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A música conecta

Alataj entrevista Thito Fabres

Por Alan Medeiros em Entrevistas 05.02.2019

A cena musical de Vitória/ES, não é exatamente uma referência histórica para a indústria eletrônica nacional, mas tem crescido de forma significativa nos últimos anos graças ao trabalho de profissionais como Thito Fabres, fundador e líder da Prisma Techno. Em 2014, quando a Prisma surgiu como uma label party na cidade, pouco ou quase nada se fazia frente a música eletrônica de vanguarda. Hoje, há uma série de boas iniciativas e o futuro é bastante promissor.

Dentro desse cenário a Prisma Techno se tornou uma espécie de referência e provou aos demais núcleos que é possível desenvolver um trabalho com relevância nacional e internacional partindo da capital capixaba. Especialmente nos últimos dois anos a Prisma se tornou um dos labels mais importantes do cenário techno nacional, com uma agenda de releases ativa e consistente, além de showcases regulares em algumas das principais cidades do país.

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O novo capítulo da história da gravadora foi lançado recentemente, no dia 31 de Janeiro. Trata-se da segunda edição do VA Evolution, compilação assinada justamente por Thito Fabres que em 2019 passou de 19 para 28 faixas. A nosso convite, Thito falou com exclusividade ao Alataj sobre alguns dos principais pontos que acompanham o trabalho da Prisma Techno nos últimos anos. Confira o resultado desse bate-papo a seguir:

Alataj: Olá, Thito! Tudo bem? Obrigado por nos atender. A Prisma Techno é um selo baseado em Vitória, cidade que não possui exatamente uma tradição dentro da cena eletrônica brasileira. Quais tem sido os prós e contras de ter sua base por lá? Como vocês tem se relacionado com os artistas regionais?

Thito Fabres: Olá Alan, fico grato pelo convite. Há quase 5 anos quando a Prisma começou éramos o único núcleo underground da cidade e o objetivo sempre foi conectar Vitória a vanguarda da música eletrônica mundial. Fomos ousados e já começamos com uma noite semanal, as quintas, na grande maioria das vezes com atrações nacionais. O intuito era despertar o hábito de música eletrônica e tínhamos como referencias festas como o 5uinto e Moving D-EDGE. Esse modelo permitiu que não batêssemos de frente com as festas mais comerciais da cidade, já que ainda não tínhamos um público fiel, além de conseguir negociar atrações com valores menores, por ser as quintas. O grande desafio era conseguir uma média mensal de público que permitisse pagar os custos e assim manter a Prisma com fluxo semanal.

Ao longo desses anos a Prisma sempre acolheu os artistas locais, dando oportunidade e visibilidade. Meu trabalho na Prisma incluía dar suporte aos DJs locais, ajudando e orientando o desenvolvimento musical de cada um deles, com reuniões periódicas, sendo um verdadeiro conselheiro diante de dúvidas e dificuldades, visto que era um universo absolutamente novo para a maioria. Hoje, é extremamente gratificante poder acompanhar de perto essa evolução e estruturação da cena que está acontecendo. Isso me deixa muito entusiasmado com o futuro.

Percebo que a sua gravadora possui uma filosofia de realmente apostar nos artistas, incentivando-os em diferente frentes e promovendo os lançamentos de forma cuidadosa. Quão importante isso tem sido para o desenvolvimento da gravadora?

Uma vez que Prisma começou também atuar como gravadora, sendo então rebatizada para Prisma Techno, passamos a desenvolver esse mesmo envolvimento também com os produtores, participando ativamente da evolução deles. Esse trabalho em conjunto reflete a boa relação que temos com os artistas e com certeza na qualidade dos lançamentos.

No ano passado a Prisma Techno conquistou uma posição de destaque no RA entre os selos de techno com mais charts do mundo. O que representou exatamente essa conquista para todo time da Prisma?

Sem dúvidas foi algo bastante positivo. Sabemos que o Resident Advisor é uma plataforma bastante respeitada no mundo, especialmente na Europa, porém não muito conhecida no Brasil. Ver a Prisma, um selo brasileiro, junto com grandes gravadoras é bastante motivador. Essa exposição nos trouxe um aumento no número de vendas e plays e também contribuiu para o reconhecimento do nosso trabalho como algo sério e profissional.

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Percebo que, paralelamente aos lançamentos, você e seu time conseguiram desenvolver um perfil ativo para gravadora também na parte dos eventos. Quais são os planos da Prisma Techno em relação a isso no futuro?

A Prisma nasceu como uma festa, a produção de eventos está em nosso DNA, possuímos mais de 100 edições realizados,e desde quando começamos a atuar como gravadora, passamos também a realizar showcases por diversas cidades do Brasil como uma forma de apresentar os artistas e comunicar nossa ideologia diretamente ao público. Em 2019 faremos muitos eventos dentro e fora do país, muitas negociações estão sendo feitas e em breve apresentaremos um calendário com as datas e locais por onde passaremos.

Manter uma gravadora rentável dentro do cenário underground é certamente o principal desafio desse formato de business. Como vocês tem buscado um crescimento sustentável nesse sentido?

Manter uma gravadora em um mercado dominado pela pirataria é um grande desafio e nós não escapamos dessa realidade em que a receita com vendas de músicas não é suficiente para pagar os custos da gravadora. Existe um grande potencial nas plataformas de streaming e acredito que no futuro essa possa ser uma boa fonte de renda, mas ainda não apresenta um retorno razoável. A apresentação de showcases tem trazido um retorno positivo e pretendemos realizar mais eventos em 2019. Além disso, em breve será lançado nosso site, que contará com uma seção de produtos licenciados pela Prisma, como colares, camisetas e outros acessórios, sendo portanto mais uma fonte de receitas. O caminho é a diversificação cada vez maior.

Recentemente nós divulgamos uma pesquisa frente ao mercado das gravadoras brasileiras que relatou que 78% dos selos nacionais estão lançando techno – uma maioria absoluta neste momento. Como vocês enxergam a possibilidade de trabalhar com outros estilos no futuro? No que diz respeito ao perfil sonoro do selo, você sente que a Prisma já se encontrou totalmente?

Acreditamos que o Techno vai além da música, trata-se de uma filosofia de vida, uma religião, um modo de pensar e também de existir nesse mundo, pautado na total aceitação do novo, no desapego ao passado e na constante evolução. Estamos vivendo uma transição de era e muitas transformações estão acontecendo em todas as esferas de nossas vidas, causadas principalmente por inovações tecnológicas. Isso assusta muitas pessoas que vêem as mudanças e novas tecnologias como ameaças aos seus empregos ou ao seu modo vida. A música Techno é a trilha sonora dessa nova era e tem como propósito ajudar-nos a atravessar essa ponte. A Prisma tem como missão a difusão da cultura Techno em Vitória, no Brasil e no mundo. Por isso a Prisma é Techno.

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Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

O universo é regido pela música e é o mais próximo que podemos chegar de Deus. Na verdade, a música é verdadeiramente Deus

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