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A música conecta

Claudia Assef e Monique Dardenne são as criadoras do WME, uma plataforma voltada para as mulheres na música

Por Alan Medeiros em Entrevistas 26.01.2017

O cenário político-artístico-social é predominantemente dominado por homens e na música eletrônica infelizmente não é diferente. As mulheres sempre estiveram na cena e como se não bastasse todas as barreiras diárias que precisam enfrentar, elas ainda necessitam correr dobrado (muitas vezes) para alcançar o mesmo patamar de um artista masculino.

Não tem segredo, pegue o line up dos principais clubs e festivais do mundo e a diferença será gritante. O mesmo se aplica nos cargos de principal importância dentro das mais representativas marcas da dance music, cenário preocupante. Entretanto, nem tudo está perdido: uma movimentação global tem feito mudanças acontecerem pouco a pouco.

Nos últimos anos, mulheres talentosíssimas alcançaram posição de destaque na cena nacional e internacional. Nina Kraviz e Nastia são exemplos top of minds de uma nova geração, que também é fortemente representada por mulheres de fibra como as americanas The Black Madonna, Honey Dijon e Volvox, e as brasileiras ANNA, Erica Alves, Roberta Pate (Spotify Brasil), Monique Dardenne e Claudia Assef.

As duas últimas citadas, lançaram no ano passado o WME ou Women’s Music Event. Uma plataforma de música, negócios e tecnologia vista por uma perspectiva feminina. O trabalho, que está sendo desenvolvido inteiramente por mulheres, conta com um portal (já em funcionamento), uma série de vídeo chamada WME Sessions, banco de talentos femininos e uma agenda de eventos físicos que se acontecerão a partir de março desse ano – entre eles uma conferência.

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No começo desse ano, conversamos com Monique e Claudia, que gentilmente nos atenderam e falaram sobre detalhes do projeto. Confira o bate-papo abaixo:

1 – Olá, meninas! Tudo bem? Obrigado por nos atender. Vocês são grandes representantes da mulher brasileira no mercado da música eletrônica. Quando vocês começaram, sentiram muita falta de uma iniciativa como o WME? Quem foram as pessoas que abriram as portas pra vocês?

Quando começamos a atuar no mercado, eu no final dos anos 90, e a Monique um pouco depois (eu tenho 42, ela tem 32), nem havia essa percepção na verdade, de que as mulheres precisavam de ajuda, porque tinha bem poucas mulheres tentando a sorte nessa indústria, especialmente nos trabalhos de bastidores. Claro, sempre teve cantoras e produtoras executivas, mas nas outras dezenas de profissões que o mercado musical compreende havia bem poucas. Então não se pensava muito em criar um movimento, essa abordagem de feminismo proativo dos últimos anos veio com toda a força agora. Quem abriu portas pra gente fomos nós mesmas! Tanto eu quanto a Monique somos fazedoras, não gostamos de esperar acontecer, se não tem espaço, vamos lá e criamos. Se não tem o job, vamos atrás de nos movimentar pra criar uma oportunidade. Muitas vezes erramos no caminho, mas é importante essa energia de fazer, de produzir, de criar.

2 – Uma amiga comentou sobre o grupo que vocês têm no facebook e que foi a base para a criação da plataforma (certo?) e nós achamos a iniciativa muito bacana e útil para o mercado. Falem um pouco dos talentos que vocês encontraram lá e que fazem/farão parte do WME?

Nossa, tem muitas meninas legais nesse grupo, que hoje com mais de 600 mulheres do Brasil todo. Um festival recente, o Sela, foi criado a partir de discussões e amizades que começaram nesse grupo, que tem entre as participantes, por exemplo, a Tássia Reis, que foi a artista que estreou nosso websérie WME Sessions. Sobre os nomes que irão participar, estamos fechando line-ups tanto da conferência e workshops quanto das festas. Mas podemos adiantar que teremos duas noites, uma de música eletrônica e uma focada em pop, hip hop, MPB e afins.

3 – O WME é uma plataforma focada na dance music? Qual será o foco da curadoria artística para a criação de conteúdo dentro da plataforma?

O WME não foca na dance music. Foca na música como um todo. Tem espaço para todos os gêneros da música, claro que todo o conteúdo vai passar por uma curadoria a princípio minha e da Monique (queremos no futuro abrir para a possível criação de um comitê curador), e além das artistas abriremos espaço para outras profissionais da indústria, de empresárias, managers, bookers e até engenheiras de áudio, iluminadoras, roadies, produtoras… a lista é imensa e muito plural.

4 – Essa questão é importante, apesar de delicada, pois divide opiniões até mesmo entre as mulheres. Alguns dos principais nomes femininos da música eletrônica no Brasil, também são conhecidas no mercado por conta da beleza. Na opinião de vocês, isso ainda é um fator determinante para o booking? Quais as melhores alternativas para escapar de uma super exposição nesses casos?

Se você for pensar, quantas divas do pop você lembra de terem feito sucesso usando camiseta e calça jeans? A objetificação na música é um reflexo da nossa sociedade, é o que se espera da mulher, mas, espera um minuto, estamos em 2017 e cada um deveria ser apreciado pelo seu trabalho e não pela roupa que está usando, certo? Errado. Infelizmente há um enorme trabalho de valorização das artistas mulheres a ser feito.

No geral se espera que a mulher seja bonita, cante bem, seja magra e não muito espertinha! O melhor exemplo que temos dado por uma das maiores artistas do universo da música está neste depoimento maravilhoso que a Madonna deu na premiação da Billboard. Se a Madonna se sentiu humilhada e subjugada diversas vezes ao longo de 37 anos de carreira, quem somos nós pra dizer algo mais?

No caso das DJs especificamente, acho que elas acabam entrando num esquema da indústria e muitas acabam saindo em fotos que exploram seus corpos etc. Acho que se for super natural pra ela, se for uma artista fundamentalmente sensual, ok, que use a seu favor. Mas pensa bem, quantas vezes você viu o DJ Marky, por exemplo, posando pra uma press picture usando sunga? Será que precisa apelar pras roupas curtinhas pra descolar mais bookings? Tenho minhas dúvidas. Porém, o mercado como é hoje, ainda está sim acostumado a bookar uma “DJ GATA” e isso é o fim da picada.

https://www.youtube.com/watch?v=67j0r-3EYlE

5 – Em 2016 a The Black Madonna ganhou inúmeros prêmios e foi muito lembrada por conta de seu incrível trabalho. Ela, além de uma excelente artista, também é uma profissional muito engajada com a causa feminista. No Brasil, já temos uma artista na dance music que explora de forma tão intensa causas sociais como essa? Qual a importância de se ter uma “porta voz” em casos como esse?

Sinceramente não acho que seja necessário termos UMA porta-voz, mas várias. Tem muitas meninas fazendo trabalhos incríveis em suas áreas, na música eletrônica mesmo temos mulheres fantásticas fazendo suas próprias festas, tocando, produzindo, tudo ao mesmo tempo. Exemplos: Cashu (Mamba), Amanda Mussi (Dusk), Erica Alves (com suas diversas festas e workshops para mulheres), a pioneira Andrea Gram, a Suzana da Vampire Haus… Em BH tem a Belisa e Carol Mattos, só pra citar algumas de fora de SP que também estão fazendo seus próprios caminhos e não esperando pra tocar na festa dos outros.

6 – Um dos projetos do WME é a realização de uma conferência em SP. Como ela vai funcionar?

A parte de conferências do WME será realizada num dos edifícios públicos mais bonitos da cidade, a Biblioteca Mário de Andrade, e irá abranger painéis sobre os mais diversos assuntos ligados ao universo musical, de negócios a tecnologia, além de workshops técnicos e showcases. No total, cerca de 50 mulheres, entre artistas, executivas, jornalistas, técnicas, engenheiras e produtoras irão palestrar nos 12 painéis e 6 workshops da programação.

7 – Ha também um banco de talentos. Como esses nomes podem ser encontrados por lá? Como funciona o cadastramento?

Esta é uma ferramenta importantíssima para reunir dados de profissionais da música do Brasil, que podem se cadastrar diretamente pelo site. Trata-se de um banco de dados inédito, criado para alimentar a indústria da música com profissionais gabaritadas distantes a apenas alguns cliques de empresas interessadas em equilibrar a participação entre gêneros em seus quadros de funcionários. Para se cadastrar basta preencher este formulário e aguardar a confirmação. Clique na imagem abaixo para preencher o formulário:

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8 – Sei que é uma tarefa difícil, mas se vocês pudessem indicar 5 nomes para ficar de olho em 2017, quem seriam as apontadas? Obrigado por nos atender!

Carol Mattos – BH
Luísa Puterman – SP
Tati Pimont – SP
Ananda Nobre – RJ
Belisa

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