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A música conecta

Alataj entrevista Muto

Por Alan Medeiros em Entrevistas 12.06.2018

O sucesso de um club, festa ou festival passa muito pela eficiência de sua comunicação. Dito isso, é justo destacar o excelente trabalho do Muto, estúdio especializado em artes visuais localizado em Campinas e responsável por toda construção da identidade do Caos até então.

Bruno e Pedro, responsáveis pelo Muto, conseguiram captar a essência proposta por Eli Iwasa e seu time por trás do conceito #back2basics. Mesmo sem uma experiência anterior frente ao cenário da música eletrônica, algo que até pode ser considerado positivo, o estúdio desenvolveu algo inovador e absolutamente fora dos clichês amplamente reproduzidos dentro e fora do país – pontaço pra eles!

Após uma inspiradora campanha para festa de Junho que rola no próximo fim de semana, com Chris Liebing no comando, Bruno e Pedro separaram um tempo para responder algumas perguntas importantes em torno de tudo que envolve o projeto Caos. Vem com a gente:

Alataj Olá, Bruno e Pedro! Tudo bem com vocês? Há algum tempo conversámos sobre quão engessada estava a parte gráfica dos clubs de música eletrônica no Brasil. Com a chegada do CAOS em Dezembro passado isso tem mudado bastante. Podemos dizer que fazer algo totalmente fora da caixa foi uma das prioridades para esse trabalho?

Bruno e Pedro: Olá, pessoal. Tudo bem? Essa é uma discussão muito interessante e um dos pontos principais no começo da nossa parceria com o club. Quando o pessoal do Caos nos convidou para cuidar e desenvolver toda a parte de direção de arte dos materiais do club um dos primeiros pontos em que tocamos era de que, ao nosso ver, havia um espaço enorme e livre para a criação de materiais de comunicação nesse meio, principalmente quando envolve a música eletrônica. Nós dois não fazemos parte da cena e, pra ser sincero, não acompanhamos muito os clubs e artistas mas o pouco que tivemos acesso era sempre bem engessado mesmo, como se seguisse um “molde” e, ao contrário do pouco que conhecemos da cena em outros países, a grande maioria dos materiais não era muito explorado de um ponto de vista artístico . Com isso em mente o pessoal do Caos nos deu total liberdade para propor, criar e, basicamente, inserir o nosso próprio trabalho autoral no material. É uma liberdade incrível e essencial para o nosso trabalho.

Como trazer o conceito #backtobasics do club para dentro do trabalho do Muto?

Acreditamos que o nosso trabalho, de certa forma, sempre pendeu pro “básico”. Nós viemos de uma linha criativa totalmente independente e “do it yourself” o que é sempre um desafio mas nos força (assim por dizer) a encontrar maneiras inteligentes de desenvolver e produzir nossas ideias mesmo com as limitações que encontramos ao longo do processo. Logo no início, antes de abrir o club, o pessoal tinha um pouco da identidade desenvolvida e um conceito por trás de tudo mas visualmente na questão da comunicação tínhamos que desenvolver tudo do zero. O slogan #backtobasics felizmente casou muito bem com a nossa linha criativa e o nosso estilo de trabalho. Começamos escaneando alguns objetos encontrados na construção do club quando ele ainda faltava muito para ficar pronto. Essas imagens acabaram virando os primeiros cartazes que comunicavam a abertura do Caos e, a partir daí, começamos a experimentar com filme em película e diversos outros materiais e, aos poucos, fomos encontrando um caminho conceitual para a direção de arte em geral. Foi um processo muito bacana.

Quão decisivo é o perfil sonoro dos artistas escalados para concepção do material gráfico? Isso gira em torno das atrações ou diz muito mais sobre o club em si?

Como comentamos anteriormente, nós não fazemos parte da cena da música eletrônica e não conhecemos muito os artistas então pra nós é sempre uma surpresa. O pessoal do club sempre conta um pouco pra gente sobre quem vai tocar e o fato de serem considerados grandes (alguns talvez os maiores) de toda a cena e nós sempre ouvimos um pouco de cada um antes de começar a desenvolver um conceito. O

fato de não fazermos parte de tudo isso é na verdade algo totalmente positivo no processo criativo. Tanto o Caos quanto nós concordamos que é ótimo o fato do material ser criado por pessoas que não tenham vínculos e nem amarras com o que já existe na música eletrônica e isso tudo na verdade foi até um fator fundamental no convite que recebemos para cuidar da parte gráfica do club pois eles queriam exatamente isso, uma visão totalmente fora desse círculo.

Por ser uma warehouse, o Caos traz em sua identidade um perfil artístico mais avançado, naturalmente. Essa linguagem criada para os vídeos do club, seria diferente se a venue fosse mais “normal”?

Acreditamos que não. Na verdade grande parte do resultado vem da liberdade que nos dão na hora de criar e propor ideias, por mais malucas que sejam. Talvez o fato de o club ter essa veia artística ajude bastante nesse sentido, mas se tivéssemos a mesma liberdade criativa para uma casa “normal” acredito que encararíamos da mesma forma. Tudo depende de quem está por trás da coisa toda. Só achamos isso improvável pois como comentamos, a maioria dos lugares “normais” que vemos por aí seguem quase que um molde na questão dos materiais de comunicação e não se arriscam muito nesse quesito

https://www.facebook.com/ocaos019/videos/vl.1427604714016027/223237121752827/?type=1

Entre os trabalhos apresentados até aqui, há algum que vocês consideram mais especial ou que tenha um significado diferente para Muto?

Gostamos bastante do resultado final de todos até agora mas, talvez, o último que fizemos para o evento de Junho tenha sido o mais “ousado” assim por dizer. Quando assistimos o resultado final sacamos que era algo totalmente diferente de qualquer comunicação que já havíamos visto e quando o pessoal do Caos nos deu o feedback do material foi muito bacana.

O vídeo da noite de Junho causou um impactou muito positivo nas mídias sociais. O que vocês podem nos contar sobre os bastidores dessa produção?

Olha a gente fica muito feliz pois toda essa liberdade criativa é retribuída tanto pelo pessoal do Caos quanto pelo impacto nas redes sociais e isso nos leva a acreditar que estamos no caminho certo. No caso desse material, antes da produção enviamos a ideia/conceito pro pessoal do club e tivemos um sinal verde para começar a produzir. Nosso objetivo com os materiais do Caos não é apenas criar um material visual, mas sim começar a introduzir ideias e conceitos maiores que o vídeo ou as fotos. No caso do material de Junho o conceito por trás de tudo era abordar a questão do consumismo e da ganância principalmente nos tempos atuais. Com isso em mente desenvolvemos a ideia de um luxo auto-consumismo/destruição simbolicamente através de uma pessoa que se “banhava” em ouro e que “flertava” com a própria auto-destruição através de objetos como a faca e o cigarro, mas, no final das contas, essa pessoa voltaria ao básico (backtobasics) como uma ideia de renovação, assim por dizer.

https://www.facebook.com/ocaos019/videos/257676124975593/

Para finalizar, uma pergunta pessoal. Qual o papel da música no processo criativo de vocês? Obrigado!

Nosso trabalho foi, desde o início, fundamentado na música. A fotografia foi nosso ponto de partida. Além do trabalho autoral começamos criando cartazes para shows de bandas que gostávamos e, com o passar do tempo esse trabalho nos levou a produção audiovisual o que desde então vem sendo nossa linha principal de trabalho. Nos últimos anos produzimos diversos clipes para bandas da cena independente nacional e cada um é uma oportunidade de desenvolvermos nosso estilo criativo e de contar histórias que temos na cabeça de uma maneira mais realista, assim por dizer. Já a fotografia e vídeos mais conceituais como esses para o Caos representam pra nós uma maneira de desenvolver conceitos e abordagens mais surreais e explorar mais o lado estético da coisa toda. A fotografia, principalmente, é algo que pra gente vai além do profissional e que sempre viemos criando no estúdio em um esquema bem “do it yourself” e que depois apresentamos as pessoas em redes sociais ou através de exposições e prints fotográficos. Objetos caseiros e mundanos são na grande maioria nosso ponto de partida, mas a ideia é sempre retirá-los do contexto em que estariam inseridos e dar novo significado pra coisa toda. Eu também diria que nosso trabalho é bastante mutável e que conforme vamos nos encontrando como artistas, vamos desenvolvendo isso visualmente.

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