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A música conecta

“Nunca fiquei a espera que as coisas acontecessem”: um bate-papo exclusivo com Miguel Rendeiro

Por Alan Medeiros em Entrevistas 20.02.2018

Baseado em Porto, Miguel Rendeiro é um dos artistas portugueses de maior destaque na cena internacional. Ele faz aquele tipo incansável, que não mantem trabalhos apenas na pista e nos estúdios, mas também entrega muito esforço para o desenvolvimento do mercado eletrônico enquanto business. Após lançamentos de sucesso por labels como Circle, Get Physical Music e Mix Trax, Miguel entregou para a brasileira Not For Us sua nova faixa.

What Do You Do With Me é a espinha dorsal do EP de mesmo nome que conta com dois remixes. Um assinado pelo alemão Ray Okpara (com premiere aqui no Alataj) e outro pelos brasileiros Arthus e Rods Novaes. O lançamento como um todo reflete a identidade musical de Miguel, que se diz orgulhoso com o release pelo label brasileiro e mostra querer mais para o futuro: “Sem dúvida é o primeiro de muitos, esse foi apenas o ponta pé inicial”.

Nesse bate-papo exclusivo, Rendeiro fala sobre o ótimo momento da cena de Portugal, primeiro contato com a Not For Us, relacionamento com as gravadoras que já lançou e muito mais. Confira abaixo enquanto o EP rola no seu fone de ouvido:

Alataj: Olá, Miguel! Tudo bem? Obrigado por nos receber. Aqui do Brasil, sentimos que a cena de Portugal passa por um momento especial. Quais são suas impressões sobre o assunto?

Miguel Rendeiro: Olá a todos! Desde já quero agradecer e transmitir a grande honra que sinto por poder cruzar o Atlântico, abrir portas e conhecer seu país maravilhoso.

Em Portugal a cena passa por momentos bastante controversos. No entanto, podemos encontrar uma série de produtoras, clubs e festivais muito bons, estando mesmo ao nível dos melhores do mundo, como por exemplo, Neopop Festival, Boom, BPM Portugal, Lis-bon, Brunch Eletrônico, Primavera Sounds, entre outros. No que diz respeito a clubs destaco o Industria e Gare no Porto, Pedra do Couto em Santo Tirso e Lux e Ministerium em Lisboa. Quanto a produtoras a Bloop, RDZ, Fuse, Faina, Private Breakfast e Live, são para mim, uma referência do melhor que temos a nível nacional. Todos com super programações, conceito, identidade e claro, uma vibe e público vibrantes. Este é o lado bom da cena eletrônica portuguesa.

Infelizmente, aqui em Portugal os DJs foram perdendo algum mediatismo. A maioria das discotecas foram deixando de ter programação eletrônica, havendo apenas algumas exceções, direcionadas assim, para pequenos nichos de mercado. Parece que deixou de existir o meio termo, o house, como referi anteriormente, foi-se extinguindo na maior parte das discotecas aqui em Portugal. Fomos musicalmente colonizados pela música tradicional africana e brasileira. No meu entender, muito por responsabilidade da televisão e rádios nacionais, que se venderam literalmente.

Felizmente eu tenho feito parte do bom movimento, da vanguarda da dance music em Portugal, e quando fazemos alguma coisa boa, a festa é fantástica!

Além da sua jornada nos palcos, você também tem uma experiência bem significativa frente a eventos e a parte business da música eletrônica. Conta pra gente como isso se desenvolveu na sua carreira.

Comecei a minha carreia de DJ quando tinha 17 anos, sempre focado e com objetivos muito bem definidos, considero-me uma pessoa humilde e ambiciosa. Nunca quis ser um simples DJ. Tudo começou com alguns pequenos eventos em clubs onde eu tinha residência, como o It/Hit Club na Póvoa de Varzim, o Industria Club Porto, Vogue no Porto e outros. Trabalhava muito na promoção e divulgação das minhas festas e eventos e com isso também acabei por ser pioneiro em muitas ações de marketing pessoal e relacional, como por exemplo CDs e mensagens promocionais personalizadas, páginas e entrevistas em revistas e sites, mailing list, entre outras. Todas as minhas festas e eventos primam pela boa musica e bom ambiente. Nunca fiquei a espera que as coisas acontecessem, se não me convidavam eu fazia as festas e eventos acontecer.    

Passado algum tempo veio a minha licenciatura em Gestão de Marketing que me alavancou e apurou uma vertente mais empresarial, acabando por potenciar a minha carreira de DJ e promover em mim uma vertente de produtor de eventos e empresário. Do meu trabalho de TCC, nasceu um projeto que iria acabar por ser a maior beach party da Europa, a Azurara Beach Party.

Depois criei a Connect Music Agency, uma empresa de agenciamento de artistas (Booka Shade, M.A.N.D.Y., DJ T, Heidi, Dennis Ferrer, The Martinez Brothers, Magazino, Freshkitos, Nuno di Rosso, Overule e outros) e de produção de eventos, como por exemplo, o melhor festival de musica eletrônica de Portugal atualmente. O NEOPOP Music Festival, ao qual dediquei 7 anos de amor à causa. Foi também criado o ENERGIE Music Vilar de Mouros, o qual seria o nosso projeto mais ousado e ambicioso – ele tinha 4 palcos, mais de 30 artistas artistas. Mas acabamos por ser traídos pelo tempo, um temporal em pleno verão (Agosto) nunca antes visto, acabou por mudar a minha vida. Foi a primeira vez que algo correu mesmo mal e fui obrigado a tomar a difícil decisão de abandonar as grandes e arriscadas produções. No entanto, não desisti por completo desse projeto, continuo com eventos próprios, festas mais pequenas e intimistas, como o Rooftop em Braga, WAY, Kubic, Sunset Thai, Assalto ao Arranha Céus, as noites Black Room, eventos RDZ/Industria Porto, Sunset no Forte São João, Boat Parties e outros.

Resumindo, tal como já referi anteriormente nunca quis ser um simples DJ, nunca esperei, nem espero por nada, faço acontecer. Dificilmente em Portugal se encontrará um currículo como o meu, entre atuações de DJ, produção de eventos, booking de artistas nacionais e internacionais e produtor musical .

Continuo a acreditar que o sucesso da cena eletrônica passa pela união e pelo sucesso de todas as noites com DJs convidados. Só assim podemos evoluir. Devo ser o DJ português que mais artistas convida para os eventos onde estou envolvido, sempre com o objetivo de proporcionar às pessoas a melhor festa de suas vidas vidas.

Seu currículo conta com apresentações em alguns dos principais clubs e festivais doo mundo. Entre tantas gigs importantes, há alguma que você considera mais importante ou especial?

Tento fazer de todas as minhas gigs um momento inesquecível. Claro que há alguns que nunca nos vamos esquecer como:

Watergate – Berlin
Festival Creamfields
City Hall Barcelona
Chalet – Berlin
Rock in Rio – Lisboa
The Egg Londres
Galvin at Window – Hilton Londres
Ethereal – Miami

Todos foram especiais, mas aqui em casa a adrenalina sempre sobe mais alto. Azurara Beach Party, Antipop e Neopop, WLS Boat Party, Lux em lisboa, noites sem igual no IT club, Locomia, Industria, Black Room… os afters do Maré Alta e claro o inicio, as primeiras noites no Astoria Club em Braga e no Alfandega em Caminha. Felizmente há muita festas e grandes momentos para recordar.

Get Physical, Circle Music e agora Not For Us. A lista de grandes labels que você tem colaborado é bastante expressiva. Quão importante essas marcas tem sido no seu crescimento?

São como um carimbo, um selo de qualidade. É uma grande honra e privilegio estar associado a marcas de prestigio e relevo mundial. Conto com 3 faixas na Get Physical Music Berlin e 3 EPs na Circle Music. Na Not For Us faço agora a minha estreia, mas já estou trabalhando no próximo EP.

Através da música espero abrir portas e poder mostrar o meu trabalho! Em 2018 vou de vento em poupa, a todo o gás. Estamos em Fevereiro e já estou com 4 faixas na rua, sinto que estou a evoluir como produtor. A maturidade está a revelar resultados e eu já posso sentir isso.

Adonis (Miguel Rendeiro Remix) no Wout Records, Feel That Way na Brock Wild Records, de Riva Starr (sub label na gigante Snatch Records), What do You Do With Me na Not For Us Records e Benny, que faz a minha estreia na Under No Ilusion de Ki Creighton.

Como surgiu o contato com a NFU? Você e Rods Novaes chegaram rápido a um acordo sobre o lançamento e remixes?

Através de uma amigo em comum, o Alex Flatner da Circle Music Berlin. Eu procurava algo no Brasil, pela proximidade da língua e pelo meu fascínio pelas festas que acompanho, como por exemplo Warung e D-EDGE. Puseram-me em contacto com o Rods e o entendimento não poderia ter sido melhor e mais fácil. Sem duvida que é o primeiro de muitos, esse foi apenas um ponta pé inicial.

Certamente você é o tipo de artista que está a todo momento procurando por novos sons e artistas. Nos últimos meses, o que tem captado mais sua atenção?

É a maior dificuldade dos dias de hoje. O mercado da música mudou tanto, hoje em dia isso te obriga a horas e horas para descobrir novos sons, tendências e estilos. Desde o vinil, passando pelo mp3 até chegar nas plataformas digitais. São milhares de artistas e músicas, cada vez mais difícil de filtrar.

Como sou um DJ que tem muitas gigs, ando sempre sedento por mísica nova. Todas as semanas toco músicas de artistas que não conheço e nunca tinha ouvido falar. Gosto muito do novo movimento francês e do leste europeu. Artistas como Frank Roger, Djebali, Politics of Dancing, Apollonia e Radhoo estão no radar.  Sou um eterno fã de MANDY, Dixon, Lopazz e Solomun. Por outro lado, a energia de artistas como Marco Carola, Paco Osuna, Nic Fanciulli,  Jamie Jones e outros mais recentes, como Cuartero, Simone Liberali ou Ki Creighton, também são uma referência. 

Em Portugal também temos estrelas em ascensão, como Ramboiage, Temudo, Zoy, Nox, Joff, Fauvrelle, Lazer Mike e outros.

A música conecta as pessoas! 

 

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