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A música conecta

Review | Depeche Mode em São Paulo 27.03.18

Por Redação Alataj em Reviews 28.03.2018

Por Fabio Spavieri

AGAIN!

Após 24 anos, lá estava novamente em um show do Depeche Mode no Brasil. O local – Allianz Arena, é totalmente adequado e preparado para receber shows de grande porte, oferecendo lanchonetes, banheiros e piso 100% estável.

A última e única vez no país fora nos dias 04 e 05 de abril de 1994, no antigo Olympia em São Paulo, pela Exotic Tour. Turnê baseada no álbum Songs of Faith & Devotion de 1993, onde finalmente os DMs adotaram as guitarras e bateria acústica nas composições e ao vivo (já eram utilizadas discretamente em estúdio desde o álbum Black Celebration de 1986), já que o vocalista Dave Gahan mostrava um visual e comportamento ‘grunge’. Mas a base da banda sempre foi e serão os sintetizadores, desde quando Vince Clark (Erasure) – responsável por hits como Just Can’t Get Enough, era o letrista e chefe da banda.

Na época – 1994, começava a me aventurar como produtor de festas e para a minha alegria (e de alguns amigos), decidi inventar uma festa para a banda na casa noturna Columbia do Angêlo Leuzzi em São Paulo. Montamos uma festa para o sábado – 02/04, ligamos na produtora (Mercury), fizemos o convite, colocamos o DJ Magal como atração e ficamos na espera. Por volta de 2h da manhã, o então gerente Zé Maria sobe as escadas e anuncia: “Fabio, a banda chegou”. Tremi!

Bem, o resto são flashes na memória, nenhuma foto (era proibido clicar) e alguns flyers e vinis autografados. Imagina se na época houvesse Facebook, Instagram e o Live? Os shows no Olympia foram excelentes – assinados pelo fotógrafo e diretor de cinema Anton Corbijn (vide Control – o filme sobre o Joy Division), num clima soturno próprio do álbum de trabalho. Anton é ainda o responsável pelo ID, as capas, clips e tudo que cerca a imagem da banda. Nessa nova turnê – Spirit, meu amigo Gonçalo Vinha, bem que tentou armar uma festinha, mas a banda viajava para Los Angeles as 5h40. Bem, vamos falar de ontem?

SPIRIT

Gui Boratto entrou pontualmente as 20h45 para sua apresentação. Escolhido pelo próprio Martin Gore para abrir o show aqui, é sem dúvida merecedor por competência e por ser fã confesso da banda. É o brasileiro de maior destaque no universo da música eletrônica, trazendo consigo uma vasta experiência musical, 4 álbuns e remixes para Goldfrapp, Massive Attack, Pet Shop Boys, Moby, Bomb The Bass e outros.

Pontualmente as 21h45  – como britânicos que são, o Depeche Mode deu início ao show da turnê Spirit, e também 14º álbum do trio (que foi quarteto até 1994). O público esperava um show de hits, já que desde o álbum Exciter, a criatividade e produção musical – que fora o grande diferencial da banda nas mãos do ex-membro Alan Wilder e do produtor Flood (responsável por Music for the Masses, Violator e SOFD), fica a desejar. Não tem o mesmo tratamento de outrora, mas na minha opinião continua sendo agradável e mantém a essência que a banda propagou – mix de sintetizadores, instrumentos acústicos, melodias contagiantes, letras que abordam o sexo, relacionamentos, amor, fetiches e por que não, a política.

Vale ressaltar que o trio sempre convidou produtores competentes, como Tim Simenon (Bomb The Bass), Mark Bell (LFO), Ben Hillier e agora John Ford do Simian Mobile Disco. Mas para quem esperou 24 anos para revê-los e para quem nunca os vira ao vivo no país, não houve decepção, pois dentre as 20 composições do ‘espetáculo’, apenas 3 eram do Spirit e portanto menos conhecidas.

Abriram-se os canais de som com Revolution dos Beatles e em seguida, já com a banda postada em palco, soltaram Going Backwards. Dave Gahan entrou como um foguete, elétrico e já mostrou porque é um dos maiores vocalistas da atualidade. Seu timbre vocal barítono, invade todos os cantos do show. Sua presença de palco é um grande diferencial. It’s No Good e sua linha de baixo majestosa, vem logo em seguida com o refrão grudento e debochado.

Barrel of a Gun – praticamente a música tema da tragédia e ressurreição de Dave Gahan – que em 1996 sofreu uma overdose e ficou 2 minutos sem batimentos, sendo ressuscitado por paramédicos, traz uma bateria marcada, camadas tortuosas de sintetizadores e riffs desconexos de guitarra. Fico imaginando a felicidade do produtor Stuart Price (que também assina como Jaques Lu Cont, Les Rythmes Digitales, Paper Faces, Man With Guitar, Thin White Duke…) ao ouvir seu remix para A Pain That I’m Used To como a oficial da turnê – realmente o remix é muito superior a instrumentação original.

O show segue debaixo de chuva constante e fina, com Dave dançando e evocando a platéia, fazendo todo mundo cantar, bater palmas e balançar os braços. É uma comunhão musical, calcada pelo baterista Christian Eigner e o multifuncional Peter Gordeno – teclado, baixo e backing vocal. Andy Fletcher parece não fazer nada (eterno ‘clap your hands’) e até hoje ninguém entende a sua função no grupo. Dizem que é financeira, é amigo do Martin Gore desde o colégio e o homem do business. Enfim.
Martin Gore é um caso a parte, pois além de ser a alma e o cérebro do Depeche (Dave é o coração), é o compositor e letrista (hoje divide tal função com Dave Gahan, como “Cover Me”). Ele passa o show praticamente desapercebido até que entram seus riffs, backings e melodias, hoje mundialmente conhecidos, como Enjoy the Silence e Personal Jesus. Usa uma guitarra para cada canção, cada uma com sua devida afinação.

https://www.facebook.com/AllianzParque/videos/1794120043984876/

Quando é a sua vez de tomar a frente nos vocais, preenche o palco educamente e com certa timidez, mas quando solta a voz encanta todos os presentes, principalmente quando acompanhado do piano, como foi em Insight e a clássica Strange Love. Apenas em Home as bases originais voltam à tona.

Como era de se esperar, as que levantaram os quase 30 mil presentes na sua totalidade, foram as clássicas Never Let me Down Again (Music For The Masses – 1987), Personal Jesus (Violator – 1990), Everything Counts (Construction Time Again – 1983) e a mágica Enjoy the Silence (Violator – 1990), sem dúvida a canção mais conhecida do Depeche Mode. Espero que a cada 5 anos, o grupo solte um novo álbum, faça suas turnês e continue emanando boa música para plateias do mundo, principalmente a América Latina.

A MÚSICA CONECTA

Set List | Depeche Mode | São Paulo – 27/03/2018

Revolution dos Beatles
Going Backwards
It’s No Good
Barrel of a Gun – com um trechinho de ‘The Message’ do Grandmaster Flash com Dave Gahan
A Pain That I’m Used To (‘Jacques Lu Cont remix’ version)
Useless
Precious
World in My Eyes
Cover Me
Insight – acústica com Martin Gore nos vocais
Home
In Your Room
Where’s the Revolution
Everything Counts
Stripped
Enjoy the Silence
Never Let Me Down Again
Bis:
Strangelove – no piano com Martin Gore nos vocais
Walking in My Shoes
A Question of Time
Personal Jesus

Fotos por Daniel Schauff.

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