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A música conecta

Review | Dekmantel Amsterdam 2018

Por Redação Alataj em Reviews 13.08.2018

Por Inacio Martinelli

Qual a fórmula perfeita para um festival de música? Hoje em dia, a oferta é imensa e produtores quebram a cabeça para inventar novas formas de atrair a atenção do público. Parques de diversões, instalações de arte, palcos ultra modernos e experiências imersivas são apenas alguns dos elementos que podem ser facilmente encontrados em eventos mundo afora.

Porém, apesar de vários festivais conseguirem encontrar novas maneiras de surpreender a audiência, muitas vezes quesitos básicos como organização, estrutura e serviços em geral deixam a desejar. E é exatamente nisso que o Dekmantel se destaca da concorrência. Realizado no último fim de semana, nos arredores de Amsterdam, a sexta edição do festival holandês foi impecável.

Local e Organização |Em entrevista aqui no Alataj, os organizadores do Dekmantel explicaram que, apesar da procura por ingressos, não aumentam o tamanho do festival porque se preocupam em manter um clima intimista para o público. Isso é facilmente perceptível a todo momento. Bares e banheiros apresentavam filas pequenas. Não lembro de ter esperado mais de cinco minutos por uma cerveja. Salvo em raras exceções, todas as pistas possuíam espaço suficiente para dançar sem aperto seja em frente ao DJ ou no meio da galera. Além disso, a área do evento é relativamente pequena, então a locomoção entre um palco e outro é rápida.

Como todo festival holandês, há um imenso estacionamento para bicicletas disponível. Para os que não são fãs das duas rodas, é possível acessar o parque através de trem + ônibus convencional ou então utilizar o shuttle que parte de alguns lugares da cidade. O Amsterdamse Bos, parque onde o festival é realizado, fica longe do centro de Amsterdam e a viagem dura cerca de uma hora. Porém, a beleza do local justifica o tempo de espera.

Destaques da Programação | O fator que mais chama atenção no Dekmantel é a curadoria do evento, tanto que a marca já virou sinônimo de música de qualidade. Durante três dias, mais de cem artistas ofereceram um panorama atual e diverso da música eletrônica. Pela primeira vez, o evento contou com seis palcos. O famoso UFO, que foca em techno e suas vertentes mais pesadas, ganhou um irmão mais novo: UFO II. Uma versão menor, que apresenta nomes mais experimentais e reuniu um bom público durante o fim de semana.   

Logo no primeiro dia, aconteceu um dos momentos mais marcantes do festival. Em sua estreia no Dekmantel Amsterdam, a brasileira Carol Shutzer aka Cashu iniciou o seu set com um sample de um famoso discurso feito pela atriz Ashley Judd durante as marchas feministas que tomaram Washington em janeiro do ano passado. Alinhada com o histórico da jovem artista, conhecida por lutar por uma cena mais plural e inclusiva em São Paulo, a apresentação foi transmitido ao vivo pelo Boiler Room.

Outro nome marcante da sexta-feira foi Ricardo Villalobos, que fez um set animado, com sons mais fáceis de assimilar do que o habitual para o chileno. Debaixo de um sol escaldante, o sucesso Dystopia, do alemão Introversion, colocou todo mundo pra dançar no Main Stage. Já no Selectors, palco que reúne artistas conhecidos por sua pesquisa musical abrangente, os destaques ficaram por conta da dupla turca Ece Özel & Zozo, agradável surpresa mais voltada para o minimal, além da digger alemã Lena Willikens, que mais uma vez mixou de forma magistral uma série de sons excêntricos, com batidas quebradas e um ritmo mais low, perfeito para o começo da noite. Já na Greenhouse, pista repleta de árvores no background, Palms Trax comandou um baile com muito house e disco.

No segundo dia, o Dekmantel Soundsystem mostrou que sabe jogar em casa como ninguém, com um set vibrante na Greenhouse. Mariel Ito, projeto de Maceo Plex, reuniu um grande público no UFO II e ficou difícil entrar na tenda. Talvez fosse melhor colocá-lo em um espaço maior. Já no Selectors, Mr. Scruff colocou em prática suas décadas de pista, com muita influência da black music. Além disso, Mount Kimbie levou o seu show completo com banda para o palco principal. Porém, o som não ajudou a apresentação da dupla, sendo um dos únicos momentos em que o soundsystem deixou a desejar.

O grande nome do sábado foi Kieran Hebden aka Four Tet, um dos artistas mais elogiados da atualidade. O inglês fechou o Main Stage mostrando toda a sua versatilidade, reunindo sucessos autorais, remixes para artistas como Nelly Furtado e Bicep, além de mixar diferentes vertentes de forma fluida. Destaque para a sequência de drum & bass na parte final da apresentação.

No último dia, Jamie xx provou porque é um dos nomes mais criativos da nova geração, com um long set que demonstrou sua rica trajetória musical no palco Selectors. No repertório, clássicos da house e disco music, intervenções de techno em momentos certeiros e novos edits de sucessos do The xx. Em seguida, Daphni assumiu as carrapetas e manteve o clima animado e cheio de groove com músicas como Chelsea Rodgers do Prince. Apesar de soarem parecidos em alguns momentos, a sequência de Jamie e Daphnie manteve o público entretido por sete horas.

No Main Stage, Carl Craig e a sua Synthesizer Ensemble emocionaram com a mistura de música clássica e os sons de Detroit. Já Young Marco, parecia nervoso por apresentar seu live set pela primeira vez. Extremamente repetitiva, a apresentação do holandês não empolgou. No UFO, a sequência de DVS1 e Oscar Mulero explorou os cantos mais obscuros da música eletrônica e fez todo mundo soar. Para encerrar, Helena Hauff apresentou a sua abordagem do techno para um Main Stage lotado. Com forte influência de electro e uma vibe meio punk, a alemã provou que mereceu o posto de primeira mulher a encerrar a programação do palco principal do Dekmantel.

Em setembro, a Gop Tun traz Hauff para edições especiais em São Paulo e Belo Horizonte – em parceria com a 1010. Ingressos já estão à venda. Corre!

A chave do sucesso do Dekmantel está no fato do evento ser feito por/para quem ama festivais. Os produtores Thomas Martojo, Casper Tielrooij e Matthijs Terville conseguiram reproduzir, de forma impecável, toda a sua paixão pela música eletrônica e a experiência que acumularam em anos de festas na Holanda. O foco no bem-estar do público e na curadoria que foge do óbvio faz toda a diferença e isso se reflete no sucesso meteórico do festival. Nos resta torcer para que o Dekmantel mantenha o seu ethos pelos próximos anos. Ao que tudo indica, não temos razão para nos preocupar.

A MÚSICA CONECTA. 

Fotos por: Niels Cornelis Meijer (5 e 7), Bart Heemskerk (1, 3, 4 e 6) e Kasia Zacharko (2)

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