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A música conecta

Jeroen Search possui uma visão sincera e particular sobre a cena e produção musical. Falamos com ele!

Por Alan Medeiros em Troally 18.05.2017

A forma livre como Jeroen Search cria suas músicas é semelhante ao que há de mais encantador em outros estilos musicais, como o jazz por exemplo. Este experiente produtor holandês está jogando preciosidades no mercado desde o século passado e parece ter fôlego para cada vez ir mais além. Seus primeiros releases floresceram na década de 90 e de lá pra cá, ele conseguiu algo que pode ser considerado uma façanha: ser 100% fiel ao seu estilo, também denominado como “Search Sound”.

Nomeado pro grandes artistas como uma fonte de inspiração, Jeroen garante estar aberto a novas e excitantes influências musicais, mas não abre mão de sua roupagem particular acerca do techno. Com uma relação especial com a Figure, selo de Len Faki, Search tem mantido uma sequência importante de lançamentos. Por lá, saíram faixas como Da Capo, Upekkha, Metta e Karuna. As três últimas pelo sub label Figure SPC, onde o produtor holandês fechou a série SPC com o EP Z.

Com pouca ou quase nenhuma necessidade de se reinventar em meio a uma cena turbinada por novos produtores e estilos, Jeroen Search mantém sua reputação intacta e produz um trabalho verdadeiramente atemporal. A nosso convite, ele respondeu algumas perguntas de forma precisa e assinou o mix 106 da Troally. Confira abaixo:

1 – Olá, Jeroen! É um prazer falar com você. Você despontou para o techno em meados dos anos 90 e certamente acompanhou o crescimento do estilo. Na sua visão, quais sao as principais diferenças da cena se olharmos para o momento atual em relação ao período que você começou?

Bom, a principal diferença daquela época pra agora é a velocidade que tudo evolui nos dias de hoje na era digital. Às vezes parece que a música que foi lançada hoje, já está “velha” amanhã, para mim esta é a grande diferença. Não é necessariamente uma coisa ruim, porque também significa que você sempre tem muita música para escolher quando está tocando, mas por outro lado parece que algumas faixas não tem a atenção que merecem, porque já está todo mundo procurando pela próxima grande coisa.

A produção mudou muito, com certeza. Com todas as máquinas, computadores, DAW’s, a velocidade com que você pode produzir sons e música é maior do que antes.  Poderia dizer que se tornou bastante ilimitado para o que você pode fazer. No entanto, pessoalmente, gosto de ter que lidar com limites e limites que alguns equipamentos colocam em você como artista, que forçam você a ser criativo em seus métodos, e impede que você se debruce sobre as coisas, é por isso que ainda estou trabalhando com hardware depois de todos esses anos.

No palco este desenvolvimento é muito claro, quero dizer, nestes dias os eventos estão cada vez maiores, os line-ups estão ficando cada vez mais impressionantes, e até mesmo a forma como os eventos são organizados é muito mais profissional do que costumava ser. É seguro dizer que a paisagem do techno é algo que está sempre evoluindo, melhorando e crescendo, eu acho isso uma coisa boa. Para mim, a essência do techno é sobre sonhar com o futuro e imaginar as coisas de novas maneiras.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, show, multidão e noite

2 – Você é um produtor que conseguiu criar uma identidade sonora e se manter fiel a ela em praticamente todos os momentos da carreira até então, não é mesmo? Quão representativo isso é pra você?

Usando mais ou menos as mesmas ferramentas de produção que eu usava quando comecei, e mais importante, gosto de pensar que consegui ficar muito próximo de mim. A música que eu faço vem de dentro, para mim é uma representação honesta do que penso, como sinto, nada mais, nada menos. Eu não poderia fazer isso de outra maneira, nunca vou para o estúdio sabendo o que vou fazer. A forma que lanço a minha música também nem sempre é linear. Eu gravo muito, apenas para emprateleirar depois. De vez em quando me sento e olho para essas gravações, às vezes demora mais de 10 anos para lançar uma faixa, só porque tinha em meus arquivos por muito tempo, ou esqueci completamente que fiz. Então, em essência, a música é eterna, porque bem… eu não tenho controle do tempo? É muito bom ver a resposta das pessoas depois que uma faixa é lançada e funciona muito bem, faz eu me sentir bem por ver que algo que fiz há 10 anos atrás só melhorou com o tempo.

3 – Eu li em sua bio que você produz suas músicas em um estilo meio jam session… Por quê exatamente dessa maneira? Você não se sente confortável recriando trechos?

Quando trabalho na música eu apenas continuo adicionando sequências ou ritmos, construindo lentamente diferentes peças e camadas, até que eu sinta que todos os “ingredientes” estejam prontos. Depois disso, decido onde começar a faixa e em seguida basta pressionar o botão REC em meu gravador e disparar a faixa no painel de controle. Para mim, essa é a única forma de capturar esse certo humor ou sentimento que tenho durante a sessão no estúdio.

4 – Fale um pouco sobre seu trabalho com a Figure. Quais são os seus planos no que diz respeito a lançamentos para 2017?

Estou trabalhando com a Figure há um bom tempo, nós temos esse amor pela música em comum e isso é bom. Recentemente tive um release na Figure (final de Março) Time Signature EP e no ano passado tive a honra de fechar a série Figure SPC com SPC Z. Atualmente nós estamos planejando meu próximo release para 2017 e também tem alguma coisa vindo em 2018.

5 – Sobre a cena na América do Sul, o que você sabe a respeito? Há algum artista ou estilo que tem chamado sua atenção recentemente?

Bom, até agora só estive na Argentina algumas vezes, então só posso falar de lá. Mas o que posso dizer pelo que vi é que eu realmente adorei o público na América do Sul. As pessoas tem a mente aberta e são muito amigáveis! É tão bom ver que a música não tem limites e que há pessoas em todo o mundo se conectando através disso.

6 – Warm Up e Dynamic Reflection são apenas alguns dos selos que você já colaborou. Até então, o que você leva de melhor do aspecto humano dessas relações?

Sempre tento construir algum tipo de relacionamento com as pessoas que trabalham comigo, ao invés de ver apenas como negócios. Acho que é divertido fazer alguma coisa especial para alguém, ou vasculhar meus arquivos procurando por uma peça lá que sei que eles vão gostar. Então, talvez você poderia dizer que eu sempre tento colocar algum pensamento extra ou esforço e ao longo do tempo isso forma um vínculo entre mim e os labels. Isso cria um ambiente criativo e saudável onde as pessoas se sentem confortáveis compartilhando seus próprios pensamentos sobre a música com você.

7 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

É uma parte essencial de quem eu sou. Não consigo dizer outra coisa sobre isso.

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