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A música conecta

Alataj entrevista WarinD

Se a vida tem passado num ritmo frenético, existe um artista com a trilha sonora perfeita para acompanhar tal velocidade: WarinD. Esta é a alcunha artística do jovem italiano Giuseppe De Chiara, um produtor de techno de apenas 23 anos que está em ascensão na cena underground apostando principalmente na combinação de batidas e percussões rápidas e enérgicas (mesmo!), com tracks ultrapassando os 140 BPMs.

A relação de WarinD com a música de forma profissional começou há pouco tempo, apenas em 2015, mas desde então Giuseppe já acumula um número de releases invejável para qualquer produtor, além de comandar sua própria gravadora homônima, a WarinD Records, selo que já recebeu outros artistas talentosos como Thomas P.Heckmann, D. Carbone, Codex Empire, Sarin, VSK, Max Durante e Trym.

Ele já tocou em diversos países do mundo, somando apresentações em clubs como Basis (Holanda), Tresor (Alemanha), Kompass Klub (Bélgica) e Electrowerkz (Inglaterra), mas nunca veio ao Brasil — o que irá mudar neste fim de semana graças ao coletivo Under Division, que está organizando seu maior evento neste sábado (23), no Teatro Mars. A festa, intitulada de Mannaz, baseia-se sua identidade visual na mitologia nórdica e traz no lineup além de WarinD, outros cinco artistas: o argentino Dist, Illegal System, Matheus Rocha, Nei Massariol e Clara Amaral.

Nessa entrevista, apostamos num formato diferente do tradicional, afinal, não estamos falando aqui de um artista tão comum. O bate-papo ficou um pouco mais longo do que de costume, mas garantimos que cada minuto de leitura valerá a pena, principalmente se você for fã de um techno intenso como o de WarinD. Confira:

Alataj: Olá Giuseppe! Como vai? Obrigado por concordar em bater esse papo com nós. Na sua bio, podemos encontrar que você “Expressa sua guerra interna através da música”, algo que consideramos muito profundo. Você teve que superar muitos desafios para chegar onde está? Onde e como começou a sua relação com a música eletrônica?

WarinD: Olá, pessoal! Obrigado por me escolherem para essa entrevista. ‘Expressar minha guerra interna através da música’ significa exatamente o que eu sofri no passado antes de criar o WarinD. Em uma cidade que não ajuda seus talentos a crescerem, nunca é fácil fazer com que o projeto saia e alcance novos lugares. Eu comecei com os vinis desde que tinha 13, com 12 eu já seguia a cena da música eletrônica tanto na minha cidade como na Itália. Depois de alguns anos, aos 15 anos, já comecei a produzir minha própria música.

Hoje, você considera o techno mais como um estilo de vida ou apenas como um trabalho? Quão importante é a música, tanto na sua evolução como pessoa como em sua evolução como profissional?

Hoje vejo como um trabalho, mas é minha paixão e é por isso que não vejo como um esforço e não sinto nenhum peso nisso, tanto no lado artístico quanto no lado da gravadora. A música me ensinou muito sobre minha rotina, em relação as pessoas, como reconhecer certas pessoas e como me comprometer 100% com meu trabalho. Música para mim é tudo, também porque em muitas vezes me ajudou a lutar contra depressão.

Vamos falar um pouco sobre o seu país de origem. Como a cena Italiana impactou positivamente o seu perfil artístico?

Eu acredito que hoje a cena Italiana perdeu muitas festas comparado com o passado. Mas no lado de produção, a cena é sempre capaz de prover grandes talentos, desde os anos 90 até hoje. Antigamente eu era influenciado pelos som de Lory D, Leo Anibaldi, Gaetano Parisio… mas até hoje em dia tem artistas que acompanho e admiro como D. Carbone, VSK, Raffaela Attanasio e Domenico Crisci.

Sobre a sua primeira gig fora do seu país, quando ela ocorreu? Como foi a experiência?

Minha primeira gig fora da Itália foi na França, no Glazart, em Paris, uma cidade que eu tocaria bastante a partir daquele dia. Eu sempre tive uma boa energia com a cena francesa, me apaixonei por eles desde a primeira gig até hoje, são verdadeiros ravers!

Ácido, energético e brutal. Sua identidade musical é bem forte. Que estilos, bandas e, outros projetos (tanto dentro da cena eletrônica quanto fora) ajudaram você a moldar essa identidade?

Eu sou um grande fã do Techno dos anos 90, os quais eram criados em um BPM consideravelmente alto e com um groove poderoso sempre presente, com muita  percussão. O amor pelo acid e as diferentes basslines sempre existiu, desde que eu comecei a produzir, é um estilo que sempre me representou porque ele permite me expressar o quanto eu quiser. Tem alguns artistas que me influenciaram e me influenciam, como: Thomas P. Heckmann (o qual eu tive o prazer de lançar no último release de minha label) AnD, Jeff Mills e o mestre do industrial, Perc.

Qual a sensação de, mesmo muito jovem, se destacar na cena como DJ, produtor e dono de label?

É uma sensação fantástica porque me faz perceber que meu trabalho duro está compensando de alguma forma. Mas as pessoas que me conhecem sabem que eu não sou uma pessoa satisfeita com o que tem, eu tento me aprimorar diariamente, não defino limites, quero alcançar máximo que eu puder em minha carreira. Com muito trabalho, sempre tentarei fazer algo, passo a passo.

Recentemente você lançou o primeiro release em vinil da WarinD Records, Overdreams, que conta com um lançamento de Thomas P. Heckmann, que você comentou acima. Como foi para você ter uma de suas maiores referências lançando uma track pela sua Label?

Thomas P. Heckmann é quem mais influencia minha música, ele sempre foi uma referência para mim e tê-lo em minha label é uma das minhas maiores satisfações na carreira, algo que me orgulho pessoalmente.

Nos estilos variados, também tenho que mencionar o Huren, que colaborou comigo em uma track com influências no Techno, Industrial e EBM. O mestre Codex Empire, grande artista do industrial e do EBM, além de D. Carbone, meu grande amigo mas, acima de tudo, um ótimo representante da cena italiana de techno com uma incrível referência na cena do acid. 

Aproveitando a oportunidade…. O que você espera encontrar nas demos que recebe de artistas espalhadas pelo redor do mundo?

A label não aceita demos, mas, sempre escuto todas as tracks que chegam até mim (ou quase todas), muitas vezes acho músicas interessantes, mas a label já tem uma programação que vai de hoje até 2021, então seria inútil aceitarmos demos que só sairiam daqui dois anos.

Como foi o processo de seleção de artistas para este último VA? Qual a sensação de deixar um vinil deste marcado na história?

É como o começo de uma era marcada por grandes artistas — que imediatamente concordaram em participar dele. A escolha foi simples, eu tinha em mente os três (Codex Empire, D. Carbone e Heckmann) após terminar a minha track com Huren. Eu estou honrado que eles nem hesitaram e aceitaram o convite logo de cara. Também tivemos um ótimo resultado graças ao nosso designer Antonio Lombardo, que cuida de toda a parte artística da gravadora, ele é um dos melhores na Itália!

Quais foram as dificuldades que você encontrou enquanto criando uma label independente em um mercado que é cada vez mais competitivo?

Eu tive a coragem de criar a gravadora do zero mesmo não tendo lançado em nenhuma antes como artista. Foi uma ótima jornada, porém, muito difícil. Acreditei desde o início em meus ideais e no que eu queria realiza, hoje estou muito satisfeito com a coragem que tive. Acredite em você, sempre.

Você pode nos contar um pouco sobre o seu processo de produção? Você passa horas diárias no estúdio ou só fica no estúdio após um insight ou inspiração?

Geralmente estou no estúdio todo dia, as vezes crio algo que considero positivo e então trabalho nisso constantemente; as vezes eu crio um novo projeto e no dia seguinte o deleto. Tem vezes que estou muito inspirado e tem vezes que não consigo produzir nada, isso também depende muito do meu humor e o que me cerca.

Eu trabalho mais no digital que no analógico, basicamente porque não venho de uma família que tem muito dinheiro que possa me dar o que peço. Por anos eu produzi em minha casa com um computador e duas caixas de som, faz dois anos que consegui criar o meu próprio estúdio com alguns instrumentos analógicos (Korg Volca Bass, TR-8, APC40 e outros instrumentos), espero que um dia eu possa produzir apenas com analógicos, seria fantástico.

Você é um artista que já passou por diversos clubes ao redor do mundo. Geralmente, o que você acha que é realmente necessário para uma festa ter uma boa atmosfera musical?

Um bom público, e não quero dizer em quantidade, mas sim no tanto de adrenalina que ele proporciona, então, é claro, tenho que mencionar um bom lugar é fundamental e, acima de tudo, um ótimo sistema de som!

É sua primeira vez no Brasil, correto? Como estão suas expectativas para essa gig? O que você já ouviu sobre as pistas brasileiras?

Sim, é minha primeira vez no Brasil. Eu estou muito animado porque não tenho dúvidas que será uma ótima festa, eu tenho muitos fãs na América do Sul. É o meu continente favorito pois está sempre fazendo calor e eu tenho certeza que os brasileiros sempre estão prontos para se divertir e fazer uma grande festa.

Um bate-bola rápido. Um artista?

AnD (ou Heckmann, como sempre)

Seu clube favorito?

Um é impossível, gosto muito do Kompass, do Basis e do Tresor.

Uma label?

Monnom Black e R-Label Group.

Seu setup favorito em uma gig?

Xone 96, 2 CDJ`s e 2 Technics SL 1210

Uma gig inesquecível?

Duel: Beat naples, minha estréia no clube, minha cidade. Também tenho que mencionar Tresor, Kompass, Club in Medellin, Basis, Order Parise, eles geralmente são inesquecíveis

Seu b2b dos sonhos seria com?

AnD e 6 technics.

Uma música que você está sempre ouvindo?

Jeff Mills – Step to enchantment

Sua track favorita para encerrar sets?

Aphex Twin – Polynomial C

E para abrir os sets?

Eu sempre troco minha música de abertura, então não sei dizer [risos] 

Para finalizar, uma pergunta pessoal. Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. Na sua opinião, qual o grande significado dela em nossas vidas?

Eu sempre digo que no mundo há sempre uma ‘guerra’ para tudo, mas nunca para música, isso sugere que música é realmente a única coisa que conecta as pessoas. No meu lado pessoal, de uns anos para cá, sempre que escuto música, de qualquer gênero, tento entender como ela é estruturada. Música nos salva diariamente. Obrigado pessoal, nos vemos no Brasil!

A música conecta.

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