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A música conecta

Esther Silex é como uma pérola rara em um amontoado de conchas formado após um furacão

Por Alan Medeiros em Troally 22.06.2017

Esther Silex é uma talentosa produtora alemã que surgiu para a indústria de forma repentina após um lançamento no conceituado selo sueco Studio Barnhus. Axel Boman e sua turma a descobriram através de um amigo em comum e então a convidaram para assinar o seu EP de estreia. Pachamama ganhou a luz do dia em janeiro desse ano e mostrou traços importantes dessa promissora artista.

Há algo no som de Esther que é difícil de ser explicado. É como conhecer uma mágica, mas ainda assim ser pego de surpresa simplesmente pela forma com que o ilusionista a envolve. Sua abordagem sonora parece sincera, rica e multifacetada, já que sons provenientes de diferentes partes do mundo podem ser extraídos da música que é produzida pela jovem Silex – até mesmo forró ela já dançou e estudou.

Descobrir seu trabalho ainda que engatinhando foi como encontrar uma pérola rara em meio a um montante de conchas quebradas após uma ressaca causada por um furacão. É aquela típica situação que renova energias e cria expectativa maravilhosas quanto ao futuro. Convidamos Esther para uma entrevista acompanhada de podcast exclusivo, ela topou. Confira o resultado desse encontro:

1 – Olá, Esther! Nós conhecemos seu trabalho através do Studio Barnhus e desde então temos procurado entender um pouco mais sobre suas origens. Como exatamente começou sua jornada na música? O que te mantém motivada a seguir produzindo e evoluindo no momento?

Minhas origens são loucas, hippie, pais ingleses-alemães viajando em um VW-Bus vermelho em toda a Europa com seus 4 filhos e uma boa coleção de discos antigos de soul, disco e funk, tudo de Rick James para Joyce Sims e Sade. Esta é a música com a qual eu cresci e que me influenciou bastante durante a minha infância e adolescência. Depois que nos instalamos na bela cidade de Colônia, cidade oeste-alemã, lentamente me envolvi na cena vibrante da música eletrônica. Comecei a organizar eventos com um grupo de amigos, passando mais tempo nas lendárias festas de confusão total no Studio 672 do que na escola, e roubando os discos dos meus pais para ir tocar no bar ao lado. Era muito divertido! Foi quando comecei a cavar cada vez mais profundamente em todos os tipos de música, algo que simplesmente amo fazer por horas e horas. Todos os meses me coloco em um tema diferente e tento descobrir tudo o que posso sobre a era, banda ou gênero escolhidos. Isso inspira muitos meus sets e produções, abre a minha mente para pensar fora da caixa.

2 – Outros movimentos artísticos, como pintura e dança por exemplo, tem influenciado a forma como você cria sua música?

“Dance, dance, senão estamos perdidos” – as palavras da famosa dançarina alemã Pina Bausch são a abertura da minha biografia, então sim, dançar especialmente, me inspira muito. O corpo e a forma como se mexe para sons, me fascinam. Eu costumava dançar muito quando mais jovem, na verdade aprendi e dancei a dança tradicional brasileira Forró por alguns anos (mal posso esperar para dançar no Brasil) e adicionalmente, fiz muito balé. Os sons e os movimentos são energia, o que é fascinante de assistir. Na minha cidade natal, Berlim, estou envolvida em um coletivo artístico chamado Birdmilk. Eles criam todos os tipos de experiências em torno da dança, performance e música, então procuro a dança para participar da minha vida, de qualquer maneira que for.

3 – Como aconteceu seu contato com o Studio Barnhus? Há planos para colaborar novamente com a gravadora em um futuro próximo? De que forma Axel e seu time tem contribuído para o seu amadurecimento artístico?

Nós nos encontramos durante uma festa dos meus adoráveis amigos no Gewölbe Club em Cologne, e depois entramos em contato através do nosso amigo em comum, Matt Karmil. Uma vez tinha terminado meu primeiro EP, enviei-o, eles gostaram imediatamente e foi lançado logo em seguida. No momento, estou trabalhando na segunda parte do meu Pachamama EP e estou apenas esperando que as últimas ideias apareçam na minha mente. Eles são um grupo incrível com pessoas criativas, adoro fazer parte do label e das suas visões de mente aberta.

4 – Em seus sets, você explora diferentes abordagens, entre elas soul, funk e disco. Como é pra você transitar entre esses estilos enquanto discoteca?

Eu vejo isso como meu trabalho enquanto DJ, levar meu público a uma nova jornada durante a noite, esperançosamente para algum lugar que eles nunca foram, mas sempre sentiram que precisavam ir. Misturar todos esses gêneros é emocionante e desafiador, não só para os dancers, mas também para mim, portanto, estamos todos no mesmo barco. Isso significa que eu não apenas toco qualquer set antigo, mas também estou intrigada com a evolução dessa jornada que estou criando, onde a energia, o público e o meu humor nos levarão.

5 – Na sua visão, falta espaço para as mulheres nos line ups dos principais eventos de house e techno no mundo? O que podemos fazer para mudar isso?

Definitivamente, não há falta de espaço para mulheres nos line ups ao redor do mundo! Há toneladas de festas e muito espaço para a mulher tocar. O problema é que muitas pessoas ficam presas em suas ideias antiquadas, seus padrões e sua maneira de trabalhar. Eles não estão abertos para talentos jovens e futuros, em vez disso, eles preferem dar o tiro seguro, que hoje em dia ainda significa que eles contratariam DJs masculinos. Se começássemos a olhar para fora da caixa, nós perceberíamos quantas inspiradoras DJs e músicas femininas estão crescendo e espalhando sua musicalidade em todo o mundo. Em alemão, você diz: Você não pode ver a floresta, pois há muitas árvores! Estamos falando, conversando e discutindo tanto sobre este assunto, mas infelizmente, ainda não há suficientes DJs sendo contratadas. Pode ser fácil, se os promoters realmente se abrirem para o problema e começarem a atuar, começarem a escutar os sets de mulheres, em vez de apenas olhar suas fotos no Instagram e contratá-las em nome do que veem e não do que ouvem. Mas sim, empurrar as mulheres em um mundo dominado por homens nunca foi fácil.

8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música representa a vida para mim! Ouço isso em todos os lugares que vou, pode ser de alto falantes, de fora da minha janela ou apenas na minha cabeça. É uma energia totalmente transcendente que me traz muita alegria. Obrigada pela entrevista! 🙂

Música de verdade, por gente que faz a diferença!

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