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Soul Beats | Um apanhado sobre a carreira do brasileiro Andrezz, que comenta seu novo EP

Por Redação Alataj em Soul Beats 13.04.2017

Por Lucas Portilho

Natural de São Caetano do Sul (São Paulo), André é produtor e DJ de drum and bass e já tocou em grandes festivais especializados em música eletrônica, como: o Tomorrowland Brasil, Spirit Of London e Movement (Bryan Gee). Atualmente, o brasileiro se dedica à produção de músicas para a britânica V Recordings/Liquid V e à organização da festa JOY Drum and Bass (Mauá, SP).

No começo havia muita vontade de aprender, auxílio dos amigos, equipamento emprestado e pequenas festas. Com o coração cada vez acelerado, devido a influência das batidas quebradas, o seu gosto pela profissão de DJ foi se tornando cada vez mais evidente. O apreço pela boa música veio de berço: soul music, MPB e hip hop eram gêneros musicais que se ouvia na casa do deejay. O paulista, desde novo, tinha o costume de ouvir diversas rádios que tocavam as suas músicas preferidas. A combinação entre o conhecimento obtido dos amigos e as músicas tocadas nas rádios, foi o estopim do que viria ser o nome artístico Andrezz.

Próximo aos 18 anos, André começou a frequentar casas noturnas que ofereciam festas de música eletrônica. Já com alguns discos acumulados na case, muitos deles comprados na Stuff Records (galeria 24 de Março), ele conheceu os organizadores do Liquid e do Mjazzy, DJ Luy e Mr. Brown – ambos hip hop e drum and bass. Mais tarde se tornou residente da festa 8 Ball ao lado dos produtores e DJs, Beto DogFace, Cesar Peralta. Além de Andrezz, artistas de peso para o cenário do drum and bass, como Drumagick e Patife, também já foram maestros das noites da 8 Ball. Em pouco tempo, o DJ que inicialmente tocava apenas nas festas de Mauá, começou a alçar vôos mais altos na grande São Paulo.

Após os amigos apresentarem o software Logic Pro para Andrezz, ele decidiu traçar o seu caminho no meio da produção musical. Na época o acesso à internet ainda era difícil, mas isso não era empecilho para obter informações sobre metodologias, técnicas e maneiras de se produzir drum and bass. “Nós íamos nas festas para podermos conversar sobre produção com os músicos veteranos”, explica. O primeiro lançamento do artista foi na gravadora brasileira Promo Audio, seguido de Innerground (DJ Marky), Good Looking, Soul Deep, Vibration, V Recordings e o subselo Liquid V. Em 2011-12, já com um ritmo de produção, suporte de grandes artistas e uma boa divulgação do trabalho realizado, Andrezz lança o seu primeiro release na Liquid V de Bryan Gee.

A entrada do brasileiro no selo britânico de drum and bass foi através de uma viagem que um amigo de Andrezz, Level 2, fez para o antigo continente. “Eu dei várias faixas (por volta de 5 ou 6 músicas novas) para ele tocar durante a viagem. Um cara que trabalha com o Bryan Gee, Ruff Stuff, escutou e pediu uma das minhas músicas para o Level 2”, explica. Com a volta dobrasileiro da Europa, o amigo avisa para Andrezz que Bryan Gee ouviu e gostou das faixas que teve acesso. “Eu não acredito!”, exclama. Após sucessivas músicas enviadas para o dono do selo britânico, Bryan decidiu assinar o primeiro release do brasileiro, um EP composto por 5 músicas chamado Resistance (abril de 2013). “Ultimamente tudo que eu mando para o Bryan, ele gosta”, sorri.

Andrezz assume que na primeira vez que foi para Londres, não teve muitas oportunidades profissionais. Por ainda não produzir as suas próprias faixas, ele estava limitado a tocar produções de outros artistas. “É complicado… parece que hoje em dia, se você não produzir fica difícil de você seguir uma carreira musical”, aponta. Sobre as portas que se abrem com a produção musical, no mesmo mês que André fez aniversário, Marky lançou o álbum Sounds of Innerground com uma das faixas produzidas pelo paulista e o seu primeiro EP pela Liquid V. “Os dois selos que eu mais queria assinar (que eram a Liquid V e Innerground) eu consegui lançar. Quer presente melhor?”, questiona.

Nas palavras do fundador da V Recordings, Bryan Gee observa que a sua admissão no selo e subselo V Recordings e Liquid V é uma resposta ao talento do artista e as músicas belíssimas que produz. “Com um drum and bass original e com muitas influências do que há de novo nos dias atuais”, elogia. Indo além do seu trabalho autoral, Andrezz também já produziu um remix de uma das faixas compostas pelo finlandês Physics. Intitulada Dreamworld (DJ Andrezz Remix) o brasileiro aponta que trabalhar com essa música foi um dos seus maiores desafios. O motivo? Um dos produtores mais respeitados do drum and bass, DBridge, já havia remixado a faixa anteriormente. “A responsabilidade foi muito grande, mas sou muito grato por ter realizado esse trabalho”, explica.

Sobre as formas de se difundir um determinado trabalho, de acordo com André, a produção de podcasts é uma boa forma de divulgação. Encarada como uma boa ferramenta para lançamento de novos trabalhos autorais, Andrezz afirma que o fluxo de recebimento de músicas novas é intenso. “Um dos meios mais importantes de mostrar a nossa música é através dos podcasts e clubs”, detalha. Além das conquistas na vida profissional, André se lançou como organizador de eventos lançando, junto com DJ Chap e L-Side (fundador), a Blackminds (Mandala Club, Mauá). Segundo Andrezz, a proposta da “Black” é ser o oposto da Liquid: se na Liquid nós tínhamos 70% de drum and bass e 30% de hip hop, na Blackminds era ao contrário. Marky, Patife, KL J, DJ Andy, Dan Dan (DJ do Criolo) são exemplos de grandes artistas que tiveram passagem pela festa. Por volta de 2016, com o acúmulo de experiência em organizar eventos, André funda a sua própria festa, a JOY Drum and Bass que atualmente é realizada no Mandalá Club em Mauá, mas deve abranger outras cidades em breve. O DJ conta que administrar a própria festa foi uma consequência de todas as experiências que viveu tocando nos eventos que compõem a carreira.

EP Free Your Mind:

Lançado em março, o EP Free Your Mind foi uma verdadeira liberação da mente segundo o produtor de drum and bass. Foi a partir de um determinado sample, que a mente do produtor ultrapassou a barreira que impedia a finalização das faixas que constam no trabalho . “Fazia muito tempo que eu não lançava uma música… então quando eu achei esse sample foi um alívio para a mente”, contextualiza. De acordo com André, duas das faixas do EP foram produzidas no ano passado e as outras duas foram finalizadas neste ano de 2017. O produtor considera que a demora em lançar as suas músicas é um reflexo do modus operandi do artista no estúdio “Eu não gosto de fazer músicas de forma rápida. Meu espírito é mais de tocar, não produzir. As vezes eu faço uma música, encosto ela, mas depois eu retorno para finalizar e mandar para o Bryan para análise”, detalha.

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Bryan Gee expõe que adorou as quatro faixas lançadas pela gravadora. A primeira – Take You There -, diz o britânico, “me lembra uma música composta por Roger Johnson, ‘Soul My Life’, que ele costumava tocar nos anos 90”, e completa: “eu não tenho certeza se ele usou esta música como inspiração, mas tenho convicção que tem algo a ver com essa época”. A Free Your Mind (2ª faixa) é observada por Bryan como sendo uma boa lembrança do Calibre (um dos principais DJs de drum and bass do mundo) tocando na festa organizada pelo DJ Fábio, Swerve (Londres). “Aquela vibe que você tem quando libera a sua mente de memórias antigas”, aponta. Já a terceira, o produtor britânico diz que quando ouve a Many Memories ele se transporta para uma época em que tocava reggae no seu sound system no meio do mato: “eu via dreads balançando para todos os lados. Gente dançando em círculos batendo os seus bastões ou varas nas suas mãos. Garotas usando grandes e coloridos cachecóis. E você podia ver as cabeças das pessoas batendo para cima e para baixo de acordo com as batidas. Eu adoro as batidas tribais”, descreve. Para a última música do EP, Bryan elogia dizendo que a Rigel Brightness é uma das que você se perde dentre as outras faixas “uma música temperamental com um toque de Intalex [importante produtor de drum and bass]”, finaliza.

Para o futuro:

Segundo Andrezz, é muito mais tranquilo produzir um single do que um EP ou um álbum. É necessário ter uma vibe muito boa para se desenvolver uma determinada música. “As vezes pode sair duas, três, ou dez, mas as vezes pode sair nenhuma”, admite. André explana que produzir um álbum é pensar em uma narrativa bem amarrada: “é um livro, não é um parágrafo”, compara. O artista, no mais, admite que pretende produzir um álbum brevemente e adianta “pretendo fazer parcerias de peso para o próximo trabalho”, enfatiza e encerra.

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