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A música conecta

Alataj entrevista Steve Bug

Por Laura Marcon em Entrevistas 11.12.2019

Steve Bug é facilmente considerado uma das figuras mais originais e compromissadas com a música eletrônica de todos os tempos. Seu trabalho pessoal como DJ e produtor e contribuição como proprietário, curador e incentivador de muitos outros profissionais através do selo Poker Flat — gravadora que influencia até hoje o mercado do house ao techno — o mantém há muitos anos entre as personalidades mais reverenciadas do mercado.

Desde os primeiros passos como DJ no início dos anos 90 na Alemanha, ele já apresentava um forte talento a ser lapidado e não demorou muito tempo para que sua música se espalhasse pelo cenário. A quebra de fronteiras foi maior ainda quando do lançamento da gravadora em 1999. Steve também fundou mais duas gravadoras parceiras: Dessous e Autiomatique, que nasceram da intenção de propagar sonoridades diferenciadas e mais profundas.

Em 2019, a Poker Flat Recordings comemorou seus 20 anos de existência da melhor forma. O selo lançou uma série de remixes de algumas de suas faixas mais icônicas com a colaboração de diversos artistas como Tim Engelhardt, Michael Meyer, Acid Pauli, Butch e muitos outros, além de lançar uma nova sublabel chamada Sublease Music, criada para apresentar novos e merecedores talentos.

Quanto ao Steve pessoalmente? Ele se mantém até hoje muito grato por suas conquistas, erros, acertos e mais feliz ainda por poder fazer o que ama, o que pelo jeito acontecerá até ele ficar bem velhinho. Às vésperas de voltar ao Brasil para se apresentar na comemoração de 8 anos da festa noon, no Rio de Janeiro, batemos um papo com essa lenda viva sobre carreira, produção, gravadora e rotina, sem deixar de pedir aquele conselho básico pra quem deu e continua dando muito certo quando o assunto é música. 

Perguntas por Marllon Gauche

Alataj: Olá, Steve! Tudo bem? Primeiramente muito obrigado por conversar com a gente. Depois de tantos anos de trabalho na música eletrônica, você é considerado por muitos uma lenda. De alguma forma você sente o peso da responsabilidade pelo sucesso que você conquistou ao longo dos anos?

Olá, prazer em conhecê-los. Estou bem, obrigado por me receber! Bom, cresci ao longo dos anos e sou grato por ser considerado uma lenda, porém apenas faço o que amo. Me apaixonei por house e techno há um bom tempo e esse amor me acompanha hoje. Não me sinto responsável pelo que conquistei, mas sim por compartilhar o amor pela música eletrônica com as pessoas sempre que toco.

Provavelmente você tenha muitos aprendizados para compartilhar com os mais novos ou mesmo com quem já está há algum tempo na cena… quais seriam os mais valiosos? 

É difícil dizer. Algumas coisas importantes você não pode ensinar, ou você entende, ou não. Embora outras coisas sejam mais fáceis de ensinar, eu não sei o que é mais valioso para os outros. Acho que depende da pessoa que está na sua frente. Em um momento em que as mídias sociais desempenham um papel tão importante, acho que o meu melhor conselho é: não se decepcione por ter menos seguidores do que os outros, ou porque você toca menos que outros DJs, ou porque suas faixas não estão na melhor posição dos charts, ou qualquer coisa do tipo.

Toda carreira começou em algum lugar, continue acreditando em si mesmo. Geralmente, fazer música não é sobre estar no topo, mas a jornada em si. Você pode nunca chegar ao topo, contanto que esteja dando o seu melhor e siga evoluindo, você vai encontrar o seu lugar na cena. A música não precisa estar no topo para fazer você feliz.

Como você busca conciliar um atribulado calendário de turnês com sua produtividade? Você cria bastante na estrada ou nos voos? 

Tentei várias vezes, mas não funciona para mim. Preciso estar no meu estúdio para ser criativo. Acho que é um estado da mente, mas também um problema sonoro, não gosto de trabalhar com headphones. Felizmente, estou muito criativo e produtivo no momento, então faixas novas aparecem sempre que estou no estúdio.

Aproveitando… fale um pouco sobre seu último lançamento? Você emplacou um EP pela Last Night On Earth. O que de mais especial esse trabalho carrega? Como foi produzir ao lado de Tim Engelhardt?

Adoro trabalhar com outras pessoas, mas faço isso, na maioria das vezes, estando presente no mesmo espaço. Com Tim foi diferente, ambos trabalhamos em nossos próprios estúdios e apenas enviamos os arquivos, um para o outro. Adicionando novos elementos ao primeiro esboço. As faixas cresceram lentamente e se transformaram no que são agora. Foi uma experiência interessante observar como as faixas evoluíram ao longo das semanas. Fico feliz que nós dois ficamos satisfeitos com o resultado. Também é ótimo ver as minhas influências e do Tim juntas.

E quais são suas principais referências dentro e fora da música eletrônica? Suas inspirações para criar, de onde elas vêm? 

Não sei dizer, acho que é viver, no geral. Como pessoa criativa, tudo o que você faz, vê ou experimenta, de alguma forma, influencia o que você é e o que faz. Na música eletrônica, as diferenças podem ser difíceis de ouvir, mas com certeza estão lá.

A sua label Poker Flat possui um catálogo gigantesco de lançamentos, já são mais de 20 anos de história, é isso mesmo? Olhando para trás dessa história, qual é o sentimento que vem no seu coração?

É uma grande surpresa, me sinto muito grato por todo o suporte que recebemos ao longo dos anos. É incrível ver artistas confiarem suas músicas para serem lançadas aqui. Como gravadora, você deve ser tão bom quanto a música que está sendo enviada a você, a menos que sejam as suas próprias produções, claro. 20 anos é muito tempo em um negócio que muda rapidamente, poucas gravadoras atingem esse marco.

Se o Steve Bug de hoje pudesse dar algum conselho a sua versão mais jovem em qualquer tempo, quando e qual seria?

Acredito que é importante cometer seus próprios erros e aprender com eles. Conselhos sempre vêm em segunda mão. Obviamente, eu acho que estava indo bem, caso contrário, não estaríamos aqui depois de 20 anos.

Você já esteve no Brasil há muitos anos atrás, tocou algumas vezes por aqui mais recentemente e agora teremos o prazer de vê-lo em ação novamente. Quais as melhores lembranças que você tem de suas antigas passagens por aqui? Ansioso para voltar e tocar no Rio de Janeiro?

Há tantas lembranças boas, de festas incríveis, pessoas acolhedoras e belas paisagens. Definitivamente, estou ansioso para voltar!

Uma curiosidade que me surgiu… de alguma forma a música brasileira influencia ou influenciou seu som algum dia? Você acompanha algo da nossa cultura musical?

Quando se trata de música eletrônica, você encontrará muitas influências brasileiras nas coisas de downbeat, mas às vezes também encontrará alguns elementos rítmicos nas faixas de dance. Não tenho certeza se influenciou diretamente algum trabalho meu, mas quando não estou ouvindo música eletrônica, gosto de ouvir outras coisas e a música brasileira com certeza está entre essas coisas. Uma das minhas músicas preferidas é Corcovado, de Antonio Carlos Jobim, apresentada por Joao Gilberto e Stan Getz. O que ouço realmente depende do meu humor e muitas vezes fico feliz em não ouvir música, não apenas para recuperar meu ouvido das festas.

Para finalizar, uma pergunta pessoal que sempre fazemos. O que a música representa em sua vida?

Nunca pensei nisso, já que a música sempre esteve presente em mim de alguma forma. É uma grande parte da minha vida, na qual dedico muitas horas, mas definitivamente recebo muito de volta. Acho que provavelmente ainda escreverei músicas quando estiver morando em um lar para idosos. Principalmente hoje em dia, tudo o que você precisa é de um laptop. Imagine uma festa de house music para pessoas com mais de 80 anos [risos].

A música conecta.

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