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A música conecta

Com mais de duas décadas de carreira, Nitin é um artista com análise precisa sobre a cena eletrônica

Por Alan Medeiros em Entrevistas 27.07.2017

A luta por uma evolução constante e a preocupação em ser cada vez melhor guiam o DJ e produtor canadense Nitin para seguir construindo uma carreira verdadeiramente multifacetada. Com mais de duas décadas de experiência, seu conhecimento adquirido é algo poderoso e seus trabalhos realizados até aqui já impactaram de forma profunda a cena house e techno mundial.

Nitin Kalyan tem combinado suas habilidades enquanto produtor e A&R da No.19 Music, principal selo de música eletrônica underground do Canada. Além disso, possui trabalhos sólidos como curador de festivais e campanhas de marketing que obteram sucesso dentro do segmento. Sua gama variada de atuação influenciou diferentes artistas e o colocou na posição de embaixador da música de vanguarda em diferentes países.

Com um forte apelo da escola de Detroit, Nitin se envolveu cedo com a música eletrônica e logo decidiu escrever sua própria história. Desde 2005 ele tem provado seu amor pela música com diferentes trabalhos desenvolvidos em Londres, Ontário e Toronto. Suas habilidades como DJ já o levaram a diferentes clubs do mundo, entre eles fabric, Showcase Paris, DC10, Panorama Bar e Nordstern. É nítido que em todos os aspectos de sua carreira repleta de cases de sucesso, Nitin injeta muita paixão e talento. Sua sede constante de mostrar sua música para novas pessoas é que traz o DJ canadense para o Alaplay Podcast 294:

1 – Olá, Nitin! É um prazer falar com você. Mais de duas décadas trabalhando no mercado realmente não é algo fácil de ser atingido. Como você consegue conciliar suas múltiplas tarefas e trabalhos relacionados a música eletrônica? As coisas tem ficado mais fáceis ou mais difíceis com o passar dos anos?

Tem sido um trajeto muito interessante. A música alimentou todos os aspectos da minha carreira, mas tudo isso decorreu inicialmente da discotecagem. Sou DJ desde os anos 90 e fazer parte da indústria da música no início permitiu-me conectar em vários níveis com indivíduos em todas as partes da cena. Isso permitiu que meu envolvimento em vários projetos crescesse organicamente. Eu tocava nas festas, conheci promoters, e comecei a fazer festas sozinho e também em parceria com outros promoters. A indústria estava crescendo na época, então foi um momento especial para fazer parte dos empreendimentos novos e interessantes, enquanto também mantinha meu lugar atrás dos decks. Depois de mudar para Toronto, comecei a trabalhar em outros projetos maiores, todos envolvendo música eletrônica, novos locais, marketing, promoções, tudo veio naturalmente para mim e foi paralelo com minha carreira de DJ. À medida que o clube underground e a cena rave em Toronto começaram a desaparecer, comecei a trabalhar em festivais e simultaneamente criei o label. Isso também aconteceu no mesmo momento que comecei a viajar internacionalmente como DJ.

Não diria que as coisas se tornaram mais fáceis, ou difíceis, pois estão sempre mudando. Estou constantemente tentando encontrar um equilíbrio para alcançar os melhores resultados em cada campo e as oportunidades em cada área continuam chegando – isso mantém as coisas interessantes e me divirto ao longo do caminho.

2 – Nós temos muita curiosidade sobre a forma como se encontra o atual cenário da música eletrônica no Canada. Você poderia compartilhar algumas experiências conosco?

A cena no Canadá varia de cidade para cidade. Minhas experiências estão principalmente em Toronto, Vancouver e Montreal. Todas as três cidades tem talentos incríveis no mundo do house e techno, alguns fazendo grandes movimentos internacionalmente. As multidões e os frequentadores de festas estão definitivamente incluídos na música e conhecem todos os vários gêneros que estão lá fora. Os locais são incríveis e sempre há abertura de novos locais dedicados à cena underground, o que é ótimo. É incrível ver lugares como a Stereo em Montreal, Gorgomish em Vancouver e Coda em Toronto cheios toda semana. Cada cidade tem sua própria cultura e vibe, então é bom ver o talento canadense rolando por todo o país. Cada vez mais festivais estão surgindo, principalmente durante o verão.

3 – Em sua bio, você deixa claro a importância de Detroit em sua formação artística. Ainda hoje a cidade ocupa um lugar especial em meio a suas pesquisas? Quem são seus grandes ídolos oriundos de lá?

Detroit é e sempre vai ser um lugar especial para mim. Cresci a duas horas de distância da cidade e tive algumas das minhas primeiras experiências comprando discos na Submerge e Record Time. Sempre admirei Jeff Mills, Mike Huckaby, Derrick May, Juan Atkins e para ser honesto, todos os artistas que emergiram dos primeiros dias do techno. Não perdi o Detroit Electronic Music Festival (agora Moviment) desde que comecei a participar na década de 90 – é sempre um fim de semana muito especial para os meus amigos e pra mim.

+++ Relembre nossa entrevista exclusiva com Derrick May

4 – o que surgiu antes na sua vida: o interesse pela discotecagem ou o interesse em trabalhar com os bastidores da música eletrônica? Você sente que ter esses dois pontos em conjunto contribuiu para o avanço da sua carreira?

Definitivamente a discotecagem, em primeiro lugar, é quem eu sou e onde reside a minha paixão. O resto veio depois como mencionei acima. Qualquer coisa que eu faça, tem um elemento da música, seja tocando, produzindo, dirigindo meu label, promovendo e comercializando eventos e festivais. Ao longo dos anos, tive a oportunidade de conhecer não só DJs, mas também pessoas conectadas a vários DJs, labels, agências, etc. Todas as minhas experiências dos últimos 20 anos contribuíram para minha carreira de várias formas, mas em última analise, é minha compreensão profunda da música e da discotecagem que conduz minha carreira.

5 – Você possui no currículo apresentações em alguns dos clubs mais importantes do mundo. Há alguma história curiosa ou engraçada que você queira compartilhar conosco a respeito das turnês?

Hmmm, tantas histórias – é sempre uma viagem interessante estar em tour. Várias vezes eu viajo sozinho, então as histórias são construídas por conhecer novas pessoas enquanto estou fora. Conhecer novas pessoas e fazer festa com os promoters e seus amigos é sempre uma experiência divertida. Eu diria que os momentos mais divertidos são quando estamos fazendo um showcase da No.19, quando nossa crew do label se junta em um lugar só. Somos todos grandes amigos, se torna um tipo de reunião e todos temos momentos bons juntos, antes, durante e depois da gig. As melhores histórias, no entanto, ainda estão nos cofres 😉

6 – De que forma estar a frente da No.19 contribuiu para uma melhor visão da cena enquanto negócio? Quão desafiador é manter um padrão de qualidade dos lançamentos e ainda assim soar artisticamente forte?

O aniversário de 10 anos da No.19 está se chegando, o que é incrível e está me deixando muito animado. Quando olho pra trás e vejo o quanto o label tem crescido ao longo dos anos, e também a música que lançamos, me impressiona que conseguimos manter o nosso mandato desde o primeiro dia, que era manter um som atemporal underground particular. Preferimos ficar meses sem lançar nada, do que lançar algo que não sentimos fortemente. Trabalhamos diretamente com os artistas até que tenhamos um produto com o qual todos fiquem satisfeitos.

Dirigir um label junto com seus vários sub-labels permite o aspecto comercial por trás da cena da música – todos os labels têm sons diferentes, e do ponto de vista da produção, há muita música boa lá fora, que pode ser difícil não reconhecer que alguns sons são mais adequados para determinados labels por causa da marca. Realmente ajuda a categorizar toda música diferente que ouço de vários artistas.

7 – Fale um pouco sobre o seu relacionamento com Johnny White. Ele é um grande amigo há anos? Como exatamente vocês se conheceram e decidiram trabalhar juntos?

Nós somos amigos há mais de 10 anos e começamos tocando e fazendo festas juntos com Kenny Glasgow e alguns outros. Tínhamos nossa crew de caras que se concentravam no lado mais deep das coisas, quando não era tão popular quanto agora. Logo depois, surgiu a ideia de ter um outlet para lançar música da nossa crew e assim foi essencialmente como começamos a falar sobre o nosso label, No.19. Jonny e eu trabalhamos em conjunto no label e mantemos nossa longa amizade. Ele foi padrinho no meu casamento e fico com ele muitas vezes quando estou em Barcelona. Também somos parceiros de negócios e trabalhamos bem juntos – definitivamente é uma dinâmica interessante.

8 – Quanto ao seu trabalho no estúdio. Você é do tipo que começa a produzir com uma ideia fixa na cabeça ou apenas liga as máquinas e deixa as coisas acontecerem?

Apenas ligo as máquinas e deixo as coisas acontecerem. Gosto da abordagem orgânica. Algumas das melhores músicas que produzi começaram com brincadeiras com amigos no estúdio, então vou a fundo e começo a ajustar as que se destacam. Tenho uma tonelada de faixas inacabadas que estou revisando atualmente.

9 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música é tudo, é a minha paixão, meu trabalho e é o que me mantém pra frente todos os dias. Tenho um amplo espectro de música na minha biblioteca e estou disposto a desfrutar de todos os tipos em qualquer dia.

A música conecta as pessoas! 

 

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