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A música conecta

Com mais de 16 anos de pista, Thiago Guiselini planeja ir ainda mais longe

Por Alan Medeiros em Entrevistas 07.11.2017

On Air é a coluna de entrevistas do Alataj. Leia todas aqui! 

No coração de São Paulo, uma festa destinada as batidas da disco e house music tem apresentado alguns dos melhores artistas do gênero há mais de 6 anos. Estamos falando da Soul.Set, iniciativa do experiente DJ Thiago Guiselini que caminha para mais uma edição no próximo sábado. Pelo palco da festa já passaram nomes como Ron Trent, Atjazz, Metro Area, Mark Farina e DJ Spinna. O francês Craig Ouar e o carioca Joutro Mundo são os convidados dessa edição.

Em partes, a história da Soul.Set e de Thiago se misturam, já que ambos estão nadando contra a maré da principal cena do país. Em São Paulo, as grandes festas independentes dominam, normalmente com mais de um palco e duas, três mil pessoas por edição, quase sempre com o techno em destaque. A proposta intimista da festa comandada por Guiselini soa diferente logo de cara e basta um aprofundamento para descobrirmos que há muito mais do que a superfície pode mostrar.

A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado e atividades ao ar livre

Muito dessa profundidade sonora oferecida pela festa se deve ao perfil artístico de Thiago. House, disco, soul, jazz… sua discotecagem hibrida passeia por diferentes estilos e oferece ao ouvinte uma viagem, quase que sensorial, pelos caminhos mais diversos e inusitados quando o assunto são sons de pista – ou não necessariamente tão pista assim. Nesse bate-papo exclusivo, Thiago fala sobre sua caminhada junto a SOUL.SET, sua loja de discos que está sendo aberta em Lisboa e o momento de efervescência cultural que São Paulo está passando. Confira:

1 – Olá, Thiago! Tudo bem? Obrigado por nos atender. Após o sexto aniversário da SOUL.SET e uma caminhada muito importante com a festa até aqui, quais são seus planos para o futuro da marca?

E ai gente! Sim, a caminhada foi bem construtiva durante esses anos, muito aprendizado, crescimento, mais de 40 edições em SP, algumas pelo litoral, um showcase na Itália. Mais de 25 mil pessoas já passaram pela pista da SOUL.SET e o plano é seguir em frente com as festas em SP, edições especiais fora da cidade, showcases pelo Brasil, em breve lançar o selo SOUL.SET e quem sabe um dia assinar um festival.

2 – Ron Trent, Joe Claussell, Atjazz, Metro Area, Rainer Trüby, Andrés, Mark Farina, Dj Spinna. A lista de DJs que já passaram pela SOUL.SET é grande e certamente deve aumentar nos próximos anos. Há alguma edição ou artista que possa ser considerada a mais especial na história da festa?

Foram muitas edições e muitos DJs na nossa pista. Precisamente 14 artistas internacionais e mais de 30 nacionais. Todas elas são extremamente especiais, sempre com uma energia incrível, é impossível descrever apenas uma. Mas tiveram algumas bem marcantes como a festa com Joe Claussell, por ser a comemoração de 2 anos, o primeiro gringo, um ícone na cena house, foi nosso maior publico, mais de 1200 pessoas em um domingo, tudo foi mágico.

Outra que a galera comenta até hoje foi a do Mark Farina, um estouro, em apresentação única no Brasil. As pessoas ficaram enlouquecidas esse dia, uma atmosfera maravilhosa foi criada.

A do Mr. Raoul K. africano radicado na Alemanha, que foi minha festa de despedida para uma temporada em Sydney, esse dia estava 7 graus e a pista não parou um segundo. Estava muito frio e a galera ali conectada sem parar um segundo.

Com o DJ Kon, o cara dos maravilhosos edits de Nova York, baita DJ com anos de carreira, foi uma paulada e não posso deixar de destacar grandes edições com artistas nacionais, a primeira vez que o Kl Jay tocou e a primeira do DJ Marky foram memoráveis.

Realmente fica difícil escolher uma edição, a com Ney Faustini ali no terraço do Lions e outra com Tahira e Gui Scott no Clube Nacional também foram memoráveis. Uma festa de fim de ano em 2012 com todos os DJs que tocaram durante o ano, caiu uma chuva de veraneio surreal e tivemos um momento mágico, metade da festa foi para o coberto e outra metade, umas 300 pessoas, dançando lindamente debaixo da chuva, o Rafael Moares estava tocando essa hora quando ele dropou “Rain” do Kerri Chandler, foi emocionante. Se começar a entrar em detalhes essa resposta vai longe [risos]

A imagem pode conter: 1 pessoa, multidão e noite

3 – O momento de efervescência cultural que São Paulo viveu nos últimos anos foi bastante positivo para a cena techno, inegavelmente. Mas e para a cena house/disco, esse período representou um período de expansão também?

A expansão do techno realmente foi bem forte, já para nossa cena não sentimos tanta diferença. Claro que tem muita coisa acontecendo na cidade, quando começamos eram 3, 4 festas no final de semana e ninguém falava muito de techno, hoje são mais de 20 festas por final de semana, festas enormes que recebem mais de duas mil pessoas inclusive. Mas esse movimento parece menos acelerado agora, a Soul.Set tem um diferencial em meio a essa explosão toda, é uma festa mais intimista, temos um publico bem fiel e muita gente nos respeita e nos da apoio. Na verdade apesar de não sermos o foco dessa efervescência acredito que nos solidificamos ainda mais, temos história, embasamento musical, entregamos a melhor estrutura possível, sempre excelentes artistas no line-up… isso nos valoriza cada vez mais, é bom apresentar algo diferente do que esta em alta, a cena house não teve esse boom todo, mas ela se mantém, house não morre, além disso temos um som atemporal e o pilar disso tudo é a house e a disco. Não tem como falar de techno sem falar de house, logo quem quer conhecer a origem de tudo isso acaba caindo na cena house. Essa expansão sempre ocorre de tempos em tempos em algum estilo. Mas, felizmente conseguimos manter nosso publico e essência e sou muito grato a esse carinho todo.

4 – Fluidez, precisão e sensibilidade são características importantes de seus sets. Como funciona sua preparação entre uma gig e outra? Em geral, há um ritual pré-evento ou as coisas fluem de maneira mais natural?

Não existe uma preparação especifica, isso flui bem natural, algo que a experiência acaba nos presenteando, afinal são 16 anos tocando, muitas pistas, inúmeros públicos e situações diversas. Essa bagagem me ajuda muito, acho que o mais importante acaba sendo a pesquisa musical, a garimpagem me dá tudo que preciso para chegar na hora e fazer a leitura da pista, tomar a direção certa, faz com que eu tenha uma base sólida para que na gig eu passeie e me conecte com a pista através da música e essa sinergia é o que realmente importa. Mas nada como estudar o público que vai encontrar, entender o timing do set. Eu sempre costumo rever todo meu case, isso leva dias, acabo separando umas 500, 700 faixas por gig, o que me dá uma liberdade bacana para criar uma atmosfera e passear bastante, criando um set dinâmico onde me encontro na pista.

5 – Você está prestes a abrir a Amor Records em Lisboa, uma loja de discos que vai começar com um acervo de mais de 5 mil exemplares. Como tem sido trabalhar nesse projeto? Ter uma record shop era um dos seus grandes sonhos na música? Quem são seus parceiros nesse projeto?

Sempre quis trabalhar apenas com música, isso vem acontecendo há 3 anos, quando larguei minha outra carreira para me dedicar somente a ela. Quando isso acontece é natural que você se envolva em mais e mais projetos. Acho que hoje o mercado de discos nunca esteve tão aquecido, o mercado analógico não tem mais aquele receio do digital como ocorreu nos anos 2000, se fortificou e a informação está muito maior, o DJ precisa mergulhar em pesquisa, achar aquele disco esquecido e já que estamos nesse meio, porque não abrir uma loja e nos especializarmos ainda mais? Eu tenho mais dois sócios o Arnaldo Robles e o Fernando Martinez, ambos DJs, um deles já tinha dado o start nessa garimpagem aqui no Brasil e quando nos unimos demos continuidade atrás dessas pérolas second hand. Mas não vamos vender apenas discos usados, esses 5 mil vamos soltando aos poucos, fechamos várias parcerias com excelentes distribuidoras que nos enviarão material selecionado a dedo regularmente, no acervo terão coisas novas, copias limitadas e essa garimpagem pelo mundo não vai parar, na verdade essa busca louca por discos hoje em dia é uma coisa natural do DJ. Também venderemos equipamentos, toca-discos hi end e rotary mixers.

// Relembre a passagem de Robles pelo Vitrola Radioshow

6 – A Amor Records ainda abrigará um bar/café, certo? Quais outras atividades vocês pretendem trabalhar por lá?

Inauguramos agora em Novembro com a venda de discos, alguns equipamentos e o funcionamento do bar/café para dar maior conforto aos clientes e tornar algo mais intimista. Planejamos evoluir para selo/editora para lançarmos coisas pela loja, além de relançar músicas de difícil acesso por serem escassas. Também atuaremos como label de festas, agenciamentos…. entrar mais no mercado de audio hi end dando consultoria em projetos, nos especializar em rotarys mixers (sou um aficionado por áudio analógico). Nosso espaço suporta umas 70 pessoas, então queremos ser um hub para apaixonados por música, com eventos e produções no local.

7 – Quais razões levaram vocês a escolher Lisboa?

Já estava com a ideia de mudar para Europa, sempre quis ter uma experiência no velho continente e já tinha decidido Lisboa. A cidade está em grande expansão, cultural e artisticamente vem crescendo muito, a cena ganhando forma, o turismo cada vez maior, a proximidade com o Brasil facilita, são 20 voos diários para cá, não quero deixar de estar por aqui, então esse eixo Brasil/Europa faz um bom link. Está acontecendo um movimento em Lisboa bem parecido ao que aconteceu em Berlim no passado, muita diversidade, artistas, jovens se mudando pra lá. A comida, a língua e a cultura mais próxima da nossa. Quando um amigo em comum disse que um dos meus sócios também estava com ideia de mudar para lá, na hora liguei para ele e nossos planos se cruzavam, em paralelo ele já estava conversando com o terceiro que já morava pela Europa e trabalhava em uma loja de discos, então fluiu da melhor forma. O fato de nós 3 termos cidadania europeia facilitou, estive em Lisboa em 2010 e 2013 e quando voltei em maio de 2017 para dar o start na abertura da empresa já senti uma grande mudança, uma atmosfera diferente, uma cidade bem mais jovem, movimentada.

8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Emoção, essência, conexão, verdade, liberdade, descoberta, respeito, aprendizado, carinho, trabalho, alegria, diversidade. Complicado mensurar algo que você sente, onde a interpretação varia a cada momento, local e idade. Música sempre será uma eterna companheira que me faz transmitir e entender o que muitas vezes não consigo demonstrar.

A música conecta as pessoas! 

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