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A música conecta

Alataj entrevista Philipp Straub

Por Alan Medeiros em Entrevistas 31.07.2018

Conteúdo powered by BURN Energy

Philipp Straub é um respeitado profissional frente ao mercado da música eletrônica na Europa há mais de 25 anos. CEO da Titan International, mentor do BURN Residency e DJ e produtor de grande experiência a nível internacional. Philipp é o tipo de artista que sempre tem algo interessante a compartilhar, seja em uma conversa informal em um dos icônicos bares de Ibiza ou quando está em ação no dance floor.

Há mais de duas décadas Straub trabalha duro para o desenvolvimento da música eletrônica em um patamar internacional. Profundamente apaixonado pela sua profissão, ele lidera com pulso firme e excelente posicionamento o BURN Residency, projeto anual da BURN Energy que incentiva e apoia talentos de todas as partes do mundo. A Titan, sua agência, é considerada uma das principais empresas do segmento no continente, principalmente por suas práticas regulares e investimentos pontuais frente a talentos jovens e experientes.

Ao mesmo tempo que o BURN Residency 2018 caminha para sua fase final, Philip trabalha com cuidado no desenvolvimento do projeto e de seus participantes. Nesse bate-papo exclusivo, ele fala com propriedade e profundidade sobre algumas dúvidas frequentes de toda audiência do BURN Residency no Brasil. Confira abaixo:

Alataj: Olá, Philipp! Tudo bem? Muito obrigado por nos atender. Desde que você está a frente do BURN Residency, certamente muitos participantes aprenderam com você. Mas e você, o que aprendeu de melhor com os participantes?

Philipp Straub: [risos] Boa observação! Eu realmente aprendo muito com eles todo ano e acho que é um relacionamento bastante equilibrado. É ótimo e importante conseguir contribuições das gerações mais jovens, saber como eles veem as coisas, quais ídolos eles têm, quais tendências eles seguem, como eles usam ferramentas técnicas, social media, etc… Tenho 44 anos e estou no negócio desde os 25, então posso ser considerado um veterano. Continuar novo e moderno é muito importante para sobreviver nesse negócio em que tudo é baseado em marketing de alguma forma. Então, a contribuição que recebo, valorizo muito. Desde 2011, quando me juntei a BURN e seu programa Residency, construí muitas novas amizades ao longo dos anos, em muitos países diferentes, foi um acréscimo natural à minha rede. Parece que há uma família global de pessoas que trabalhavam com a marca, ainda trabalham ou se candidataram a um dos programas.

Você tem acumulado experiencias em Ibiza já há alguns anos e certamente acompanhou parte do crescimento e desenvolvimento por lá. Como você avalia as recentes transformações que a ilha tem passado nos últimos tempos?

Essa é mais difícil. Fui para Ibiza a primeira vez em 97 e amei quão louca, selvagem e pura era. Tive algumas temporadas lá, mas depois ficou intenso para mim, mudei meu estilo de vida e Ibiza era como uma cidade do pecado. Não fui por 10 anos, até que Carl Cox me convidou para tocar na sua residência na Space. Aprendi que a ilha tem mais de um lado, que a natureza é uma parte importante e então equilibrei as coisas de forma diferente, o que funcionou perfeitamente até hoje. Desde que Carl me trouxe de volta, vou todos os anos e fico meses. Não toco sempre, mas fico sempre perto da indústria, amigos e colegas de todo o mundo, assim como relaxo na bela natureza.

Ibiza mudou muito, mas eu não sou o tipo de pessoa que olha para trás e reclama que os velhos tempos eram melhores. Era diferente apenas. Algumas coisas eu não gostava naquela época e outras não foram bem feitas. E algumas coisas eu não gosto agora e não são bem feitas. Sempre prefiro pensar pelo lado positivo, então me concentro nas coisas boas e há muitas. Ibiza ainda é o principal local para a música eletrônica na ilha e, devido ao seu pequeno tamanho, é sempre muito ativa. Novas tendências são testadas, algumas são bem sucedidas, outras falham. É parte da minha vida e eu não quero perder isso. Um pouco triste é que ficou muito caro e o serviço não corresponde a esses preços. Pessoas normais dificilmente podem pagar pelas festas e as pessoas ricas não gostam tanto devido à falta de serviço. Também é um pouco entediante ver sempre os mesmos DJs sendo headliners em todos os locais para todas as marcas e eventos. Eu acho que a indústria tem muito mais a oferecer e Ibiza representa apenas uma pequena parte dela. Mas não é minha missão, nem trabalho para mudar isso, mesmo quando penso que, com um passo atrás, a ilha e toda sua indústria receberiam muito mais e dariam mais passos adiante.

Esse ano o BURN Residency teve uma mudança de posicionamento e direcionamento bastante importante. Você poderia comentar um pouco mais sobre as razões que levaram a isso?

Burn Residency começou como Burn Studios, que era de fato uma participação muito curta em que as pessoas podiam ganhar uma viagem para Ibiza e conhecer alguns DJs como Fatboy Slim, Avicii e outros. Esse foi o primeiro passo, mas não resultou em um dinamismo. Então, criamos a competição de DJ e melhoramos ano após ano, levando a ser a maior competição desse tipo no mundo, com 9000 pessoas de 133 países. Foi uma jornada incrível. Para incluir os meios de comunicação de massa, nasceu a ideia de dar um investimento de 100.000 euros para o ganhador, com um plano de gestão e marketing desenvolvido individualmente. Agora, alguns anos depois, todos sentimos que deveríamos tornar mais seguro e sustentável. No final, em todos esses anos, foi principalmente sobre o apoio ao talento. Apoiar os próximos talentos que não sabem muito sobre o assunto. Então, desde o ano passado, movemos o conceito para uma plataforma de apoio aos talentos e não como uma competição DJ. Nós procuramos heróis locais que possamos ajudar a tornar internacionais. É mais central, mas o nível de qualidade ficou muito melhor devido a isso.

Como você avalia a participação dos artistas brasileiros no projeto? Alexiz ano passado e Morttagua esse ano, conseguiram transmitir um pouco da energia das pistas brasileiras?

O Brasil é um país tão grande e forte. Fiz algumas turnês no país como DJ há muitos anos e a cena era enorme. Os DJs foram mais bem pagos no Brasil naquela época devido a grande quantidade de pessoas nos eventos. Depois houve uma espécie de recessão que acontece em todos os mercados e também perdi a noção. Agora, há alguns anos, a cena está ficando cada vez mais forte com grandes festivais e clubes que têm uma enorme reputação internacional. Cada vez mais DJs saem do Brasil e fazem carreira internacional. Trabalhar com artistas brasileiros é um verdadeiro prazer. Eles têm muitas emoções para a música e isso faz com que seja muito agradável trabalhar com eles.

Alexiz é uma lenda e conquistou a todos quando chegou em Ibiza. Seu carisma, sua felicidade e seu caráter gentil estão se destacando a todo momento. Quando o vimos tocando, ninguém  acreditou que ele ainda não era um talento de sucesso internacional. Que cara! Ele foi para a final e ficou muito tempo conosco e desde que voltou ao Brasil, sua carreira parece estar indo cada vez melhor.

Nos conhecemos na primavera quando viemos para o Brasil e tive o prazer de tocar em um de seus eventos onde Morttagua também tocou. Também conheci ele, que é uma pessoa muito agradável, mas uma história muito diferente. Morttagua dirige uma grande gravadora que conquistou muitos seguidores e suporte internacional. Ele é um grande produtor e sabe como administrar esse negócio. Então, se encaixa perfeitamente ao nosso atual conceito da Burn Residency e é um grande embaixador da marca.

Pensando no BURN Residency a longo prazo. Como você enxerga o futuro da ação? Há planos e/ou mudanças para os próximos anos?

Há muitos planos, mas não posso revelar nada. É claro que precisa sempre de um grande equilíbrio para fazer tudo funcionar, mas há uma forte equipe central no Reino Unido que trabalha com essas coisas diariamente, assim como em cada um dos principais mercados da marca, como o Brasil, todos juntos. Realizar o programa custa muito esforço, tempo e também investimentos financeiros, mas significa muito para muitas pessoas, então espero que continue e se desenvolva por muitos mais anos.

Na sua opinião pessoal, quais são as principais características que formam um bom DJ?

Não há receita para o sucesso e cada história é diferente, mas ter paixão e também paciência, o compromisso e ethos certo, talento e habilidades é com certeza muito importante. Além disso, a menos que você seja um produtor genial, ser social a fim de interagir naturalmente ajuda muito. No fim, um estado de espírito equilibrado também é um ativo forte e ajuda a seguir o fluxo e usar o potencial na carreira individual. Também motivamos nossos talentos a trabalhar em um plano de negócios claro e concreto. Por 1 ano, 3 anos e 5 mais além. Não anote apenas as metas que deseja alcançar, mas também como você deseja chegar lá. Isso ajuda muito a criar um caminho em sua mente que você pode seguir com ajuda ou até mesmo sozinho.

Um dos grandes destaques do BURN Residency são os embaixadores do projeto. O que representa pra você e pra BURN ter nomes como Luciano, Nastia e Hot Since 82 apoiando genuinamente a ação?

Ao longo dos anos, tivemos muitos mentores e embaixadores como Carl Cox, Dubfire, Pete Tong, John Digweed, Seth Troxler e muitos outros, e o melhor para mim é que todos se apaixonaram pelo programa. É bom ter uma chance de dar algo de volta quando você tem sucesso em sua carreira e com BURN e o programa Residency oferecemos isso a esses ícones enormes. É uma forma natural de conectar essas duas partes para que a próxima geração receba inspiração e possa se beneficiar. Talvez um dia alguns de nossos antigos talentos se tornarão mentores.

Eu li em algum lugar sobre os conselhos que você deu a Jav Row e achei muito interessante. Como nós, profissionais diretamente ligados aos bastidores, devemos estimular um perfil mais sério e profissional da dance music como um todo?

Qual conselho você quer dizer? Dei a ele muitos conselhos nos 3 meses de intenso trabalho diário em Ibiza quando ele se candidatou e ainda estamos em contato regularmente. As coisas mudaram, mas não devemos esquecer de fazer as coisas pelo motivo certo. Agora, muito dinheiro pode ser ganho, mas essa indústria sempre foi principalmente sobre amor, paixão, tolerância, progresso e desenvolvimento de algo novo e inovador. Executar coisas apenas para ganhar dinheiro são motivos errados para mim. Podemos continuar ensinando a próxima geração sobre a história desse movimento e como fazer as coisas da forma certa. Não é sobre forçar alguém a fazer as coisas de uma certa forma, mas uma boa inspiração é uma contribuição valiosa, creio eu. Talvez alguns deles se adaptem a uma parte, alguns a algo a mais e se os outros fizerem o seu próprio caminho também é bom. Ainda assim, essa indústria pode melhorar muito em termos de profissionalismo e também globalmente falando, todos nós podemos trabalhar juntos, de forma mais próxima, eu acho. Os mercados podem aprender com outros mercados, pois as coisas geralmente acontecem de forma parecida. É sobre compartilhar e cuidar – para os outros, mas também para si mesmo no fim, como acredito que tudo volta.

Pessoalmente, como você enxerga seu perfil de discotecagem e produção musical? Qual caminho seguir para conectar essas duas partes de uma maneira positiva?

Pergunta muito boa! Equilibrar isso foi uma das tarefas mais difíceis para mim. Eu tentei ser apenas um DJ e produtor, mas isso foi um pouco chato para mim, pois sou muito ativo e quero usar meu potencial diário da melhor maneira possível. Sempre gostei de trabalhar com esse movimento, tanto nos bastidores, quanto no palco. Mas por um bom tempo, isso foi um conflito de interesses. Se você é DJ, mas também booker/promoter, você se torna automaticamente competição para muitos outros promoters e bookers, por exemplo. Também refleti muito sobre a minha carreira artística por um tempo e fiquei um pouco triste. Colocando esforços, emoções e trabalho em todos esses anos, chegou o ponto em que senti que merecia mais. Mais shows, cachês melhores, etc… Esse foi um círculo negativo em que acabou em eu não estar mais gostando do que estava fazendo. Apenas dando um passo atrás e equilibrando as coisas totalmente novas, consegui trazer de volta aquela alegria novamente. Ainda sou DJ e produtor e adoro fazer isso, mas chamo isso de meu passatempo profissional. Faço profissionalmente, mas sem expectativas. Não tento forçar nada. Apenas sigo o fluxo e uso como fonte positiva, para aprender e viajar. No final, isso beneficia muito o meu trabalho como manager e consultor da indústria, que meus clientes também conhecem e apreciam. Mas agora estou com 44 anos e levei um longo caminho para chegar onde eu estou agora, assim como pretendo ficar nesse campo por muitos anos… em qualquer direção que meu destino possa me levar.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Sempre foi e continua sendo uma ferramenta para expressar e criar emoções. Tanto como apresentador/DJ/produtor, assim como da perspectiva do consumidor. A música completa a vida, assim como cores completam um quadro. Na minha vida, a música é a fonte do meu ser presente, já que tudo que eu faço é baseado em música de alguma forma, mesmo que em alguns casos esteja apenas indiretamente ligado a ela.

A MÚSICA CONECTA. 

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