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A música conecta

A música em primeiro lugar na vida de Oliver Gattermayr

Por Alan Medeiros em Troally 18.02.2016

Nós não cansamos de citar por aqui a importância de profissionais que colocam o amor em seus trabalhos – muitas vezes a frente do dinheiro. Oliver Gattermayr é um desses exemplos. O paulistano é um dos nomes por trás da festa Subdivisions que trouxe Ion Ludwig e XDB a São Paulo em suas primeiras edições. Além disso, ele é conhecido por seus sets que fogem do padrão entregue pelos DJs as pistas. No bate papo abaixo você conhecerá um artista apaixonado pela música, que tem planos grandes, sonha alto e faz a sua parte por uma cena melhor no Brasil. O mix, comprova tudo isso que acabamos de falar. Música de verdade, por gente que faz a diferença!

1. Olá, Oliver! É um prazer falar com você. Podemos começar nossa conversa com algumas informações importantes sobre sua iniciação na música eletrônica. Como isso aconteceu?

O prazer é todo meu, obrigado pelo convite! Apesar de eu não ter uma família com background musical e nunca ter tido um mentor, sempre estive exposto à música eletrônica.

Acho que, como para muitos que cresceram nos anos 90, as rádios tiveram papel importante nessa exposição inicial. Lembro que quando tinha uns 8 anos escutava diariamente um programa na rádio durante a hora do almoço que tocava house comercial. No ano seguinte, mudei de escolas e a aula acabava 1 hora mais tarde, então sentava no fundo da sala de aula com um fone de ouvido “escondido” do professor e constantemente era flagrado e chamado na sala do diretor para uma conversa.

Em 2004, morando na Suíça, eu já escutava várias rádios na Internet e sets que encontrava. Em retrospectiva, sempre fiquei louco atrás das músicas e nunca conseguia encontrá-las online, então costumava cortá-las de sets para que pudesse ouvir mais tarde.

Em 2006 eu tinha acabado de voltar e infelizmente não peguei o movimento das festas de techno e outras tantas boas que aconteceram em São Paulo nessa época, mas estava sempre escutando coisas. Conheci o D-EDGE em 2008 e ia com frequência ver atrações de que nunca tinha ouvido falar, mas logo pesquisava e passava a conhecer. Finalmente em 2009 eu comecei a tocar e no final do mesmo ano passei 3 meses em Berlin: isso mudou tudo.

2. Você é reconhecido como um amante de discos e defensor da ideologia que o DJ deve entregar algo diferente às pistas por onde passa. Quais fatores te inspiram a subir na cabine? Como tem sido a trabalhar com uma cena que está dando os primeiros passos rumo a um aprofundamento maior?

A cultura do DJ de verdade está se perdendo cada vez mais, é preciso ir cada vez mais underground para encontrar DJs que pesquisam com afinco, músicas e discos que sequer tem um preview online no youtube lojas. Não são todos que sentem extrema felicidade ao finalmente identificar o nome de uma track que estavam procurando há anos e já ficam imaginando a situação ideal para tocá-la.

Dificilmente um artista – nacional ou não – é um DJ de verdade que consegue interpretar o mood e a energia do lugar e das pessoas e transformar isso em uma história bem contada, num set bem construído. Subir numa cabine é algo que acontece naturalmente e é minha forma de mostrar às pessoas a minha interpretação de todos os fatores.

A cena no Brasil atualmente é muito frágil, mas tem um tremendo potencial subutilizado que vem sendo cada vez mais explorado por um número cada vez maior de coletivos independentes. O público está sendo exposto cada vez mais a artistas inéditos, mas ainda assim, hoje em dia, a grande maioria dos bookings feitos no Brasil e no mundo leva em conta apenas as produções do artista e o marketing por trás e não necessariamente a sua forma de apresentação.

3. Seu nome é frequentemente lembrado no circuito de festas independentes paulista. Muito disso, por conta de seus recentes trabalhos a Subdivisions, que já trouxe nomes como XDB e Ion Ludwig. Por favor, fale um pouco mais sobre esse trabalho que vem sendo desenvolvido.

São Paulo tem diversas festas boas acontecendo no momento, com diversas propostas e conceitos diferentes, mas nenhuma com que eu me identificasse 100%. Eu já tinha me envolvido com alguns outros projetos antes, mas nenhum destes pude participar da criação do conceito desde o início.

A Subdivisions nasceu justamente como uma forma de expor a nossa visão musical e uma festa em que nos sentíssemos à vontade. A ideia é criar um ambiente ideal para realmente vivenciar a musica eletrônica por completo, explorando minuciosamente o contato com a música e com as pessoas.

Quando você consegue criar um ambiente com uma atmosfera propícia, com um Soundsystem capaz de reproduzir exatamente a história que o DJ está contando e com pessoas à vontade – ai é onde a mágica realmente pode acontecer. Eu e meus parceiros, Guillaume e Bruna estamos muito felizes com o resultado das 2 primeiras edições do nosso projeto e temos várias festas planejadas para este ano. Aguardem que vem coisa muito boa por ai!

4. Desde o começo da Subdivisions há uma preocupação em entregar algo diferente ao público não somente no line up, mas também em termos de comunicação, locação de lugares inusitados e soundsystem de qualidade. Você considera essa filosofia indispensável para o amadurecimento da cena como um todo?

Sim, acredito que seja indispensável para o amadurecimento da cena, principalmente dos consumidores de música de verdade (diferente dos consumidores de festa, que estão em todo lugar). Quanto mais o público tiver acesso a eventos que propiciam estrutura e principalmente música de qualidade, mais educado ficará e mais exigente se tornará. De repente a festa que era legal e lotava independente de quem tocasse ou do Soundsystem acaba se tornando menos interessante. É esse público mais consciente que tem poder de mudar e melhorar a cena.

5. Como você enxerga e planeja a produção musical dentro da sua carreira artística?

Vejo produção como uma forma de expressão de qualquer artista, não apenas como uma forma de arrumar gigs (como a maioria). Quando consigo sentar no meu estúdio, apenas deixo acontecer – sem me preocupar se poderia um dia lançar aquilo ou não.

Não tenho pressa em lançar qualquer cosia em qualquer label. Quando a música for realmente boa, as labels relevantes se interessarão e estarão dispostas a lançar em vinil.

6. Sabemos que seu estúdio vai ter uma pegada e perfil mais analógica, fugindo dos digitais e focando nos sons orgânicos. Fale um pouco sobre a razão dessa escolha.

Eu venho flertando e pesquisando produção já a alguns anos e durante esse tempo, fui testando várias formas de produzir até achar a que eu me sentia mais confortável. Depois de anos quebrando a cabeça usando VSTS e Sequencers digitais e sem chegar a músicas prontas, comecei a pesquisar outras maneiras de produzir, equipamentos e ir em direção a um setup para jams.

Dessa forma, faço grande parte da música usando apenas os hardwares e uso o live como Master Clock e gravador. Quando sinto que tenho a maior parte da ideia pronta, gravo criando variações em canais individuais e depois edito o arranjo, adiciono outros layers e efeitos.

Cada um deve procurar o setup que funciona e faz sentido para si, no meu caso estou cada vez mais confortável com hardwares e utilizando menos e menos fontes de som não analógicas. Não existe milagre, comprar um equipamento ou plugin novo não vai te ajudar em nada se você não gastar o tempo necessário aprendendo e experimentando.

Aos que estão iniciando, aqui vai uma dica: Menos é mais. Limite o número de ferramentas que você tem para fazer música e gasta bastante tempo aprendendo-as. Aprenda todos os parâmetros base de cada e esgote todas as possibilidades antes de se aventurar com outros tipos e divida seu tempo disponível de produção para cada etapa em partes.

7. Para encerrar, uma pergunta pessoal. O que a música eletrônica representa na tua vida?

Tudo o que faço é pensando em música, realmente é minha principal razão de viver. Do momento que eu acordo até a hora de dormir, tem alguma música presa na minha cabeça e em todos os momentos penso e vivencio música, seja viabilizando eventos pequenos ou grandes para que ela aconteça, planejando viagens com destinos focados primariamente em música ou trabalhando para isso tudo se tornar viável, o que me dá força é a música. É aquilo que quero fazer no meu tempo livre e também no meu trabalho.

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