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A música conecta

Alataj entrevista TROOP

Por Alan Medeiros em Entrevistas 24.12.2018

Florianópolis é uma cidade com diferenças importantes frente as demais capitais do Brasil, a começar por ser uma ilha. Sem aquele ar de metrópole presente em outras regiões do país, sua população (na ilha) está dividida entre pequenos/médios centros urbanos e regiões de praia. Com uma das piores mobilidades urbanas do país, todo e qualquer evento projetado para o público precisa ser estruturado com muita atenção.

Historicamente, regiões mais badaladas recebiam os principais eventos de música eletrônica da cidade. Essa história tem começado a mudar com a participação ativa de núcleos como a TROOP, que ao longo de seus 5 anos de história tem ajudado a revitalizar o cenário musical de Floripa e, muito além de atrações artísticas de primeiro nível mundial, tem entregue ao público novas experiências em torno da ilha, com eventos e ativações em lugares antes pouco explorados.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, noite, multidão e área interna

Quanto ao histórico de line ups da TROOP, podemos afirmar que de fato ele é bastante impressionante, principalmente se pensarmos que a grande maioria dos eventos da marca recebe menos de mil pessoas. Entre os artistas escalados como headliner de edições passadas, grandes nomes como Fred P, Janeret, Mayaam Nidam, Thomas Melchior e Ryan Elliott figuram na lista, além claro de um timaço de diggers nacionais que sempre marcam presença. Brindando esse momento especial, Caetano, head do projeto, nos recebeu para um bate-papo exclusivo:

Alataj: Olá, Caetano! Tudo bem? Os últimos dois anos fora especialmente intensos para a TROOP. Como você avalia as transformações da festa nesse período?

Olá, Alan! Sempre um prazer estar por aqui. Eu avalio de forma muito positiva o crescimento e o reconhecimento que a festa vem tendo. O público esta cada vez mais educado socialmente e musicalmente falando e isso tem um imenso vínculo com o trabalho que vem sendo feito dentro do projeto. Apresentar artistas e apostar em inovação não é o caminho mais fácil, nem nunca será, mas é a missão e objetivo da TROOP. Então, me sinto cada vez mais satisfeito ao saber que as pessoas vem frequentando as festas oferecidas muitas vezes sem nem saber quem são os artistas, mas sabendo que a entrega será de bom gosto.

De que forma você e os demais membros da TROOP buscam construir uma relação mais próxima com o público da festa?

Além do trabalho dos comissários e divulgadores do projeto, que criam uma relação person to person com seus clientes, buscamos sempre saber quem esta indo na festa. Quando vemos um rostinho novo por lá (que acontece sempre), perguntamos, conversamos e tentamos criar uma relação mínima com a pessoa. Não usamos mail list, nem credenciamentos, por uma questão de evitar invadir a privacidade da pessoa que a maioria das vezes esta apenas procurando uma festa boa para o seu final de semana ter um final feliz [risos].

A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo, close-up

Pelo segundo ano consecutivo vocês terão um Réveillon bem especial na Lagoa da Conceição. Quão desafiador esse projeto tem sido? O que podemos esperar de diferente para essa edição?

A primeira edição de Réveillon foi realizada em apenas 3 semanas, em parceria com o núcleo paulista Subdivisions. Conseguimos entregar uma festa maravilhosa, energia boa, criando uma opção com música de vanguarda e apenas DJs nacionais, para aproximadamente 600 pessoas. Pensando em relação ao mercado da ilha, onde o foco das pessoas resume-se basicamente em passar na praia ou em paradores “top”, festas open premium, vejo como um sucesso em um nicho relativamente pouco aproveitado. Sinto que os núcleos aqui tem um pouco de medo em arriscar no novo.

Para esta edição de 2019, preparamos um lindo cenário. A festa terá mais duração, vão ser 12h divididas em 2 pistas, com 11 artistas, sendo 2 deles internacionais. Traremos o gigante Fred P, que sempre que pinta por aqui deixa as pistas pegando fogo, mesmo, e também teremos pela primeira vez no Brasil, o detroitian Patrice Scott, um artista inovador e de ponta da nova safra da cidade do techno. Além destes dois monstros do house, o time brasileiro foi escolhido a dedo e todos sempre apresentam trabalhos incríveis, além de terem grande participação e sempre dar apoio ao projeto: Abraham, eu, C-LO, Eduard, Gromma, Kaka Franco, Ney Faustini, Stekke e Tati Pimont, artistas que eu admiro, acredito e respeito, por levarem na alma e bem a sério sua relação com a música.

Além desse timaço no comando sonoro, teremos um espaço relax com massagem, make up, barber, um bar completo de drinks criados especialmente para nossa virada, a decoração a gente sempre pira (é claro, fica de segredinho até la) e também a galera da Modular assinando a parte de iluminação dos espaços.

A aposta para essa virada é oferecer uma festa de extremo bom gosto em todos os quesitos, em um lugar confortável, com fácil acesso (sabendo que a ilha fica um pouco apertada no verão, não é mesmo?), preços super justos e é claro, a galera. Eu amo a galera que frequenta a TROOP!

Após a virada do ano: verão! Quais são os planos da TROOP para os primeiros meses de 2019? 

Então Alan, essa pergunta… [risos]. O projeto está buscando um alcance um pouco mais abrangente na questão dos showcases do crew. Além disso, vamos entrar em 2019 com uma programação especial de verão, assinando a curadoria sonora/visual em alguns lugares bem especiais da cidade.

2019 vai chegar fervendo e nós vamos vir pegando fogo. Teremos a primeira edição do nosso micro festival, bem como edições menores mas bem completas do projeto, apresentando toda a estrutura que podemos oferecer em relação a entretenimento. Além do Réveillon, dia 25 de janeiro vocês já vão sentir um pouquinho do que vem por aí.

 Como você sente o relacionamento da TROOP com os demais coletivos de Florianópolis? Há um diálogo em busca da evolução mútua? O que ainda pode ser feito para melhorar?

Eu sempre busquei reunir os coletivos para criarmos algo em conjunto. Vejo isso acontecendo aos poucos, de um em um, mas ainda existe uma certa relutância. Percebo que ficamos muito na zona de conforto, no fácil e certo, sendo que todos estão muito bem estruturados e com seus públicos fidelizados para sair um pouco da caixa. Sinto essa necessidade neste momento, mas feita de verdade, de coração e para o crescimento do cenário local, mas ainda existe muito chão por aqui…

Florianópolis está looooonge de uma cidade como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outro polo brasileiro. É uma cidade pequena, conservadora, com um pensamento bem provinciano por conta dos poderes e da grande maioria da população. O que fazemos aqui ainda é visto como um movimento rebelde, de jovens despreparados em busca de curtição ininterrupta. Mas não: somos e estamos criando um mercado que jamais existiu por aqui, movimentamos pessoas, mão de obra, dinheiro, contribuímos para os movimentos culturais, artísticos, para o setor turístico, empresarial, etc.

Eu ainda sinto que precisamos nos profissionalizar muito em infinitas questões do setor como entretenimento/cultura e pensar um pouco mais em prol do mercado local como um todo, repensando as nossas atitudes e como podemos realmente somar para este cenário tão promissor. Eu amo pensar que essa cidade poder vir a ser uma nova meca da música eletrônica no Brasil (se já não for, pensando na quantidade de shows e atrações gigantescas que aparecem por aqui) e eu farei tudo que estiver ao meu alcance e fora dele para tornar isso real.

A imagem pode conter: oceano, céu, nuvem, crepúsculo, atividades ao ar livre, natureza e água

O crescimento de uma festa ou núcleo, dentro do atual cenário político e econômico que o Brasil vive atualmente, deve ser pensado e refletido com calma. Como você tem pensado e projetado a expansão da TROOP nos próximos anos?

Olha, passamos por um ano muito louco aqui no Brasil ein. Dentro do nosso cenário econômico, vivo e sinto uma saturação do mercado que acaba afetando bastante o andar da carruagem. É muito evento cara! Quem tem dinheiro pra isso tudo? Andamos refletindo sobre a quantidade de festas que produzimos e frequentamos e é de se chegar na conclusão que temos que dar uma respirada. 2019 vai ser um divisor de águas em como o projeto realizará sua proposta. Menos festas, maiores proporções, com mais qualidade, mais inovação e bastante diferencial em como tudo é oferecido.

A TROOP é pensada e feita para as pessoas se divertirem, se conhecerem e trocarem figurinhas. Tem de tudo e todos na festa e cada vez mais percebemos em como as pessoas saem satisfeitas dali, é uma experiência. Então o foco é cada vez mais esse, oferecer o melhor que podemos dentro do cenário atual em que vivemos.

Sei que essa é difícil, mas vamos lá: qual foi o melhor set que você já escutou na TROOP? E a melhor edição já realizada? Obrigado pelo bate-papo!

Caraaaaa, foram tantos sets sensacionais esse ano, que nossa, gastamos a sola da bota por aqui. Mas eu vou escolher alguns:

– Em termos de som, estrutura, serviço, público, decoração, com certeza foi o aniversário de 5 anos com a Mayaan Nidam, 28room e um timão brasileiro no som: Kaka, Ale, Battu, Eduard… festa que me orgulhei muito no final de ter conseguido fechar a conta [risos].
– Fred P e XDB na beira da Praia Mole: o que esses caras fizeram em termos de técnica, repertório e feeling de pista, foi absurdo!
– Nomumbah na Vila dos Araçás: eu amo os três como artistas individualmente, então quando junta, meu senhor! Foi uma linda tarde/noite de fevereiro.

Queria também agradecer pelo espaço e convidar a turma que nos acompanha para fecharmos o ano com chave de ouro:
– 31/12 nosso Réveillon TROOP 2019 que vai o crème de la crème.

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