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A música conecta

Troally | Entrevistamos Lil’ Tony: “Um DJ que tem a mente e o coração abertos para a música é mais importante do que uma máquina tecnicamente perfeita”

Por Alan Medeiros em Troally 04.01.2018

Não há maneira melhor de começar o 2018 da Troally: convidamos um dos ótimos diggers do cenário internacional para apresentar um pouco de seu vasto repertório em nossa coluna. Estamos falando de ninguém menos que Lil’ Tony, nome responsável por trabalhos notórios em diferentes frentes de atuação dentro da música eletrônica e dono um DJing afiadíssimo, capaz de envolver multidões.

Seu nome é parte da comunidade europeia relacionada a dance music desde os anos 90. Já naquele tempo Lil’ era um artista carinhosamente lembrado por apresentações em clubs como Kerma e Soda. Sua paixão pela música evoluiu desde então e Tony passou a ser uma espécie de guru para a cena house/techno na Finlândia, hoje com clubs e festivais que fazem parte do circuito global.

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Sua versatilidade musical pode ser traduzida em uma coleção de discos que ele administra há mais de 20 anos. Já seu perfil sonoro transmite uma música com alma, repleta de referências e preparada para ganhar o dance floor. Como produtor, Lil lançou por selos como Innervisions, Moodmusic e Running Back antes de chegar aqui em nosso canal com esse delicioso mix acompanhado de um bate-papo exclusivo. Confira abaixo:

1 – Olá, Tony! Obrigado por nos receber. Sabemos que você atua em diferentes áreas do mercado da música eletrônica. Como funciona o seu workflow diário? Qual o segredo para administrar o seu tempo de uma forma tão poderosa?

Pergunta difícil e também muito comum que eu faço a mim mesmo. A vida está corrida mas eu amo o que faço, essa é a resposta. Toco gigs nos finais de semana e durante a semana lido com reuniões de negócios. Se houver tempo, eu vou caçar música e ir ao estúdio. Também parei de festar (álcool) – isso dá muito mais tempo e energia. Nos últimos 25 anos, segunda costumava ser um dia ruim, agora eu amo as segundas-feiras.

2 – Sabemos que seu primeiro contato com a discotecagem foi no fim dos anos 80. De lá pra cá já se passaram quase 30 anos, algo realmente incrível. Na sua visão, você sente que o papel que o DJ ocupava naquele período mudou muito em relação a hoje? Como você avalia essas mudanças?

Quando comecei a tocar em 1989, na Finlândia havia apenas um clube realmente legal chamado Berlin, que era um clube de acid e techno. Todas as outras coisas eram super undergrounds. Comecei a tocar em discotecas locais, tínhamos que falar no microfone e mixávamos todos os estilos, de disco a rock, passando por soul, reggae, AOR, Italo, New Wave e house juntos. Você sempre tocava sozinho por 6-7 horas, eu fazia 5-6 gigs toda semana para ganhar dinheiro com minha paixão – para comprar discos de house, disco e techno. Então, era mais como um dia de trabalho e era totalmente diferente de tocar em clubes, era difícil e um pouco tedioso às vezes. As pessoas começaram a mixar as batidas nessa época também.

3 – Recentemente assisti o trailer de um documentário que falava sobre a dance music na Finlândia e isso me deixou bastante curioso sobre a cena eletrônica no país. Você poderia compartilhar conosco um pouco de suas impressões sobre o assunto?

Temos uma cena eletrônica muito forte aqui. Há quatro clubes que são mais ou menos locais. Isso está ficando maior a cada ano e a única coisa que sinto falta são os dias da semana, é muito difícil trazer as pessoas durante a semana, exceto durante o verão. Temos muitas festas underground e os jovens locais estão animados – não temos muita competição aqui, nos respeitamos. Temos muitas DJs e promoters que gosto muito.

Sähkö Recordings, Mika Vainio (RIP) e, claro, Vladislav Delay são os pioneiros mais importantes da música eletrônica na Finlândia. Aqui tudo começou bastante cedo, por volta de 1987 – se estamos falando da cena e clubes de música eletrônica.

4 – Chicago e Detroit certamente possuem uma influência significativa na construção de sua identidade sonora, certo? Fale um pouco mais sobre esse background

Antes, eu não tocava um disco se não fosse de Nova York, Detroit ou Chicago. Também fui grande fã de música italiana e francesa. Hoje adoro as coisas europeias, inclusive atualmente acho que estou mais focado nisso. Mas sim, Detroit é a maior influência e amor para mim vinda dos gêneros techno e house. Em Chicago, Dance Mania é a minha paixão. Tenho todos os lançamentos que eu gosto. O house de NY foi meu primeiro amor. Disco, boogie e soul dos EUA também são uma paixão.

Amo Moodymann, Omar S, Underground Resistance, etc., e sempre me interessei no que Ron Hardy, Larry Levan, etc. fizeram no The Box e Paradise Garage, mas ao mesmo tempo me aprofundei pelo som cósmico da cena italiana.

Kraftwerk foi uma grande influência e forma do techno e electro de Detroit. Ouvi Kraftwerk antes de começar a tocar ou saber sobre house e techno. Era algo novo. Sempre estive no electro e hip hop mas a primeira vez que ouvi Kraftwerk, fiquei impressionado e acabei com os auto falantes da casa da minha mãe.

5 – Na sua visão, o que difere um bom DJ dos demais?

Gosto de DJs como Harvey, Ricardo Villalobos, I-F, Moodymann, Ron Hardy, Sadar Bahar, Daniele Baldelli, Helena Hauff, Lena Willikens, Young Marco, Vladimir Ivkovic e outros que sempre apresentaram discos estranhos que nunca ouvi e uma mistura louca e selvagem de músicas legais. Para mim, a música é mais importante do que habilidades – tenho muito respeito por quem descobre um monte de músicas antigas, isso é muito importante. Respeito muito meus amigos Dixon e Âme, eles estão sempre milhas a frente com música nova e mantêm interessante. Também gosto muito do que Marcel Dettmann e Nina Kraviz estão fazendo, eles sempre me surpreendem com alguma rave louca, EBM, Chicago, etc. Curto DJs que amam o que fazem e fazem o que amam. Eu diria que um DJ que tem a mente e o coração abertos para a música é mais importante do que uma máquina tecnicamente perfeita.

6 – O que você sabe a respeito da cena no Brasil? Há algum artista brasileiro que tem chamado sua atenção? Você tem planos de vir para cá algum dia?

Eu não sei muito sobre a cena da música eletrônica brasileira. Lembro de quando o Drum’n Bass era enorme, mas ouvi coisas boas sobre o Brasil e acho que a cena é grande. O lugar mais próximo que toquei foi o México.

Para mim, a música brasileira é muito importante, eu costumava tocar bastante nos anos 90 quando eu viajava ao redor do mundo com meus discos raros de jazz, funk, soul, latin e brasilidades, isso quando eu tocava de forma mais eclética. Estou comprando bastante material brasileiro hoje em dia também. O label Music From Memory, Red Light Records, Antal, etc. As pessoas de Amsterdã me inspiraram novamente nos últimos anos a cavar coisas dos anos 80 e um pouco mais de som digital. Músicas incríveis!

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7 – Como você enxerga as novas formas de consumo de música? Sinto que antigamente as pessoas tinham mais apreço e cuidado pelo o que era lançado e agora tudo parece mais descartável. Você concorda? O que podemos fazer para melhorar esse quadro?

Essas perguntas são difíceis, é Dia dos Pais aqui e acho que preciso de muitas horas para falar sobre isso, então vou pular. Ainda estou muito feliz por haver tantas pessoas com grande paixão e amor pelo negócio da música e discos.

8 – Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. Na sua opinião, qual o grande significado dela em nossas vidas?

Concordo totalmente que a música conecta as pessoas. É engraçado que quando você toca ou conhece um DJ e vocês tem algumas horas para conversar e jantar, você realmente sente a conexão e vocês se tornam bons amigos por anos, mesmo que vocês só se encontrem a cada cinco anos. Encontrei Mad Mike duas vezes e acho que nós somos bons amigos – muitas vezes é assim. Para mim, a música é tudo. Você pode curar seu corpo e sua mente com música.

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