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A música conecta

Review | Dekmantel Festival São Paulo 2017

Por Alan Medeiros em Reviews 08.02.2017

O público brasileiro se acostumou a encarar perrengues em festival de maior parte nos últimos anos. Falta de estrutura, baixo número de profissionais trabalhando na produção do evento e problemas com o line up divulgado, são apenas algum dos pontos que andavam prejudicando e muito a experiência festival em alguns dos principais eventos do segmento no país.

++ Escrevemos aqui sobre a banalização do termo festival em eventos brasileiros

Na contra-mão desse rolê, o Dekmantel São Paulo deu indícios que a história seria diferente desde o anúncio oficial de seu line up e no último fim de semana comprovou que veio para ficar ao proporcionar um dos eventos mais importantes e bem organizados da dance music brasileira. Tudo absolutamente funcionou: o cordão de isolamento da região do Jockey, o sistema de bar, a loja de merchandising, a record shop… tudo. Nem mesmo a chuva torrencial que atingiu o festival na tarde de sábado conseguiu comprometer a experiência dos participantes.

Artisticamente a festa foi um show a parte. Não conseguimos acompanhar todos os sets (obviamente) mas somando o que presenciamos ao vivo e as figurinhas trocadas ao longo do fim de semana em São Paulo, fica fácil cravar que a expectativa alta depositada em cima dos nomes presentes no line foi muito bem saciada durante os dois dias e duas noites de evento. Preparamos um breve review sobre cada um dos stages, pontos importantes do festival e sets que acompanhamos. Confira abaixo:

Red Light Radio x Na Manteiga | A parceria entre as rádios funcionou muito bem ao longo do festival. O espaço era uma boa opção para um momento mais chill out, mas ainda assim teve seus momentos de glória, com pista lotada e sets surpreendentes. Todo material está gravado e deverá ser disponibilizado em breve.

UFO | Sem dúvida o mais intimista e underground de todo festival. Construído entre duas estruturas baixas do Jockey, ele abrigou apresentações memoráveis como as de Helena Hauff, Anthony Parasole e Makam. Havia um sistema de bar que funcionou muito bem e ainda merece destaque por conta de uma atmosfera que só poderia ser encontrada por lá

Selectors | Localizado em uma das melhores áreas de todo o Jockey, o famoso stage Selectors foi a casa de Hunee, Young Marco, Dekmantel Soundsystem e Ben UFO b2b Joy Orbison. Sentimos que faltou alguma iluminação na cobertura do palco, mas nada que chegasse perto de atrapalhar a experiência por lá.

Gop Tun x Boiler Room | Todos os sets executados no espaço foram transmitidos ao vivo pelo famoso canal de Londres. Na nossa visão, esse foi o stage que recebeu a melhor ambientação em relação a estrutura já original do Jockey. O palco ficou muito bem inserido em um prédio do espaço e a vibe presente por lá era incrível. Passaram pela transmissão os projetos brasileiros Azymuth, Bixiga 70 e o multi instrumentista Hermeto Pascoal, além dos gringos Tom Trago, Palms Trax e Sassy J

Main Stage | Montado próximo a arquibancada do Jockey, esse era o stage capaz de receber o maior número de pessoas e assim foi durante os dois dias de programação diurna. A lama atrapalhou um pouco, mas também não chegou a comprometer a experiência. O espaço dedicado ao DJ poderia ser um pouco mais alto, em alguns momentos ficou difícil visualizar o artista. Destaque para o excelente sistema de iluminação que criou uma atmosfera memorável no período da noite

Anthony Parasole | Incorporou bem a atmosfera intimista do UFO stage e entregou um set consistente e intenso. Conseguiu manter bom público no local mesmo com momentos de forte chuva e sol escaldante

Young Marco | Sua forma criativa de encarar a dance music sempre resulta em boas apresentações. No Dekmantel São Paulo não foi diferente. Marco conseguiu mostrar algumas de suas referências que abrangem elementos tribais e sons de diversas partes do mundo. Assim como no caso de Parasole, saiu vencedor dos imprevistos causados pelo clima traiçoeiro de São Paulo.

Dekmantel Soundystem | Não assistimos uma parte muito significativa da apresentação do duo, mas o que vimos agradou bastante. Além disso, alguns amigos relataram que a construção foi impecável e na medida certa para Hunee fazer o que precisava ser feito.

Hunee | A mistura quente e classuda de house music proporcionada por Hunee invadiu o Selectors stage e deu o tom de uma das melhores apresentações do sábado. O alemão é um excelente produtor, mas de forma alguma deixou de lado seu incrível trabalho como DJ. Que set, meus amigos!

Nina Kraviz | Resolvemos acompanhar parte do set de Nina sem muita expectativa, enquanto vivíamos um momento chill out na arquibancada do Main Stage. Conseguimos? Não! A musa russa estava em um dia inspirado e comandou o palco principal do festival com um set de abordagem intensa, acid e com momentos de trance – semelhante ao que ela já vem fazendo em outros big eventos ao redor do mundo. Set coerente com o que viria a seguir.

Tom Trago | O DJ e produtor holandês (entrevistamos ele por aqui já) fez o melhor set do sábado – pelo menos na nossa opinião. Uma mistura cheia de elementos ricos que foi do house ao disco com extrema facilidade. Destaque também para sua presença de palco e simpatia. A sensação que se tinha era de que todos os presentes ali estavam curtindo a festa na mesma sintonia. Que set, Tom!

Shanti Celeste | No domingo ficamos praticamente o dia todo no Main Stage. Ao chegarmos, percebemos que seria um dia mais quente e intenso que o anterior. A chilena Shanti Celeste desempenhava um bom warm up para a lenda de Detroit Moodymann, sem se deixar abalar pela pista vazia, que só encheria com a entrada do americano no palco

Moodymann | Em termos de escolhas de line up, colocar Moodymann no palco principal talvez tenha sido o único “erro” da organização. A personalidade forte de Moodymann alinhada a sua presença de palco marcante teriam funcionado muito melhor em stages como Selector ou Gop Tun. Ainda assim, valeu demais ver uma lenda viva dessas em ação. Moody tocou boogie, house, techno e até mesmo brasilidades. Ele também interagiu bastante com a pista no microfone e convidou Fatima Yamaha para uma participação nos instantes finais de seu set

Fatima Yamaha | Um dos nomes mais conhecidos da crew holandesa no Brasil, Fatima Yamaha chamou a atenção pela forte identidade de seus timbres durante uma hora de um live bem montado. Suas faixas são reconhecíveis a distância e o ponto alto de seu set foi o encerramento, quando “Whats a girl to do” e “Araya” ganharam a pista principal do festival.

Ben UFO b2b Joy Orbison | Semelhante ao que aconteceu com o Dekmantel Soundsystem, também não acompanhamos uma parte muito significativa do golden duo – como assim foi chamado pela comunicação do evento. Mas, com o que vimos já foi possível afirmar que a forma como os dois tocam juntos é bastante peculiar e funciona demais. O repertório magnifico e a boa presença de palco dos artistas também merecem destaque.

John Talabot | Talabot fez o que foi o último DJ set do palco principal e o ponto alto de sua apresentação foi a construção. John iniciou em uma linha mais amena que combinou bem com o fim de tarde de São Paulo. Com o apagar das luzes, assumiu uma postura hipnótica que foi arrebatadora. No fim, pista na mão com um dos melhores DJ sets de todo o evento.

Nicolas Jaar | O chileno ganhou a honrosa missão de fechar o festival. Seu live teve alguns minutinhos de silêncio antes do começo, mas a espera valeu apena. Quando Jaar entrou, o que podemos acompanhar foi um show multi instrumental de uma banda composta por um homem só. Que live! Mesclando faixas antigas com live edits de seu novo álbum, Nico conseguiu surpreender até mesmo aqueles que conhecem muito bem o seu trabalho. Apresentação histórica para todos aqueles que são apaixonados por uma dance music que foge do óbvio.

Fabriketa | Conhecemos a Fabriketa no domingo a noite e (ainda bem que fomos) foi possível observar o por que da escolha do local para a programação noturna do festival. O centro de eventos localizado no Brás possui uma áurea que combina perfeitamente com o espírito Dekmantel. Vakula e Ben Klock (infelizmente não assistimos) provavelmente entregaram sets maravilhosos na noite de sábado.

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Um dos pontos mais bacanas do pós festival é compreender que um evento tão grande e bem organizado não foi idealizado por um mega empresário brasileiro ou por alguma das nossas principais empresas do segmento. Os meninos da Gop Tun são sonhadores, que compraram a ideia de trazer o festival pra cá com muita ousadia e coragem. O resultado de algo tão genuíno não poderia ser outro: strike!

Ao acompanharmos um pouco a repercussão do festival nas redes sociais durante o começo dessa semana, ficou muito nítido que a experiência Dekmantel foi algo bastante proveitoso para a absoluta maioria dos presentes. Mesmo às vésperas da edição holandesa, a organização do evento já confirmou o retorno do Dekmantel à São Paulo em 2018. Ao que tudo indica, o Brasil ganhou um festival para guardar no coração.

A música conecta as pessoas!

Fotos por: Ariel Martini, Gabriel Q.

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