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A música conecta

Fantastic Man inspira com sua visão inteligente sobre o poder da música. Confira entrevista exclusiva!

Por Alan Medeiros em Troally 05.04.2017

O que faz um artista prender nossa atenção? Em pleno 2017, a impressão que temos é que, para soar diferente, bons nomes tentam cada vez mais resgatar referências de sucesso comprovado para compor suas músicas. Falta de criatividade? Talvez. O que realmente merece ser dito nesse momento é que está cada vez mais difícil achar artistas originais, mas quando estes são encontrados, eles merecem toda nossa atenção.

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O australiano Fantastic Man pode ser considerado um dos raros casos com potencial para reinventar a dance music e as formas com que ela conecta pessoas no período atual. Dono de releases por selos renomados como Love On The Rocks e Permanent Vacation, ele é o cara por trás de uma abordagem descolada e diferentona de house music repleta de elementos orgânicos. Como remixer, possui bons trabalhos para Jacques Renault, Touch Sensitive e Round Table Knights, provando que reinterpretação é um de seus pontos fortes, não somente na atmosfera que cria para pista, mas também para obras de outros bons artistas.

Esse fim de semana ele retorna ao Brasil para tocar na festa da Gop Tun (no próximo fim de semana tem Discoteca Odara no Club Vibe) que marca o início de uma nova era para o coletivo de São Pualo pós Dekmantel. Agora, o número de eventos será menor, mas a estrutura e a expressividade deles tende a ser mais grandiosa. Confira o nosso bate-papo com um dos artistas do line up que ainda conta com Skatebard, Maurice Felton, Piramida (saiba mais sobre a festa aqui) e mais:
1 – Olá, Mic! Obrigado por falar conosco. Seu estilo musical traz uma mistura de diferentes referências ao mesmo tempo que conecta o futuro ao passado. Como você conseguiu construir algo tão marcante?

Olá e obrigado! Tento fazer exatamente isso, mas de qualquer forma, sem planejar. Sou um produtor “felizmente” bastante desorganizado. Nunca há um conceito ou ideia além de alguns básicos temas de começo ou samples. Eu acredito que no fim do dia, estou tentando criar alguma coisa a qual eu gostaria de tocar ou ouvir, e recentemente as influências tem sido muito amplas, como vocês dizem – velho e novo – escuto e toco música de todas as eras da dance music em uma curta história.

2 – Ano passado você esteve no Brasil e agora está de volta para mais uma tour. O que o nosso país tem de melhor na sua visão? Quais foram suas experiências inesquecíveis durante a última passagem por aqui?

Vim para o Brasil a primeira vez no ano passado, inicialmente para passar apenas dois dias, o que foi bastante absurdo, mas foi a única maneira que poderia funcionar e realmente gostei do que vi. Então decidi voltar um tempo depois e tocar em mais cidades e explorar o máximo que pude. Acho que o Brasil é o melhor lugar que encontrei até agora para “espalhar a mensagem da música”. Eu nunca tinha experimentado uma cultura que aproveita a música e dança com essa paixão feroz e sem preconceitos, então a conexão com a multidão foi algo bem especial. Fora das festas, tive sorte de ver um pequeno, mas belo, retrato do campo, costa e São Paulo. Experimentei uma beleza selvagem e espiritual – tanto com as pessoas quanto com lugares – que achei familiar a minha casa na Australia, mas muito mais desorganizada e interessante. O acesso a natureza e ao oceano são coisas muito importantes para mim e é algo que realmente sinto falta por viver na Europa sem. Há muito mais que eu gostaria de explorar no Brasil.

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3 – Você nasceu na Austrália e conquistou respeito dentro da música eletrônica em outros países também. Atualmente, qual é a avaliação que você faz da cena em seu país?

A cena na minha cidade natal está tão forte como sempre foi. A multidão é muito aberta e receptiva para todos os tipos de música. Melbourne tem a melhor cultura alternativa na Austrália, por isso faz uma cena musical saudável, mesmo para os padrões internacionais, que também não foram esnobados pela política do governo, como nas cidades vizinhas. Espero que isso permaneça e a cena possa florescer ainda mais.

4 – O que você sabe a respeito da música genuinamente brasileira? Há algum artista ou selo que tem chamado sua atenção recentemente?

Sim, estive fazendo algumas pesquisas mas espero aprender muito mais enquanto estiver por aqui e construir meu repertório de música brasileira. Há alguns discos que espero conseguir, principalmente os EPs mais velhos de funk/soul de artistas como Marcia Maria, Marcos Valle e Tim Maia, que são mais difíceis de encontrar fora do Brasil.

5 – Permanent Vacation, Love On The Rocks e Let’s Play House são apenas alguns dos selos com os quais você já trabalhou. Após tantos lançamentos, o que você tirou de melhor do aspecto humano dessa relação artista/gravadora?

Não acho que tratando-se de labels, o aspecto pessoal tenha sido sempre a coisa mais importante, mas eu tive sorte por ter feito vários grandes amigos através das minhas escolhas de selo. Como vocês mencionaram aqui, Let’s Play House e Love On The Rocks, tenho grandes amizades de ambos os selos. Acho que você nunca sabe o resultado de trabalhar com pessoas, especialmente pessoas da música e egos. Isso nem sempre funciona. Tudo que posso fazer é pegar minha experiência  e aplica-la em como eu executo meu próprio label e as relações que escolho ter, e desenvolver com todos os artistas que eu trazer para o ninho.

6 – Artistas como você, possuem uma visão diferenciada da música enquanto arte. Nós a compreendemos como uma uma forma de conexão entre as pessoas. Como você a enxerga?

Música é um formato muito poderoso, ela pode transcender qualquer coisa. Tem o poder de fazer você voltar no tempo, fazer você rir e chorar em um instante. Também desempenha um papel fundamental na capacitação das comunidades, o que acho muito importante. Ter um lugar onde essas comunidades possam experimentar música e liberá-las em diferentes formas é crucial, não apenas por diversão mas também por um desenvolvimento pessoal. É a chance de explorar nossa mente, nosso corpo e conectar com diferentes tipos de pessoas que nós não teríamos a chance de conhecer. Para algumas minorias a comunidade da música e a pista são os únicos lugares onde podem se expressar realmente sem julgamentos e preconceitos. Elas podem servir como lugares para educar sem limites sociais. Quantos de nós foram levados para seus mais profundos relacionamentos – nossos melhores amigos, namoradas, namorados, maridos ou esposas na pista de dança? Acho que sem essas comunidades, seria muito mundano e uma existência solitária.

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7 – É claro pra gente que você busca entregar as pistas uma dance music que estimula novas formas de dança. Na sua visão, as cenas house e techno estão muito saturadas e os trabalhos soando muito parecidos?

Eu definitivamente gosto de olhar um pouco mais longe do que as formas muito padronizadas de house, techno ou qualquer outro. Acho que se resume a anos de desenvolvimento e gosto, que tem se tornado mais específico e claro, meu catálogo musical – como de todos os DJs – está sempre crescendo. Para mim, não é sobre tocar os últimos lançamentos, para mim a arte de discotecar é sobre elaboração de uma energia especifica e única usando uma ampla gama de música de diferentes estilos e eras. Esse é o desafio que torna isso cada vez mais agradável, e é isso que mais amo sobre discotecar.

8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Diferente do próprio formato e dos papeis mais profundos que significa para todos nós, como descrevi acima. A música para mim, pessoalmente, alterou minha vida como eu nunca teria imaginado, tem sido a minha carreira e abriu o mundo para mim. Embora eu tenha trabalho duro para ganhar minha posição com várias desvantagens e lutas no meio do caminho, ainda me sinto extremamente abençoado por ter música como o foco central da minha vida diária.

Música de verdade, por gente que faz a diferença! 

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