laroc, um projeto que funcionou bastante em 2018. Em termos de label parties, esse é o único 100% confirmado este ano, mas teremos bastante artistas inéditos também.

Na Ame, além do já comentado Kölsch, teremos Nastia, Patrice Bäumel e outros nos próximos meses. A busca é incessante.

Para finalizar, uma clássica do Alataj. O que a música representa em sua vida?

Representa quem eu sou, meu passado, presente e futuro. Não me vejo trabalhando com outra coisa.

A música conecta.

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