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A música conecta

A dance music precisa ser diferente

Por Alan Medeiros em Reviews 02.11.2015

Confesso que há muito tempo eu não criava tanta expectativa em cima de uma noite no Warung. O calendário de 2015 apresentou grandes estreias, nomes que eu desejava muito ver ao vivo como Mind Against e Marco Resmann, mas a noite do último sábado tinha algo especial. Tenho uma admiração especial por Tobias e Simon, eles vão na contra-mão do esteriótipo sério e fechado de alguns artistas da dance music. Já Guy Gerber, era uma das figurinhas que faltavam no meu álbum de “lendas” da música eletrônica. Tentei não ficar ansioso, mas foi impossível.

O club preparou um line up com 6 artistas, que se transformaram em 5 com o cancelamento de Bill Patrick, que não veio ao Brasil por motivos pessoais. Apesar de admirar o trabalho do americano, acredito que o cancelamento acabou contribuindo para uma noite com mais “cara de Warung” no Inside, noite essa que começou com o warm up de Leo Janeiro. Já a algum tempo não acompanhávamos um set do carioca no Inside, suas últimas apresentações haviam sido bastante proveitosas, mas no stage do Garden. Conhecido por uma identidade bem ligada a house music, Leo não alterou muito a linha de som que a caracteriza. Durante seu warm up, fez valer de uma seleção musical bem interessante. Como não acompanhei seu set desde o começo, não posso falar de uma progressão, mas a parte que vi me agradou, principalmente pela energia em que o Inside já se encontrava e pelo bom repertório – o set será disponibilizado em breve no Warung Waves.

Próximo as 2 da manhã, Guy Gerber deu o start em seu set fazendo valer da intensidade do Techno. Durante a meia hora inicial de sua apresentação que pude presenciar, observei uma pista que já se encontrava em sintonia com o artista. Foi esse sentimento que prevaleceu all night long – fiquei a maior parte do tempo no Garden, mas meus amigos me relataram com entusiasmo momentos de pico do set. Ao amanhecer, estive nos momentos finais do Inside, onde Guy deu show adotando uma linha mais calma e melódica, usando com sabedoria o grande clássico “Timing”, a faixa “The Giver” de Duke Dumont (surpreendendo muita gente) e a belíssima “Thirteen Thirtyfive” remix de Deniz Kurtel. Guy Gerber é um verdadeiro gênio da música eletrônica, um artista a frente de seu tempo e com sabedoria para usar diversas influências – inclusive do passado -, por isso, conduziu mais uma vez com maestria sua passagem pelo pistão do Warung, no que foi para muita gente um dos melhores sets do ano.

No Garden, quem iniciou os trabalhos foi o duo Bruce Leroys, que retornou ao club depois de uma elogiada apresentação no dia 16 de Janeiro. Dessa vez, pouco pude acompanhar do set da dupla, mas quando cheguei, já ao final da apresentação, notei uma linha de som bem parecida com a que Stuart King apresentou. O DJ e produtor britânico cumpriu bem o papel de preparar a pista para Tobias e Simon, que pegaram uma atmosfera “no ponto” para o que foi a segunda passagem do duo pelo Brasil. A dupla andhim, justificou o espaço que vem conquistando na dance music mundial com um set muito bem construído. Transitando com extrema facilidade entre o house e o tech house, eles apresentaram uma progressão interessante, que iniciou com bpm’s mais baixos até culminar em momentos bem enérgicos, entre as 5 e as 6 da manhã. Vale destacar a inteligência dos alemães para usar as suas principais faixas: “Boy boy boy”, “How Many Times” (andhim remix para Elderbook) e “Paris” (andhim remix para Groove Armada). Adorei também o final ousado de Tobias e Simon, que usaram sem medo algumas faixas bastante inesperadas para o momento, entre elas um remix (desconhecido por mim) de “Here comes the sun” dos Beatles.

O que tirei de melhor dessa noite foi a certeza de como vale a pena ser diferente, pensar diferente e optar por caminhos mais difíceis dentro da universo da música eletrônica. Tanto Guy, quanto Tobias e Simon são artistas singulares, com identidade própria e que não se limitam a exercer a profissão de DJ como meros coadjuvantes em uma festa. São músicos, são artistas que protagonizaram mais uma grande noite no Warung. Talvez a melhor do ano até aqui.

Agora, as atenções se voltam para o aniversário de 13 anos do club. Em duas noites nomes como Maceo Plex, Seth Troxler, Art Department e Mano Le Tough passaram pelas duas pistas do Warung. Resta saber quem serão os destaques, já que a expectativa criada para os eventos são grandes. Nos encontramos mais uma vez, na pista.

A música conecta as pessoas!

Fotos por Gustavo Remor
Agradecimentos à Image Care

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