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A música conecta

Alataj entrevista Rico Jorge

Por Alan Medeiros em Entrevistas 29.03.2019

A dinâmica de apresentações live na música eletrônica se aproxima muito mais de bandas do que propriamente de um DJ set em seu formato tradicional. Quando bem executado, o live act permite que o artista se conecte com o público de uma maneira bastante ímpar. Porém, quando essa conexão passa longe de acontecer, problemas podem surgir e não há muito o que fazer, tendo em vista que pouquíssimos artistas conseguem mudar por completo o rumo de uma apresentação neste formato.

Conheça mais o trabalho de Portable, outro nome que domina a arte do live act.

Sendo assim, qual o segredo para obter sucesso tocando suas faixas ao vivo na pista de um club, festa ou festival? Não há fórmulas, como quase tudo na música e no campo artístico. Entretanto, é importante frisar que artistas que possuem uma roupagem musical original e autêntica levam vantagem, pois assim, e quase que só assim, é possível captar a atenção do ouvinte logo de cara, trazendo-o para mais próximo de sua música logo nos primeiros minutos de apresentação. Foi dessa maneira que Rico Jorge nos ganhou no Xama 2019.

O produtor mineiro, atualmente baseado em São Paulo, era um dos nomes que nos fez dar um share mais aprofundado antes da viagem à Bahia. Gostamos do que ouvimos e portanto, havia uma certa espera, sem expectativas, em torno de sua apresentação no festival. Ao longo de seu act, Rico mostrou um poderoso arsenal de faixas originais, experimentou frente a diferentes caminhos da eletrônica e conquistou tanto nossa admiração como também do público presente na pista do Xama Bar. Três meses após sua passagem por Algodões, o recebemos em “casa” para um mix + entrevista exclusiva. Confira abaixo:

Alataj: Olá, Rico! Tudo bem? Logo na primeira audição de uma de suas músicas é possível perceber que seu perfil sonoro está longe do convencional. Como foi pra você construir essa identidade cheia de vida e personalidade?

Olá! Tudo bem, obrigado. A construção é constância, nunca me distanciei do meio que vivo e das revoluções mais interna, parte daí. Do mínimo se cria o máximo, etéreo, e daí surge o que é real. É frustração exacerbada, paranoia de não conseguir colocar o pé no chão em momentos, se quebrando a cada passo para seguir adiante e poder canalizar as veias, ideias, observar e criar sem estranhamento do que somos e o que devemos socialmente.

Esteja Livre Pra Morrer ganhou um clipe bem especial dirigido por Hick Duarte. Qual mensagem você buscou passar através das cenas selecionadas?

A pira veio do Hick, a gente se cultiva tem uns bons anos, lá de Uberlândia, sempre tivemos essa troca e entendimento mútuo. Esteja Livre Pra Morrer é a ruptura constante do eu, a morte como artefato de reconstrução, a entrega mais válida para outra que podemos ter na perdição. O clipe segue essa estética sutilmente em alguns momentos e atos, a quebra do cenário, os olhos de nada consta, o culto nas mãos, o microfone invertido e a sensibilidade do Hick em captar tudo isso.

Como você enxerga e avalia o atual momento da sua carreira? Nesse exato estágio, quais são os principais desafios que você busca superar para seguir crescendo e evoluindo enquanto artista?

Me sinto confortável como nunca diante do que me entendo como artista a fazer, e terrivelmente desconfortável diante do que somos, no caso, eu também. Desafio constante é conseguir dialogar e construir, né? Não dá pra se derivar com a conjuntura que presenciamos e com a constância social segregadora desse território Brasil. É ato da psique aplicado no chão.

Assisti seu live na pista pela primeira vez durante o Xama e fiquei bem impressionado com a construção e a forma como ele foi aceito na pista. O que você pode nos contar a respeito do seu preparo para cada apresentação e da resposta que você obteve após essa gig específica?

Poxa, valeu! Meu preparo parte em aliviar os pensamentos, pé no chão, corpo atento e verdade colocada, o resto vem de trampo e mais trampo… Foi bem bonito!

Você entregou sua própria versão de Pescaria, música do Dorival Caymmi, para coletânea da Gop Tun que foi lançada pré Xama. O que você pode nos contar a respeito do processo criativo desse lançamento?

Os meninos convidaram e resolvi fazer uma versão, mas nada da harmonia original se encaixa dentro do que imaginava, aí fui fazendo um novo arranjo, dentro do meu processo mesmo, violão aqui, beat aqui, voz, encaixa ali e assim foi criando vida.

Pessoalmente e emocionalmente, quais são os principais desafios de uma carreira na música eletrônica?

No meu caso é o contato mesmo, tem sido um processo conseguir dialogar com pessoas sobre o que você faz e é. Ainda mais que tento dialogar com diversos cenários da música, esse meio termo confunde mas traz uma abertura maior para conseguir performar em diversos formatos.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música sempre foi isso aqui, né? Não sei separar e classificar.

A música conecta.

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