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A música conecta

Alataj entrevista Nascii

Por Alan Medeiros em Entrevistas 18.07.2019

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Uma dicotomia que normalmente paira de alguma maneira sobre os DJs no momento de construir seus sets é a de optar entre sons contemporâneos ou os clássicos e como sustentar essa escolha no comando das pistas. Mas na música nada é regra e o DJ, produtor e empresário paulistano Nascii pode ser considerado um verdadeiro mestre na união desses dois extremos em sua musicalidade, que também abraça uma nuance mais experimental.

O artista é um dos pilares do quarteto Gop Tun e guia toda a identidade sonora do grupo, que mantém o house como base, mas permeia os recortes da disco e acid até o techno. Mesmo antes do sucesso do projeto, iniciado em 2012, Nascii já possuía um bom histórico na indústria eletrônica, sustentando uma carreira desde 2004. Ele é nosso convidado para comandar o mix da edição 393 do Alaplay e aproveitamos para bater um papo com ele sobre a carreira. Confira:

Alataj: Oi, Fernando! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Você e seus companheiros do Gop fazem parte de um momento muito bacana na história da noite paulistana. Como tem sido viver isso do olho do furacão?

Olá, primeiramente obrigado pelo convite! Nos últimos anos acompanhamos o crescimento da cena independente de festas que transformou a cidade culturalmente e hoje se espalha através de seus artistas e coletivos no resto do país e do mundo. São Paulo sempre foi conhecida pela sua vida noturna vibrante, mas o momento atual é certamente o mais interessante em termos de opções e variedade de eventos voltados a música eletrônica.

Graças às festas independentes, em um mesmo final de semana seus frequentadores podem escolher entre festas em warehouses, venues inusitadas ou mais intimistas com aquele artista que você sempre quis ver junto dos talentos locais e tudo isso com produção de alto nível que nada deixa a desejar se comparado a outras capitais do mundo. Viver em SP neste momento e poder contribuir com o que está acontecendo é, sem dúvidas, uma oportunidade valiosa e única para nós artistas e organizadores de eventos.

Recentemente a Gop anunciou um novo tour nacional em colaboração com alguns dos núcleos mais interessantes do momento. Pessoalmente e profissionalmente, o que representa pra você estar em contato com essa galera toda?

Em 2017 fizemos nossa primeira tour de showcases e conhecemos essa galera incrível e talentosa que graças a afinidade naturalmente nos tornamos amigos. É muito foda estar em contato com tanta gente legal Brasil afora e poder trocar experiência entre as cenas. Com certeza aprendemos muito conhecendo culturas e públicos diferentes. Foi justamente desses encontros e da vontade de reunir essas crews que nasceu o Xama. Acho que essa foi a maior recompensa em ter conhecido essa galera toda.

As vezes que pude te assistir na pista, observei uma mistura muito inteligente de sons mais fora do padrão, com faixas de alto impacto no dancefloor. Essa mistura corresponde com a sua pesquisa de fato? Para quais caminhos você tem olhado nos últimos meses do ponto de vista musical?

Com certeza. Sempre busquei misturar sons menos convencionais e sonoridades ainda pouco conhecidas nos meus sets porque gosto do estranhamento e do clima que podem criar. Acho que pesquiso coisas muito atuais e muito antigas na mesma proporção, seja disco, house ou techno. Nos últimos tempos alguns produtores de house da Austrália, Canadá e Dinamarca especificamente tem me chamado muito a atenção. Acho que alguns movimentos interessantes tem surgido nestes países e sinto que essa turma não tem medo de arriscar em suas produções e trazem um ar sempre novo.

Depois do Dekmantel, o Xama. De onde vem exatamente essa vocação do Gop para conduzir e apresentar grandes eventos? É uma espécie de fascínio pelo all in?

Longe disso. Tudo que rolou durante a nossa trajetória aconteceu de forma orgânica. Quando acreditamos em algo, mergulhamos de cabeça. Fizemos festas por 5 anos antes de fazer nosso primeiro festival (Dekmantel). E quanto ao Xama, apesar de ter uma programação mais extensa, em termos de público ele ainda é menor que uma festa do Gop. Acho que o nosso fascínio está muito mais em tentar criar uma experiência que nós enquanto público adoraríamos ter.

Aproveitando o papo em torno desses dois eventos que acompanham a trajetória da Gop, duas perguntas básicas: quais as principais novidades que estão sendo trabalhadas para esta edição do Xama? Ainda teremos Dekmantel no Brasil?

Acho que o XAMA este ano traz uma programação ainda mais eclética que a do ano passado com shows especiais como o do Poison Fruit, projeto do genial baterista do Azymuth, Ivan Conti ‘Mamão’, que se apresenta em um evento especial pé na areia. Além dele também teremos um set de 7” do DJ Marky, alguns lives quentes como o Escombro e do Forró Red light, as diggers Pensanuvem, Mari Boaventura, Giu Nunez e Bárbara Boeing e DJ sets atuais como o do My Girlfriend. Enfim, muita coisa boa, atual e eclética.

Esse ano continuamos explorando a península e prometemos superar as expectativas dos que subiram uma colina no ano passado, trazendo uma locação nova para nossa festa itinerante que rola dia 28/12. Outra novidade, é que este ano cada coletivo participante terá sua própria Boat Party. No total serão 6 ao invés das 3 que fizemos ano passado. Tem mais coisa, mas melhor deixarmos pra revelar mais tarde e não estragar as surpresas. Muito em breve devemos ter notícias do Dekmantel também.

https://www.facebook.com/goptun/videos/289178278425575/

Tudo na vida tem um começo certo? Como que começou sua relação com a música em uma ótica mais profissional? Quais foram as primeiras pessoas que te incentivaram na época? 

Acho que me lembro mais das pessoas que não me incentivaram [risos]. Brincadeiras à parte, minha vontade de trabalhar com música começou em meados de 2004 enquanto passava uma temporada em Londres e começava a discotecar por hobby. De volta ao Brasil, tive a oportunidade de tocar em algumas festas e clubs em São Paulo, mas não encontrava muitos rolês e pessoas que gostavam do som que eu curtia.

Nos anos seguintes fiquei muito ocupado com a faculdade e trabalho e já não pretendia mais trabalhar com música, até que no fim de 2010 conheci meus atuais companheiros de Gop Tun e vi uma luz no fim do túnel. Dois anos depois, nossas festas já aconteciam com certa frequência e eu largava minha carreira no mercado de comunicação para viver somente de música. Se alguém me motivou de verdade algum dia, com certeza foram meus sócios no Gop.

Qual linha de pesquisa e proposta te guiou para este mix que acompanha a entrevista?

Esse mix foi gravado ao vivo no showcase do Gop com a 101Ø, em Belo Horizonte, numa pistinha externa incrível apelidada de ‘florestinha’. Havia me preparado para seguir outro caminho e tocar um pouco mais pesado, mas o público de lá é extremamente dedicado enquanto dança e por isso fiquei mais a vontade para seguir um caminho mais leve e viajante. Saiu um set com as minhas pesquisas recentes de house e suas diversas formas.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

Ela é o meu norte.

A música conecta.

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