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A música conecta

L_cio está fora do óbvio

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Por Alan Medeiros em Troally 30.09.2015

Quando escutamos uma produção de house ou techno, não é rara a sensação de que já conhecemos aquilo de algum lugar. Por alguns motivos, muitos produtores insistem em seguir uma fórmula inexistente, mas que está escancarada para todo mundo ver, talvez por que esse seja o caminho mais fácil e curto.

L_cio está fora do óbvio, é um artista em expansão buscando a evolução encontrada diariamente nos mínimos detalhes. Atuando principalmente frente ao techno, dubtechno e minimal, ele conseguiu construir uma identidade própria, algo admirável dentro da cena eletrônica. Faz uso de uma flauta transversal durante suas apresentações e segue sempre inspirado, trabalhando com diversos projetos dentro da música. Entre eles Gaturamo – que já se apresentou no Boiler Room – e o Teto Preto, que nasceu da festa Mamba Negra.

Agora, L_cio se prepara para uma tour na Europa com 9 datas, que passará pela França, Holanda e Alemanha. Antes ele celebra junto conosco a 50ª edição da Troally com um live exclusivo e uma entrevista bem maneira. Música de verdade, por gente que faz a diferença.

1 – Olá, L_cio! Acho que a gente não poderia começar essa entrevista de outra forma. Em São Paulo você participa de uma série de projetos de contracultura que levam música para diferentes públicos em diferentes locais. Fale um pouco sobre eles e os desafios de mantê-los na ativa.

L_cio: Oi! Sim, São Paulo tem uma cena bem intensa que acontece em locações diferentes, como praças, parques, casas, fábricas, etc… Esse movimento é recente e tem vários “coletivos” e festas extremamente ativos hoje (Capslock, Mamba Negra, ODD, Free Beats, Metanol, Venga Venga, Selvagem, Desviante entre outros). Minha participação acontece muito mais artisticamente, tocando e também participando da montagem de algumas festas de rua além de participar ativamente na festa Capslock na direção artística junto do Paulo Tessuto. Também sou frequentador dessas festas.

O maior desafio hoje diz respeito a sobrevivência desse movimento de maneira mais “profissional”, não no sentido formal/burocrático, mas financeiro… São muitos artistas, produtores e técnicos trabalhando ativamente nessas festas. Alguns eventos são gratuitos e outros pagos, e nesses a maior dificuldade é fazer com que os frequentadores das festas gratuitas percebam que o suporte deles nas festas pagas é fundamental para a evolução da nossa cena.

2 – Em entrevista para Thump esse ano você citou que o EP pela D.O.C foi seu primeiro trabalho realmente relevante. Em quais aspectos esse release se diferencia dos demais na sua visão?

Foi meu trabalho mais relevante até hoje. A diferença diz respeito ao alcance que esse disco teve, pois foi tocado/charteado pelo Michael Mayer e Noir recentemente, distribuído pela Kompakt e lançado pelo selo D.O.C do artista brasileiro mais relevante – Gui Boratto (na minha opinião).

3 – Ainda sobre a D.O.C, como surgiu o convite do Gui para lançar no selo? Você produziu a faixa especialmente para a gravadora ou era um trabalho que você já tinha em mente realizar?

Foi o Ale Reis quem mostrou a música pro Gui. Eu já havia feito a track (demo) e passei pro Ale (que tem um selo bem legal SUDD) – ele achou que a track tinha a cara do D.O.C e mostrou pro Gui que curtiu e quis lançar. Após isso, fiz a pós-produção da faixa junto com o Gui Boratto – foi uma experiência muito bacana – manja muito.

4 – Além de sua carreia solo você participa de uma série de projetos, alguns deles com o Zopelar, que já falou um pouco sobre cada aqui mesmo na Troally. Mas a gente queria saber de você, esse lance de participar de mais projetos é fruto de muita inspiração ou uma necessidade artística de atuar em mais frentes?

Eu nunca fui DJ e sempre produzi com a intenção de apresentar meu trabalho no formato LIVE. Assim, organicamente, os projetos foram surgindo a partir das parcerias e novas amizades que se transformaram em projetos – Lacozta (com o Daniel Cozta), Gaturamo (com o Zopelar) e o Teto Preto, projeto que surgiu na festa “Mamba Negra” da Cashu & Laura Diaz que me convidaram pra tocar e sugeriram que a Laura e o Bica tocassem comigo (voz e percussa) – topei, rolou e hoje temos a formação com o Zopelar também.

5 – A gente está vivendo em uma época que se fala muito de “hypes” criados principalmente a partir da comunicação nas redes sociais. Se olharmos sua página no Facebook, observamos que há um fluxo muito menor de conteúdo do que em seu perfil pessoal. Há uma razão para isso?

Não.

6 – O momento atual é de valorização do artista nacional. Você projeta sua carreira para as pistas brasileiras ou o mercado internacional é uma prioridade para você?

Não faço projeções… Penso mesmo no processo orgânico da minha carreira. As coisas aqui no Brasil e, agora também, na Europa estão acontecendo, mesmo sem eu ter projetado isso, apenas fui fazendo.

7 – Antes de encerrarmos, vamos falar um pouco de seu famoso live usando a flauta transversal. Como você decidiu inserir isso em suas apresentações e desde quando você sabe tocar?

Comecei a tocar flauta com 7 anos e estudei até os 15. Depois disso fiz muiiiiitas outras coisas. Quando comecei a produzir e tocar não pensava em inserir a flauta no live. Até que conheci o Alan (Portable) que ao acaso, numa conversa, descobriu que eu tocava flauta e me convidou pra gravar a track “A Process – flutramental version” que foi lançado pelo Live at Robert Johnson. Após esse lançamento, fizemos mais faixas, também lançadas pelo mesmo selo e também um disco no Perlon. Depois disso, toquei com ele e comecei a fazer isso no meu live também.

8 – Hoje vamos finalizar de uma maneira diferente a entrevista. Regaste aí na sua memória, qual foi o momento que você decidiu viver de música.

Eu era professor universitário em cursos de Educação Física e Pedagogia quando comecei a produzir e tocar. Há uns 5 anos percebi que as coisas estavam rolando com a música (trilhas, gigs, produção de outros artistas…) e decidi que tentaria largar a profissão pra me dedicar unicamente à música. Os dois primeiros anos foram bem difíceis e quase voltei a dar aula, mas no terceiro ano, as coisas se estabeleceram minimamente para que eu sobreviva hoje com minha música e projetos relacionados a festas e produção musical.

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