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A música conecta

Alataj entrevista TolinchiLove

Por Alan Medeiros em Entrevistas 24.09.2018

Muitas vezes não damos a devida atenção para os artistas de outros lugares da América do Sul e de uma forma geral isso acaba resultando em uma integração menor entre os cenários de cada país. Mudar isso é sinônimo de aumentar as possibilidades de conexão entre as cenas e um processo importante no que diz respeito a valorização do nosso próprio produto artístico.

Ao olharmos para Lima, TolichiLove surge como um dos nomes que merecem destaque na cena da cidade. O DJ e produtor peruano começou sua carreira em meados de 2010 e atualmente costuma guiar seus DJ sets entre o house, tech house e downtempo – sempre com uma atmosfera bem clubbing. Sua experiência de pista o levou a tocar nos melhores clubs e festas de países como Peru, Colômbia e Bolívia, se tornando assim um player importante no mercado sul-americano.

https://soundcloud.com/tolinchilove/tolinchilove-live-recorded-set-barranco-live-powered-by-modulab

Recentemente, TolinchiLove esteve em tour pelo Brasil apoiado pela Gigloop. O DJ e produtor peruano passou por cidades como Chapecó, Londrina e Brasília com gigs em festas importantes do nosso circuito. Durante sua passagem por aqui, ele respondeu algumas perguntas exclusivas para o Alataj. Confira o resultado desse bate-papo:

Alataj: Olá, TolinchiLove! Obrigado por falar conosco. Particularmente, não sei muito sobre a cena eletrônica no Peru. O que você pode nos contar a respeito? Quais são os atuais highlights?

Tolinchilove: Olá Alataj, obrigado por essa entrevista. Para que as pessoas conheçam mais sobre o Peru e seu lugar na cena da música eletrônica mundial, entrevistas com importantes meios de comunicação, como o Alataj, são fundamentais. O Peru tem uma cena eletrônica com mais de 20 anos de desenvolvimento. Começou naquela forma underground no fim dos anos 90 e ao longo dos anos se tornou um dos lugares “obrigatórios” para artistas internacionais.

Temos ótimos locais toda semana apostando em festas com os melhores DJs do mundo. Franquias como Creamfields, Resistance, Ultra, The Social Fest e festivais nacionais como Get Out, Safari Electronic Park e Far Away. Há grupos de promoters com muitos anos de experiência, como Vastion, Loop Promote, Fiesta Is, Laboratory e outros, eles promovem eventos de qualidade. Com a cultura dos clubes, ainda há um longo caminho a percorrer, não há muitos clubes de música eletrônica, mas dos poucos que existem, um que se destaca é o Fuga, a casa do movimento underground e dos novos DJs no Peru. Outro problema com a cena do Peru é que não temos agências de booking ou managers, por isso não se sabe muito sobre os DJs e produtores peruanos na cena internacional, ainda é necessário muito para profissionalizar a cena.

Quanto aos destaques da cena peruana, podemos citar DJs como o duo Deaf Pillow (Christian Berger e Rodrigo Lozano, residentes da Loop Promote), que acabaram de se apresentar no Sunwaves Festival e estão sempre em turnê em diferentes países, tocando em showcases como tINI and The Gang, Varos Locos, etc. Outro DJ e produtor nacional conhecido e talentoso é Kike Mayor (criador do selo Saint & Don’t) que atualmente está morando em Nova York.

No que diz respeito a produção, o Peru tem produtores muito talentosos e reconhecidos internacionalmente, como o Chinonegro, por exemplo, com lançamentos em selos como Stereo Productions, Happy Techno, NONSTOP e muitos outros. Ele teve recentemente duas faixas no top 10 do Beatport (em dois selos diferentes ao mesmo tempo) e recentemente esteve em tour pelo Chile.

Ammo Avenue, com apenas 22 anos, já esteve em tour pelo Brasil duas vezes e é conhecido mundialmente como produtor, já lançou em selos como Safe Music, LouLou Records, Drop Low, entre outros. Ele é um dos preferidos de Kolombo, Latmun e outros artistas. Atualmente, eu e Ammo Avenue estamos organizando nosso primeiro EP juntos.

Outros DJs e produtores peruanos conhecidos são Israel Vich (Get Physical), Marco Tegui (Bar 25), Luis León (Blankhaus), Alejandro Cuestas (Bodyparts, Inwave), Harddisk (Baikonour), Vazdra (Crackhouse), VITU (Wonderwheel), Paul Haro (12+1 London, Haliaeetus), Nic Zega (Habitat, Manicomio), Tony V (Vintage Music), Carlos Call & Jose Antonio Eme (Go Deeva) e a lista continua…

Estou orgulhoso de fazer parte do grupo como um dos DJs peruanos com a maior projeção internacional no momento. Ser residente da MUNITE NY e ter feito duas turnês pelos melhores clubes e festivais da Colômbia (Baum, Electronic Art Fest, Armando Records, Salon Amador, Victory Club, etc) e uma turnê anterior na Bolivia me ajudou nesse sentindo.

O Brasil é o terceiro país no qual realizei uma turnê completa, que inclui 15 dias, 6 shows e 5 cidades. Com apresentações em clubes e festivais importantes do país, como Low Club, Amazon Club, Mobil Club, Berlin Club e muito mais. Como produtor, tenho dois lançamentos na Offsite Records e Fine Music, um remix oficial para o renomado produtor romeno Luca M, chamado Trificile (TolinchiLove & KCH remix).

https://www.youtube.com/watch?v=5fFoApXTDaU

Enquanto continente, acredito que ainda precisamos evoluir no que diz respeito a uma integração maior entre as cenas artísticas de cada país. O que podemos fazer para que esse intercâmbio cultural entre artistas seja mais frequente?

Acho que precisamos criar mais pontes entre os artistas da América do Sul e não priorizar apenas os DJs americanos/europeus. Música eletrônica de qualidade está em todo lugar e o nosso continente tem muito a oferecer. Se estamos geograficamente perto, deveríamos estar musicalmente também.

Convidei dois grandes talentos para tocar no Peru (ZAC e Felipe Callado) e sem ser conhecidos anteriormente no país, eles causaram uma excelente resposta do público peruano. O mesmo aconteceu com Puka, que já veio duas vezes e a reação do público foi incrível. Apenas precisamos gerar consistência nessa ponte de troca entre artistas da mesma região e reconhecer o valor dos artistas da América do Sul.

Quais foram as bases artísticas que formaram seu perfil enquanto DJ? Na sua opinião, o que separa um ótimo DJ dos demais?

Minha essência artística e musical vem de black soulful, como o funk (o afro-americano funk, não o brasileiro), disco, jazz, soul. Quando descobri house na pista eu sabia que tinha encontrado meu habitat natural.

Nasci na pista de dança e para mim a música eletrônica é mais do que música ou apenas a própria batida. É a experiência da liberdade compartilhada através da música. House e tech house que toco têm bastante groove e soul, bases instrumentais e musicais, sons vivos que são felizes e divertidos. Música para dançar e celebrar a vida.

O que eu sinto que me diferencia dos outros DJs é a interação e conexão que tenho com o público enquanto toco. Para mim, a dança é a manifestação física de liberdade e toda vez que toco, priorizo a dança, a pista está em constante movimento.

https://soundcloud.com/tolinchilove/tolinchilove-mini-podcast-aug-2018

Percebo que a figura do DJ residente, aquela acostumada a guiar a pista de um club em qualquer noite, perdeu um pouco de força nos últimos anos. Qual sua opinião em torno desse momento? Como tem sido trabalhar no posto de residente da Munite NY?

Acho que ser um DJ residente traz um treinamento e perseverança que não seriam atingidos de outra forma. Poder tocar com artistas internacionais, aprender a ler a pista, fazer warm ups ou encerramentos, tudo isso define e aperfeiçoa um DJ.

DJs são como pilotos de avião e as cabines são como a cabine de comando. Quanto mais horas de voo nós tivermos, melhores pilotos nós seremos. Tocar entre amigos em eventos particulares não é a mesma coisa que tocar em frente a uma multidão de pessoas em diferentes clubes.

Ser DJ residente na MUNITE é um caso especial, porque o Gui Ramos (tour manager do Danny Tenaglia e fundador da MUNITE NY) me conheceu durante uma festa no Peru e disse que gostou do meu trabalho e que nós deveríamos organizar um tour pela América do Sul comigo como residente, então atualmente estamos preparando na Colômbia e no Brasil.

O que é especial sobre a MUNITE é que o conceito é fazer festas em diferentes países ao redor do mundo com uma parte do lucro destinada a crianças carentes do país em que a festa está sendo realizada. As festas estão acontecendo em cidades como Nova York, Tóquio, Miami, Lima e outras.

Também sou residente da Vastion Promote, os donos de franquias como Resistance e Ultra Music Festival no Peru e já fui residente na Solar – de Giancarlo Chía, ex gerente do Heart Miami, que atualmente trabalha com a Stereo Productions na Espanha.

Aí do Peru, qual a visão que você possui em torno da cena do Brasil? Há algum artista brasileiro que você tem acompanhado de perto recentemente?

A cena brasileira é enorme e muito profissional, muito mais do que a peruana, é quase como um mundo paralelo. Os DJs e produtores mais respeitados e conhecidos no Peru são Gui Boratto e Wehbba, além deles não há muita participação de DJs brasileiros, pois está faltando a ponte que falamos anteriormente. Eu, particularmente, amo as músicas dos produtores brasileiros Tough Art, Deophonik, Puka, ZAC, Willian Kraupp, Jean Bacarreza, Do Santos, Andre Gazolla, Vintage Culture, Pimpo Gama e outros. Toco muitas músicas de produtores brasileiros.

Todo grande DJ possui algumas gigs especiais em sua carreira. No seu caso, quais foram os principais momentos já vividos no dance floor?

Os momentos mais especiais da minha carreira como DJ foram abrir e fechar a noite para artistas como Luciano, Claptone, Lee foss, Chus & Ceballos, Danny Howells, Dave Seaman, Coyu, Edu Imbrernon, Heidi, Umek, Mauro Picotto, Octave One, Phil Weeks, Mendo, Matt Tolfrey, Rafa Barrios, De la Swing e muitos outros. Os festivais que toquei dentro e fora do Peru também, como Creamfields, Electronic Art Fest (Colômbia) e Life in Color foram especiais para mim, ver mais de 6 mil pessoas dançando com a sua música traz um sentimento incrível. Tenho uma lembrança incrível de uma festa que eu fechei no Baum (melhor club da Colômbia e um dos 50 melhores do mundo), tocando na festa de Octave One até às 9h. Ninguém saiu do club e eu fiquei animado com a resposta e reconhecimento do público colombiano.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música é a minha vida. Isso resume tudo. Obrigado pela entrevista! Vejo vocês na pista em breve novamente.

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