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A música conecta

Alataj entrevista Mr.C

Por Alan Medeiros em Entrevistas 10.02.2017

Richard West merece um capítulo só para ele na história da Dance Music moderna. Sob a alcunha de Mr. C, ele quebrou paradigmas e ficou conhecido como um dos percursores do Acid House. Seu campo de atuação não foi limitado apenas à música eletrônica. Desde o século passado, Richard também é notado por seus trabalhos como músico, ator, rapper e cantor. Ao lado da banda The Shamen, emplacou hits eternos como Ebeneezer Goode e Move any Montain.

Os trabalhos de West também foram notados fora dos palcos. Durante 14 anos ele comandou ao lado de Layo (da dupla Layo & Bushwacka) o club The End em Londres. Recentemente, decidiu investir na carreira de ator e após algumas temporadas de estudo se mudou para Los Angeles, aonde atualmente divide sua agenda entre os compromissos ligados a House Music e as gravações. Mr. C é um verdadeiro ícone, o tipo de artista que sempre vai ter uma história interessante e enriquecedora para compartilhar. Por essa e por outras, essa entrevista abaixo é tão importante para todos os apaixonados pela cultura eletrônica.

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Em parceria com o D-EDGE, falamos com Richard às vésperas de sua passagem pela Mothership. O bate-papo que você lerá a seguir fala sobre o começo da vida clubber de West, diferenças da cena entre períodos e meditação. De quebra, ele ainda faz um paralelo do trabalho realizado até aqui. Confira:

Alataj: Olá querido Richard! Você celebrará em breve 30 anos por trás dos decks. Como você se sente? Como isso tudo começou? É difícil pular o tópico que todo mundo gosta, que é o fato de que você era leiteiro no inicio de sua carreira… Foram bons tempos? Por favor, nos conte um pouco mais.

​Ser um leiteiro foi um ótimo trabalho. Eu saia todas as noites da semana e naquela época os clubes fechavam às 3h. Chegava em casa às 4h, tomava um banho, tomava café da manhã e estava na leiteira às 5/5:30. Eu carregava meu carrinho com leite, pães, ovos e suco e entregava minha rodada ouvindo música no meu rádio portátil. Às 11h acabava minha rodada, levava meu carrinho de volta para o pátio e chegava em casa às 11h30. Eu comia, e então dormia o dia inteiro até às 20h, levantava, banho, comia e ia para o clube. Era um ótimo trabalho.

Eu já era um rapper bem conhecido quando eu era um leiteiro, era por isso que eu ia nos clubes. Foi assim que começou minha carreira musical. Fiz minha primeira faixa de House com o lendário Evil Eddie Richards no final de 1986, que foi lançada em 1987 e depois desse release que eu decidi desistir da entrega de leite e me tornar um DJ e promoter de festas.

Qual a diferença daquela época comparado a cena da música eletrônica atualmente? O impulso tecnológico influencia a forma como os jovens DJs pensam e criam? Em que sentido? As pessoas se conectam e transcendem de maneira diferente?

A cena da música eletrônica é muito maior agora. Em 1987, havia talvez apenas 2000 pessoas em toda Londres que eram fãs de House, agorá há milhões. Com a popularidade vem a mudança. Todo mundo quer ser um DJ agora, então a maioria dos novos DJs copiam os seus heróis para tentar ser como eles. Este é um grande problema, a maioria dessas novas crianças da cena estão fazendo música que soam todas como a mesma. É por isso que temos tal problema com DJs que também parecem o mesmo tocando genérico Deep House, Tech House e Techno. Agora também é muito fácil e barato fazer música, muitas das novas crianças que estão fazendo música estão usando o mesmo software, os mesmos plug-ins e muitas também estão usando presets que soam como as músicas que elas tem ouvido. Isso leva um artista verdadeiro ​a pensar fora da caixa e fazer algo fresco, que não soa como a maioria dos outros estão fazendo. Felizmente, há muitos novos artistas que são artistas ​verdadeiros​ e não querem se parecer com todo mundo. São essas crianças que são nosso futuro.

Estamos interessados em saber mais sobre as teorias do pensamento positivo e meditação que você é afeiçoado. Como a música nos deixa no estado alfa? É um estado que tudo é possível? Tem algo a ver com a visualização também?

Acho que todas as crianças de 7 ou 8 anos deveriam aprender meditação na escola. Deveria ser feito no começo e no final de cada dia de escola. Meditação aumenta o foco e aumenta os sentido tornando o aluno melhor na absorção de informações. Meditação também tira o medo, estresse, ansiedade, insegurança e mais, então é uma ferramenta incrível para a aprendizagem. Acredito que a forma que ensinamos na escola atualmente está errada em quase todos os níveis. Devemos também ensinar as crianças ferramentas de vida sobre como ser positivo, como visualizar o que elas querem, seus objetivos finais, ser consciente e como ser compassivo.

Visualização, crença e gratidão aumentam a lei da atração, então pode ajudar em todas as formas, todos os tipos de idade. Ouvir todos os tipos de músicas, não só música eletrônica em meditação.

Ela fixa você no momento, fazendo as pessoas pararem de pensar nos problemas de ontem e sim nas soluções de amanhã. Isso é atenção plena. Dance Music também tem uma magia especial com o ritmo. Som percussivo e luz se movendo entre 200-300 BPM alteram as ondas cerebrais, mudando elas do estado normal beta para o estado alpha e theta. Quando isso acontece, os neurônios da serotonina são liberados, o que nos faz sentir bem. Durante este estado de consciência nós abrimos um link direto e conectamos como um domínio de ideias. É por isso que a Dance Music é tão poderosa. As pessoas tem dançado ritmos tribais há mais de 50 mil anos como parte da evolução humana. Pessoas dançando ao som percussivo provavelmente continuarão nos próximos 50 mil anos.

Como ex-proprietário do grande club de West End, Londres, The End, nós gostaríamos de chamar atenção para uma pergunta super importante. Você acha que os clubes em todo o mundo estão sofrendo algum tipo de crise? Se sim, Por que isso está acontecendo e como você acha que é possível superar?

Sim, clubes ao redor do mundo estão sofrendo uma crise. Na verdade, a letra do meu novo single Stand Up é sobre este assunto. Essa crise começou a cerca de 15 anos atrás com os construtores imobiliários tentando forçar os clubes a sair dos locais do centro da cidade para que eles pudessem reconstruir estes locais como apartamentos de luxo ou shoppings. De 5 a 10 anos pra cá esse problema aumentou de forma significativa com donos de imóveis doando muito dinheiro para as autoridades locais, literalmente comprando o seu caminho para conseguir clubes fechados sob a pretensão de problemas com drogas, e é um problema que não irá embora com os fechamentos.

A única forma de superar os problemas é se os novos clubes abrirem em áreas mais industriais, como distritos de armazém, onde os construtores imobiliários não estão interessados em construir novos apartamentos. Nós apenas temos de ser espertos na forma como abrimos clubes futuramente.

Qual foi a razão para você começar a atuar? Isso foi provocado devido a sua mudança para LA?

Sou um artista e performer, então aprender como ser um ator foi um passo natural para eu continuar como artista nos meus anos posteriores. Tocar e produzir House e Techno é muito um jogo de homens jovens, mesmo que não tenha limite de idade para ser um DJ. Não quero passar o meus anos mais tarde atrás de uma mesa como esta, isso não vai satisfazer as minhas necessidades artísticas, então decidi estudar o método de atuação.

Depois de estudar toda semana durante seis anos, em Londres, eu decidi me mudar para LA e sim, foi para continuar minha carreira de ator. No entanto, estive em Los Angeles por sete anos e estou desfrutando fazer música e tocar mais do que nunca, então não sei quando vou fazer a transição para um ator em tempo integral. Estou supondo que nos próximos cinco anos, mas se eu continuar desfrutando tocar tanto quanto agora, poderia demorar um pouco mais.

Como você e sua perspectiva mudaram após 30 anos de criação? Você vê diferenças em si mesmo como artista e em sua abordagem à música? O que a era do The Shamen trouxe à sua vida e como ela moldou você como artista?

Minha perspectiva como um artista está sempre mudando e é muito diferente agora do que era trinta anos atrás. Naquela época eu só queria me divertir e ser criativo. Continuo querendo fazer isso, mas como um estadista mais velho da indústria da Dance Music sinto que também tenho responsabilidades. Isso sai de muitas maneiras. Em primeiro lugar, minha música tem que ter significado, por isso quero dizer que as músicas têm que ter um tema que pode inspirar a próxima geração de DJs e produtores. Como DJ eu sempre pensei que era meu trabalho ajudar as pessoas a celebrar a vida. Entrar no momento e esquecer os problemas do cotidiano. Agora eu sinto que minha responsabilidade é ainda maior pelo exemplo de encorajar a nova geração a serem artistas reais, não apenas pessoas que copiam a música dos outros, mas sim a criarem arte que possa inspirar e tocar as pessoas espiritualmente.

Estar no Shamen foi uma enorme influência na minha música e também no meu trabalho como DJ. Estar em uma banda pop tão grande também trouxe responsabilidade e poder de influenciar a juventude de uma forma espiritual e positiva ao mesmo tempo tendo diversão fazendo arte.

Um pequeno conselho para os jovens que estão começando seu caminho na cena da música eletrônica: 

É importante ser um verdadeiro artista. Isto significa empurrar-se para ser diferentes dos outros DJs e produtores. Arte é sobre tomar suas experiências de vida criando algo que possa inspirar os outros. Arte é o agente da evolução humana. Então, meu conselho é seja original e também aprecie fazer a sua arte, você tem que se divertir com ela. Se você estiver se divertindo com ela, as pessoas também se divertirão com isso e com você. Isso faz este trabalho valer a pena e você acaba se destacando do resto, ganha longevidade na sua carreira. Depois de 30 anos eu ainda estou fazendo música de vanguarda. Se você copiar os outros, sua música vai saturar muito rapidamente e depois disso, pra onde você vai?​

A música conecta.

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