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A música conecta

Alataj entrevista Nachtbraker

Por Alan Medeiros em Entrevistas 06.08.2019

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Pouquíssimos artistas da house music contemporânea tiveram uma evolução tão significativa nos últimos anos quanto Nachtbraker. O DJ e produtor holandês já respondeu uma entrevista por aqui em Agosto de 2016 e tinha status de promessa naquela época — embora já executasse um grande trabalho. 

Desde então, ele rumou ao estrelado do estilo com ótimos releases, consistência como DJ e soberania frente a Quartet Series, label de sua curadoria. Alguns dos destaques recentes de sua jornada na música incluem o lançamento do álbum When You Find a Stranger in the Alps, os EPs Leonardo Ceviche e Parmigiana, distribuídos como white label em todas as plataformas e o grande sucesso de Hamdi, faixa que bateu mais de 500 mil plays no Spotify e foi lançada em 2017 pela Heist

Maduro e consciente frente ao seu momento na música, Nacht conversou com a nossa equipe novamente de forma exclusiva. Abaixo, Maurits fala sobre a evolução de seu catálogo, importância de Amsterdam no desenvolvimento de sua carreira, novidades da Quartet Series e muito mais. Confira abaixo:

Alataj: Olá, Maurits! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Seu crescimento nos últimos anos é algo bastante impressionante, principalmente no que diz respeito a catálogo. Quais esforços pessoais você considera essenciais para que essas conquistas pudessem se tornar realidade? 

Nachtbraker: Obrigado por me receber. Estou ótimo, obrigado! Acho que é uma combinação de paixão e resistência. Sou muito viciado em música, então inevitavelmente acabo fazendo muitas faixas. Além disso, eu realmente quero fazer uma carreira na música e sinto que é importante estar focado e determinado para tornar isso um sucesso. Não é só lançar músicas, é importante ter uma produção criativa constante. Isso é muito importante. Não apenas para minha carreira, mas também pelo meu humor e estado de espírito. 

Certamente Amsterdã exerceu um importante papel no seu desenvolvimento artístico, não é mesmo? Musicalmente, como foi pra você estar em contato com a cena da cidade? Em quais aspectos você se sentiu mais impactado ao longo dos anos?

Sim, muito importante. Me mudei para Amsterdã quando eu tinha 18 anos (sou de 91). Me mudei para “estudar” [risos], no fim eu quis fazer música. Encerrei meu bacharelado na Universidade de Amsterdã com 23 anos e comecei a fazer música em tempo integral. Quando eu cheguei, era o tech house que comandava a cidade. Eu adorei. Fui para clubes como Studio 80, as primeiras festas de VBX e alguns festivais aqui e ali. Acho que organizar festas ilegais com meus amigos tiveram o maior impacto do desenvolvimento da minha carreira musical.

Naquela época muitas festas ilegais estavam acontecendo e nós decidimos fazer a nossa. Conheci muitas pessoas por causa disso e com certeza isso me ajudou a entrar na cena. Mais recente, toco muito para um dos melhores promoters na cidade, chamado ZeeZout e faço alguns radioshows por ano para o Red Light Radio. A cidade é muito vibrante e muitas pessoas estão inseridas na música eletrônica underground. Acho que vivemos em uma década de ouro na música eletrônica. Espero que isso dure, e francamente não vejo motivos para não durar.

Quartet Series é hoje uma das gravadoras mais originais e interessantes da house music mundial. Poderia compartilhar conosco qual a filosofia central por trás de todo o trabalho do selo? 

Obrigado pelas gentis palavras! Fico muito agradecido. Quartet Series é construído em volta do conceito de colecionar discos. A ideia é que tenham quatro discos com artes combinadas, juntos esses quatro discos formam um quarteto (Quartet). Se você tiver um dos discos, você deveria ter os outros três para completar seu quarteto. Achei que seria uma boa ideia e uma nova abordagem sobre como o catálogo de um selo é criado. Desta forma, também posso redefinir o selo a cada quarteto que faço. O selo não é necessariamente ligado a um gênero, mas podemos dizer com segurança que a house music é a base.

Jeremy Underground, Detroit Swindle, Axel Boman, Joris Voorn, Kornel Kovacs e Akufen estão entre os nomes que já apoiaram sua música recentemente. Este tipo de suporte te impulsiona e motiva para novas conquistas? O que exatamente isso representa pra você enquanto produtor?

É muito gratificante quando nomes como esses tocam e gostam das suas músicas. Aprendi muito com as produções de Axel Boman e escutei muito os DJ sets de Jeremy Underground, por exemplo. Todas essas pessoas fazem música há muito tempo e já escutaram uma quantidade insana de música. Se acontece de a sua música interessar a eles, só pode ser um elogio.

Ainda sobe a Quartet Series. Lançar um EP de originais do Akufen certamente foi uma das grandes conquistas da gravadora até aqui. Como isso aconteceu exatamente?

Uma grande conquista, sim. Sou um grande fã de seu trabalho há anos e assiná-lo no selo é realmente um sonho realizado. O que aconteceu foi que Marc (Akufen) começou a me seguir no SoundCloud. Fiquei surpreso positivamente e escrevi uma mensagem dizendo que sou um grande fã e que ele é uma grande inspiração para mim. Ele respondeu dizendo que adorou minha música e a tocava bastante. Você pode imaginar que eu fiquei extremamente lisonjeado com isso [risos]. Alguns meses depois eu decidi perguntar a ele se ele estaria interessado em lançar com a Quartet Series, e ele disse que sim. Eu trabalhei duro com Marc para conseguir o melhor EP possível… acho que conseguimos! 

Sabemos que você é um grande entusiastas da cultura do vinil e que o mercado está mais aquecido do que nunca para este cenário. Na sua visão, o que este momento está trazendo de melhor e pior?

Bom, não quero parecer pessimista, mas não acho que estamos vivendo em uma época de ouro para o vinil. Sim, o vinil se tornou mais mainstream, o que é muito legal. Mas isso não impactou necessariamente as vendas de pequenas gravadoras do eletrônico underground. Tivemos um pequeno aumento entre 2013 e 2015, mas acredito que o hype já se foi. Se você observar, muitos DJs estão tocando com CDJ no momento. Isso é para onde os jovens estão olhando, portanto, as vendas de vinil estão diminuindo. Há alguns anos vender 500 discos era muito bom, hoje você deve ficar feliz se passar a marca dos 300. Acho que tenho sorte pela Quartet Series estar indo bem.

Além disso, sim, eu amo vinil e estou tentando apoiar a cultura do vinil o máximo que posso. Gasto muito dinheiro com isso todo mês. Sinto que há um grupo central de entusiastas do vinil que o mantém vivo. Esse grupo está crescendo, porque colecionar discos é muito contagiante. É sobre adicionar outra dimensão quando você tem sua música fisicamente, ao invés de apenas em seu pendrive. 

Quais são suas melhores lembranças da sua primeira passagem pelo Brasil? Há planos para uma nova tour por aqui?

Tenho boas lembranças da minha primeira vez no Brasil. Meu grande amigo Paulo Pires me trouxe e fez uma festa muito legal em Curitiba, no outro dia fomos a Floripa para tocar no Sounds in Da City, foi incrível também. Centenas de pessoas dançando na praça. A energia que vocês tem — sem esquecer os passos de dança impecáveis — nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. Por enquanto, não tenho nada concreto planejado, mas estou trabalhando para voltar, então acontecerá em breve!  

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida? 

Acho que dediquei praticamente minha vida à música nos últimos 10 anos. O que é uma grande parte da minha vida, já que eu tenho 27 anos agora. Fazer música é o que me faz continuar e nunca vou parar de fazer isso. É algo que eu sou extremamente apaixonado. Sou muito grato por poder fazer isso e ter tantas pessoas escutando e acompanhando o que faço. 

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