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A música conecta

Alataj entrevista Nuno Deconto

Por Alan Medeiros em Entrevistas 17.04.2019

Nuno Deconto é um DJ e produtor brasileiro que possui uma larga experiência internacional e atualmente está baseado em Porto Alegre, sua cidade natal – antes disso, ele passou por Londres e Berlim. No ano passado, Nuno foi um dos destaques da compilação Cocada da Get Physical com a faixa Raízes. Em 2019, ele volta a participar da coletânea, dessa vez com Chima, uma collab com Leo Janeiro.

Neste intervalo de tempo, Deconto aprimorou suas técnicas de estúdio e conquistou dois releases importantes: um pela Cerebelo Records e outro pela Hotstage, onde remixou o produtor alemão Moog Conspiracy na faixa Orion. Apaixonado por tecnologia e pela cultura musical em um aspecto global, Nuno trabalha com uma forte influência dos sons de Detroit e pelo o que apresentou até aqui, merece uma atenção especial devido ao seu bom momento. Confira o bate-papo que tivemos com ele:

Alataj: Oi, Nuno! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Ano passado você fez seu debut como produtor com a faixa Raízes pela Get Physical. Pessoalmente e profissionalmente, o que esse release representa pra você?

Nuno Deconto: Tudo ótimo, é um prazer estar falando com vocês. Foi muito gratificante lançar a primeira track nesta renomada gravadora alemã, esse release representa uma nova fase na minha carreira como produtor. Antes produzia musicas exclusivas para os meus DJ sets, sem objetivo de lançar. Foram muitas  sessions, fiz diversas parcerias com amigos produtores e passei por vários estúdios na Europa. Sentia que tinha que estar 100% preparado e isso veio com meu retorno ao Brasil quando montei meu próprio estúdio. Depois de tanto tempo aprimorando minhas técnicas, consequentemente surgiu a track Raizes, a primeira feita a partir dessa grande mudança na minha vida.

Sabemos que você está trabalhando em um novo projeto para 2019 que realizará eventos acompanhados de uma ação social para ajudar comunidades carentes de Porto Alegre, certo? O que você já pode nos contar sobre isso?

Essa ideia surgiu quando comecei a dar aula de “DJ” e produção de música eletrônica aqui em Porto Alegre. Alguns dos meus objetivos como professor são ensinar a cultura DJ e as suas raízes, especificamente dentro do techno e do house. O projeto em parceria com a Blank Convenience Store ainda está em formação e em busca de colaboradores. Ele consiste em eventos periodicamente realizados na loja e também nas comunidades locais. Vamos trazer artistas de diversos estilos e também criar oportunidades para novos talentos, principalmente meus alunos. Além disso, queremos desenvolver uma série de ensino, como workshops, disseminando assim a cultura DJ.

Temos uma previsão de estreia para a abril, onde em todos os eventos serão arrecadados alimentos, roupas, brinquedos e diversos itens conforme o calendário. Parte do lucro da loja também será doado para instituições de caridades.

Você é o tipo de artista que parece cultivar um relacionamento bem especial com a tecnologia e seus avanços de uma forma geral. Dito isso, como você enxerga e avalia o impacto das transformações tecnológicas em tudo o que tem sido feito nos últimos anos?

Quando vi Richie Hawtin tocando pela primeira vez, ele estava começando a ajudar a desenvolver algo que chamo de “digital DJ era”, quando computadores começaram a entrar no “DJ booth”, percebi que esses profissionais não estavam apenas limitados em virar discos e sim com a tecnologia ter mais liberdade para a criatividade. Por exemplo, usando a configuração de 4 “decks” do Traktor, loops, ou até mesmo improvisando e mixando junto com outros instrumentos, parece muito mais como produzir música e ser criativo enquanto você esta se apresentando. Naquela época minha pesquisa foi direcionada a ele e toda sua trajetória na música eletrônica, especificamente no techno. Eu me sentia cada vez mais ligado à tecnologia, que me permitiu fazer coisas que nunca pensei serem possíveis.

Os primeiros discos que comprei, depois disso, foram de gravadoras de Detroit, músicas feitas por máquinas nos anos 80 e 90, elas soavam como música do futuro pra mim. Foi quando eu conheci alguns produtores como Derrick May, Jeff Mills e Juan Atkins que entendi o porque, todos tinham essa visão otimista do impossível. Desde o princípio, quando esses caras começaram, a tecnologia não era tao avançada quanto agora e eles inovaram o mundo sem uma tecnologia especifica para produção de música eletrônica ou DJ, sempre em busca de algo jamais visto. Isso realmente, pra mim, tornou-se a base do que é a música eletrônica: esse impulso, essa busca pelo desconhecido. Essa intenção de inovar só foi capaz através da evolução tecnológica. O próprio gênero “techno” que seria o som da tecnologia, evoluiu conforme a tecnologia.

Acho que o grande impacto da transformação high-tech nos últimos anos dentro deste gênero são as variadas possibilidades para chegar no impossível e estar um passo a frente como os “criadores” fizeram e fazem até hoje. Sendo uma nova forma de discotecar, um novo software ou uma máquina nova, existem tantas possibilidades que se tu souber usufruir o máximo da tecnologia, você pode se tornar diferente e ate mesmo inovar.

Você teve a oportunidade de morar em Londres durante algum tempo e conviveu de perto com essa que é uma das escolas mais interessantes da dance music global. O que esse período na capital inglesa trouxe de mais valioso para você enquanto artista?

O mais valioso sem dúvida foi o conhecimento adquirido, tanto como DJ, produtor musical, de eventos e lógico, a paixão pelo techno. Londres foi onde eu entrei de cabeça nesse mundo. Com diversas escolas, fácil acesso a estúdios, lojas de discos e claro, o networking lá criado, tive mais facilidade na minha busca por conhecimento. Também tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com importantes artistas da cena mundial como Derrick May, Juant Atkins, Sebastian Mullaert, Hiroshi Watanabe, entre outros. A cultura de e-music inglesa, dado todo seu histórico, teve um grande impacto e vantagem na minha vida profissional. Viver de perto e fazer parte disso por mais de 10 anos, estudando, tocando, produzindo e trabalhando com música fez quem eu sou hoje.

Parte do seu dia-a-dia é destinado a um trabalho mais técnico e voltado ao estúdio. Quais são as funções que você executa nessa esfera profissional?

Meu trabalho diário no estúdio consiste em várias funções, como engenheiro de áudio, gravação e mixdown para clientes. Como artista, produzo músicas e estou sempre buscando mais conhecimento técnico, inovando o estúdio com novos softwares ou gravando jam sessions, usufruindo dos meus setup’s ao extremo. Como DJ não tem nada melhor do que praticar e aperfeiçoar técnicas, sendo tocando com as turntables ou ajustando meu hybrid set. Parte do meu tempo também procuro pesquisar músicas, algo que comecei há mais de 15 anos, principalmente quando morei na Europa, ficava horas em lojas de discos ou na internet buscando por aquelas tracks únicas e exclusivas. Além disso, tenho ficado cada vez mais animado em ser professor lecionado os cursos de DJ e produção musical.

A segunda edição da compilação Cocada está confirmada para o primeiro semestre e você novamente participará, dessa vez colaborando com Leo Janeiro. Qual ideia de som vocês seguiram para produção desta faixa em questão?

A track “Chima” foi feita a partir de uma jam session, não tínhamos uma ideia em mente, foi através dos chords trabalhados que o som começou a ganhar uma característica mais exclusiva. A track no estilo ‘house detroit’ começou a ganhar forma e representa o encontro de um amante do house e um amante de techno, e nada melhor que um chimarrão para essa conexão, por isso o nome.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música representa a forma de expressão que não podemos expressar, uma outra linguagem, uma forma de conexão entre almas.

A música conecta.

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